Sem margem no Orçamento e com aumento de despesas obrigatórias, o governo quer que os grandes fundos de pensão estatais retomem os investimentos em infraestrutura, especialmente em projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O tema foi discutido nesta quarta-feira entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com representantes da Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Postalis (dos Correios) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O governo está em discussão para alterar a política de investimentos desses fundos, que se tornou mais rigorosa após a experiência malsucedida dos fundos de pensão durante as gestões petistas no passado.
Uma proposta de resolução do órgão regulador do setor, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), à qual O Globo teve acesso, prevê a inclusão de debêntures de infraestrutura entre as modalidades de investimento que podem ser feitas pelos fundos.
Papéis do setor ambiental também fazem parte do cardápio de investimentos, como o crédito de descarbonização e o Fiagro (fundo de investimento no agronegócio).
Outra mudança é permitir novamente que fundos de pensão invistam em imóveis até o limite de até 8% de seus recursos, inclusive na compra e manutenção de sede própria da entidade e exclusão da regra atual da obrigatoriedade de venda de todos os imóveis até dezembro de 2030.
Por outro lado, a proposta proíbe investimentos mais arriscados, como criptomoedas, direta e indiretamente.
Para evitar a repetição de investimentos passados, que resultaram em CPIs no Congresso, operações da Polícia Federal e sucessivos prejuízos aos trabalhadores, a Previc sugere medidas de endurecimento dos Fundos de Investimentos de Participação (FIPs), utilizados pelos fundos de pensão.
Entre elas, reduzir o limite de alocação de 15% para 10%, reduzir o limite de diversificação de 25% por entidade (atualmente máximo de 100% para quatro entidades) para 40% dos investimentos totais de todas elas no FIP.
Segundo a Previc, 66% das reservas previdenciárias, que somam R$ 1,3 trilhão de um conjunto de 272 entidades, são administradas por 3.602 fundos de investimento.
O órgão regulador propõe ainda a diferenciação entre os membros dos comités de investimento com poder de decisão e aqueles que apenas podem opinar, de forma a proporcionar maior segurança jurídica na individualização da conduta dos gestores de fundos de pensões.
A proposta de alteração nas regras de investimento em fundos de pensão foi encaminhada pela Previc ao Ministério da Fazenda e precisa ser encaminhada ao Conselho Monetário Nacional (CMN).
O texto sugere a revisão de resolução do CMN, aprovada em dezembro de 2022.
A questão parou na Secretaria de Política Económica do Tesouro, que apontou a necessidade de primeiro fazer uma mudança significativa nos fundos de pensões: contabilizar não só os activos, mas também os passivos a valores de mercado.
Este método determina o volume diário de valores, independentemente das variações típicas do mercado.
Técnicos governamentais envolvidos contestam, argumentando que esta medida poderia ser tratada posteriormente pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPS), responsável por definir diretrizes para o setor. Ou seja, esta não seria uma competência do CMN.
Segundo ofício da Previc, obtido pelo GLOBO, a permissão para investimentos de fundos de pensão em debêntures de infraestrutura dificulta “a formação dos recursos necessários à execução do referido programa de investimentos do governo federal (Novo PAC)”.
A legislação actual concede benefícios fiscais para este tipo de papel, emitido por 17 sectores, com excepção do sector petrolífero.
A Previc afirma ainda que as medidas estão inseridas no programa do atual governo, “visando cumprir compromissos e metas em favor da sociedade, do desenvolvimento do país e da expansão do setor fechado de previdência complementar, mantendo a saúde das reservas previdenciárias e a proteção das famílias”.
Nas administrações passadas do PT, a entrada dos fundos de pensão em projetos governamentais resultou em CPIs, operações da Polícia Federal e sucessivos déficits a serem cobertos durante anos pelos participantes (ativos e aposentados).
Entre as maiores, apenas a Previ não sofreu prejuízo.
Em 2016, a Operação Greenfield da Polícia Federal registrou perdas de pelo menos R$ 8 bilhões devido a irregularidades em fundos de pensão.
A operação foi encerrada em 2020 sem conclusão, após denúncias de abuso de autoridade, mas gerou 180 ações em andamento na Justiça Federal de Brasília.
No caso do Postalis, por exemplo, o déficit chegou a R$ 15 bilhões, dívida a ser paga pelos Correios e pelos trabalhadores nos próximos 30 anos.
O plano de equacionamento foi assinado em janeiro deste ano. É uma exigência da legislação em caso de défice.
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