Especialista diz que Capital deve promover campanhas de conscientização e aumentar o foco da gestão no atendimento nas UBS
A maneira de resolver o longas filas para cirurgias eletivas e a superlotação dos hospitais de Campo Grande exige um trabalho preventivo e de excelência no atendimento à população da Capital nas unidades básicas de saúde (UBS), segundo avaliação do gerente administrativo do Hospital Universitário Maria Parecida Pedrossian (Humap), Carlos Alberto Coimbra .
Em Campo Grande, existem duas unidades principais que prestam atenção básica à saúde, a Unidade de Saúde da Família (USF), as UBS e as equipes multiprofissionais do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Primária à Saúde (NASF-AP), que atuam dentro da USF. .
Mesmo com o município tendo mais unidades responsáveis pela atenção primária à saúde, segundo Coimbra, é possível observar que a maioria dos pacientes que chegam para serem atendidos nos setores de média e alta complexidade poderiam receber tratamento eficaz nas unidades básicas municipais. , sem necessidade de internação hospitalar.
“Acho que o município precisa olhar para a atenção básica, porque, quando chegam pacientes que deveriam ser tratados de média e alta complexidade, 80% desses pacientes já poderiam ser tratados se tivéssemos uma atenção básica que funcionasse, um médico da família que obras”, declarou Coimbra.
A fala do doutor em Desenvolvimento Local também destaca um problema de transferência de responsabilidade no setor saúde, que deve ser atendida dentro dos seus parâmetros de serviços e especialidades.
“A saúde é tripartite, porque está dividida entre os governos federal, estadual e municipal. Às vezes isso fica confuso ou as responsabilidades são transferidas entre uma pessoa e outra. O município deveria focar mesmo na atenção básica, o Estado deveria focar na média e alta complexidade, que são os hospitais, os grandes centros de atendimento, e o governo federal nas ações e estratégias de saúde pública. Mas às vezes isso não acontece”, declarou o gestor público.
Segundo a carteira de serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) de Campo Grande, da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), é a porta de entrada do sistema setorial, que é composto por uma equipe multidisciplinar que abrange toda a população, integrando e coordenando o cuidado , atendendo às necessidades de saúde das pessoas em seu território de atuação.
As UBS e USF devem desempenhar um papel central na garantia do acesso a cuidados de saúde de qualidade à população, pois representam o contacto preferencial dos cidadãos com os serviços básicos de saúde.
No entanto, o Correio do Estado tem monitorado a falta de condições básicas no atendimento nas USFs nos últimos anos, por exemplo, quando diversas UBS enfrentaram escassez recorrente de dipirona, bromoprida e alguns analgésicos.
Em reportagem do Correio do Estado realizada no ano passado, a Sesau informou que pelo menos 15% dos medicamentos oferecidos na rede de atendimento da Capital faltavam nos postos de saúde.
Segundo a secretaria, há algumas faltas pontuais, “devido à indisponibilidade do produto ou matéria-prima no mercado e estagnação no processo de compra, devido a pedidos de realinhamento de preços”.
Segundo alega a Sesau, “o fornecimento de medicamentos no município é regular desde 2017, acompanhando a reorganização dos processos de compras. No ano anterior, 2016, o estoque de medicamentos ficou abaixo da chamada reserva técnica, com menos de 20% dos itens disponíveis”, disse em nota na época.
Em abril deste ano, foi realizada audiência pública na Câmara Municipal de Campo Grande para discutir a falta de medicamentos nos postos de saúde.
Dada a necessidade de um atendimento de qualidade na atenção básica, Coimbra entende que a gestão municipal deve se propor à realização de pesquisas mais amplas para entender a extensão do seu atendimento à população de Campo Grande.
“A gestão deve realmente saber quem são seus clientes em Campo Grande. Hoje há dados de que Campo Grande tem 1 milhão e 700 mil cartões SUS [Sistema Único de Saúde]. Mas onde estão essas pessoas? Quem são essas pessoas? Acho que o poder público precisa saber. Como são esses idosos? Existem diferenças muito grandes entre um idoso de hoje com 65 anos, da classe social A, e um idoso da classe social C, I e D. Para saber se essa pessoa realmente cuidou da sua vida ali para chegar à velhice, isso é tudo que o município precisa de compreender para poder promover ações verdadeiramente de saúde pública para este tipo de população”, disse Coimbra.
Sobre a falta de medicamentos, a Sesau informou atualmente que conseguiu resolver a falta de dipirona.
SUPERLOTAÇÃO
A falta de trabalhos de conscientização e de campanhas, que fazem parte da atenção básica à saúde, de orientação à população também traz consequências para a superlotação dos hospitais de Campo Grande.
Segundo o gerente do Humap, hospitais como Santa Casa e Universitário têm seus atendimentos voltados para urgências e emergências, por acidentes, principalmente de trânsito, mas essas unidades de saúde deveriam ter um foco mais amplo no atendimento. em cirurgias eletivas.
“Hospitais como Santa Casa e Hospital Universitário, e não diferente do Hospital Regional, 75 a 85% dos atendimentos são direcionados para urgência e emergência, quando essa pirâmide deveria ser o oposto. Os hospitais deveriam cobrir 25% a 30% de urgências e emergências e 80% a 75% de cirurgias eletivas, o que teria impacto real na redução de filas para esse tipo de atendimento. Quando pegamos um hospital como a Santa Casa, hoje, seu atendimento de urgência e emergência é quase todo atendimento de acidentes de trânsito”, declarou.
A gestão municipal de saúde poderia ajudar a mudar esse panorama através da implementação de campanhas, como a Lei Seca.
“Não vimos campanha de combate, percebemos que não há efetividade da Lei Seca no nosso município. Com campanhas eficazes, poderia impactar na redução de atendimentos, porque os casos de urgência e emergência dificultam muito o comparecimento às cirurgias eletivas”, disse Coimbra.
FILAS NO SUS
Acidentes impactam a longa fila de espera por cirurgias ortopédicas em Campo Grande.
Com filas atingindo 13.981 pessoas aguardando exames e cirurgias ortopédicas no SUS, o que pode deixar os pacientes aguardando até 16 anos por uma primeira consulta nesta especialidade, segundo dados do Sistema de Regulação (Sisreg), desenvolvido pelo DataSUS.
Apenas dois estabelecimentos de saúde de Campo Grande estão autorizados e habilitados a realizar esse tipo de cirurgia ortopédica no Estado pelo SUS, a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Universitário.
Recentemente, devido à grande procura, o Hospital Adventista do Pênfigo de Campo Grande também foi autorizado a realizar esse procedimento.
Segundo dados do DataSUS, de 2014 a 2023, a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Universitário realizaram 542 procedimentos ortopédicos de alta complexidade.
Entre esses anos relatados, a Santa Casa realizou apenas uma cirurgia ortopédica em 2014 e duas em 2017 e 2018. O Hospital Universitário realizou 30 cirurgias no período da pandemia (de 2020 a 2022) e 16 no ano passado.
No total de procedimentos ortopédicos realizados nos hospitais do MS neste período de 10 anos, o Hospital Regional realizou 199 cirurgias e a Santa Casa realizou 343 procedimentos.
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