Após um ano de tramitação e muita polêmica, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia, que isenta os partidos de multas eleitorais por descumprimento de cotas, foi promulgada em sessão que durou menos de 15 minutos, presidida pelo vice-presidente do Congresso, deputado Marcos Pereira.
O texto da proposta não apresenta o impacto da medida, mas a Organização Não Governamental (ONG) Transparência Partidária estima o volume em até R$ 23 bilhões.
— É fundamental, portanto, que os partidos políticos sejam saudáveis e operem num ambiente de segurança jurídica em que possam planear o seu tempo e executar as suas estratégias de busca em busca do sucesso político eleitoral. Do ponto de vista da representação política, esta emenda constitucional também reforça as ações afirmativas que visam representar o mosaico social — disse Pereira na sessão flash.
O deputado é candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara e também é presidente do Republicanos.
Entre os parlamentares, além de Pereira, apenas os senadores Eduardo Gomes (PL-TO) e Hiran (PP-RR) estiveram presentes no plenário. Apenas o vice-presidente falou.
— Vale destacar a importância das ações afirmativas serem desenvolvidas, discutidas e aprovadas pelos legisladores. Afinal, devem ser fruto de um debate político legítimo, no qual sejam levados em conta os aspectos práticos da implementação dessas ações, que devem ser de fácil compreensão por toda a sociedade e simples de execução pelos partidos políticos — disse Pereira.
Processamento
No Senado, a aprovação da PEC ocorreu em meio à pressão dos presidentes dos partidos, que queriam aprovar as novas regras a serem aplicadas nas eleições de 2024, cujo período de campanha começou na última sexta-feira.
Apenas Novo, que tem senador, desaconselhou a proposta. O governo liberou a bancada e a oposição orientou o voto favorável.
Os líderes partidários queriam que as novas regras entrassem em vigor o mais rápido possível para regularizar a sua situação perante o Tribunal Eleitoral a tempo das eleições municipais deste ano. O texto interessa a quase todos os partidos representados no Congresso e conta com o apoio do PL e do PT.
A proposta abre caminho para uma ampla anistia às irregularidades cometidas pelos partidos, que inclui o descumprimento da cota de 30% para candidatas mulheres e candidatas pretas e pardas, o que corresponde à sua proporção no eleitorado, que hoje representa algo próximo de 50 %. Além disso, a PEC altera a forma de aplicação da cota racial e passa a definir o percentual em 30%.
Obstáculos
Apesar de contar com amplo apoio dos partidos, a proposta enfrentou dificuldades para ser aprovada na Câmara, pois enfrenta forte resistência da sociedade civil organizada. Na Câmara, apenas o partido Novo e o bloco PSOL-Rede votaram contra a PEC, mas o texto estava parado na Câmara desde o ano passado porque o Senado sinalizou que iria arquivar a medida.
Uma das principais mudanças foi a possibilidade de parcelamento de multas partidárias. Além disso, existe uma modalidade de “financiamento” das dívidas das partes, com pagamentos que duram até 180 meses.
Outro trecho da PEC permite que os partidos que descumpriram a cota racial em 2020 e 2022 compensem a distorção nas quatro disputas seguintes, a partir de 2026, escapando assim da punição.
No que diz respeito às candidatas, o novo texto retira o trecho que aliviava os partidos que não cumpriam as cotas de repasses às mulheres, porém, grupos focados na transparência que acompanham a tramitação da proposta apontam que a iniciativa ainda permite a anistia nesses casos.
Entenda os principais pontos da PEC da Anistia:
O texto estabelece que os partidos deverão destinar pelo menos 30% dos recursos do Fundo Partidário e Eleitoral para candidaturas de pessoas pretas ou pardas. Anteriormente, o projeto previa piso de 20%. Se aprovado pelo Senado antes das eleições, esse trecho agora será aplicado nas disputas que ocorrerão em outubro.
Hoje o Tribunal Superior Eleitoral define que a proporção deve ser igual à participação de negros entre os candidatos, algo que fica próximo de 50%;
A proposta abre brecha para que esses recursos possam ser destinados a apenas um candidato, deixando outras candidaturas de mulheres e negros com poucos recursos de campanha;
Os partidos também terão liberdade para escolher uma região específica para enviar fundos de campanha;
O texto também desobriga os partidos de pagarem multas ou de terem o Fundo Partidário Eleitoral suspenso por irregularidades nas prestações de contas realizadas antes da promulgação da emenda;
Os partidos e federações partidárias ganharão imunidade tributária, ou seja, ficarão isentos do pagamento de impostos, como acontece atualmente com entidades religiosas e organizações assistenciais;
Será criado um Programa de Recuperação Fiscal (Refis) para que os partidos regularizem suas dívidas. A proposta prevê que as entidades ficarão isentas de juros sobre débitos acumulados e multas. Desta forma, a correção monetária só será aplicada aos valores originais da dívida;
A proposta também flexibiliza as atuais regras de prestação de contas e dispensa os partidos de apresentarem recibos no caso de doações de recursos do Partido e do Fundo Eleitoral por meio de transferências bancárias feitas pelo partido a candidatos e de doações recebidas por meio do PIX.
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