Condomínio de luxo Nasa Park foi o responsável pela barragem que rompeu na manhã de ontem e deixou um rastro de destruição
A barragem de uma barragem que ficava dentro do condomínio de luxo Nasa Park, na divisa dos municípios de Campo Grande e Jaraguari, rompeu na manhã de ontem e deixou um rastro de destruição por onde passou, danificando casas, matando animais e acabando em plantações.
Segundo o Instituto Ambiental de Mato Grosso do Sul (Imasul), o condomínio já havia sido notificado duas vezes por falta de manutenção no local.
O incidente ocorreu por volta das 9h30 desta terça-feira. Quando a barragem rompeu, a água da barragem carregou tudo em seu caminho, inclusive danificando um trecho da BR-163, onde o guarda-corpo e a tubulação foram destruídos.
A água quase feriu pessoas, pois atingiu propriedades rurais próximas ao condomínio. Os pequenos produtores dizem que tiveram pouco tempo para arrumar as coisas e fugir para regiões mais altas.
Segundo o Imasul, a primeira notificação por falta de manutenção na barragem do condomínio ocorreu em 2019 e não há comprovação, segundo o órgão, de que a irregularidade tenha sido sanada, já que, no ano passado, uma nova fiscalização constatou acúmulo de mato nas saídas da barragem, o que indica falta de cuidado.
“A notificação especificou quatro itens que o responsável pela barragem deverá cumprir. A primeira foi a regularização ambiental, que incluiu a obtenção de licença para a barragem. O segundo item envolveu a realização de manutenções na barragem, como limpeza e retirada de excesso de vegetação. A terceira exigiu a apresentação do plano de segurança da barragem. E o quarto item previa a elaboração de um plano de ação emergencial, a ser aplicado em caso de acidente”, informou o Imasul, por meio de sua assessoria de imprensa.
Apesar do alerta, também não há comprovação, até o momento, de que essas determinações tenham sido cumpridas pelo condomínio, onde nenhuma casa foi atingida pelo rompimento da barragem.
O Correio Estadual Ele tentou contato com um dos parceiros do Parque da NASA para comentar a situação, porém, até o fechamento desta edição, ainda não havia respondido à reportagem.
FORÇA TAREFA
Após o rompimento da barragem, foi montada uma verdadeira força-tarefa onde ocorreu a tragédia ambiental. Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Defesa Civil, técnicos do Imasul e representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Agência Estadual de Gestão Empresarial (Agesul) e do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran). -MS) estavam no local.
O Corpo de Bombeiros trabalha na busca por possíveis vítimas da tragédia, enquanto a Polícia Civil investiga as causas do rompimento da barragem. O Imasul e o Ibama avaliam os impactos ambientais, já que o rio de lama arrastou vegetação e tudo que encontrou por vários quilômetros.
Como a água atingiu um trecho da BR-163 e fechou a rodovia por várias horas, também foram chamados técnicos da concessionária CCR MSVia, além de equipes da Agesul e do Detran-MS, que tiveram que criar um trajeto alternativo por outra estrada.
VÍTIMAS
Na região onde ocorreu o rompimento da barragem, há de 10 a 12 casas que foram afetadas pela força da água que desceu da barragem do Nasa Park.
O relatório do Correio Estadual esteve presente na zona rural de Jaraguari, onde a água passava levando tudo. A produtora rural Gabriele Lopes, que mora próxima à BR-163, relatou que não estava em casa quando a água levou vários móveis, animais criados pela família e a plantação de milho e mandioca, que têm contribuído com parte da renda para mais de 30 anos. .
Por questão de minutos, a família de Gabriele não foi arrastada pela enchente. Seu irmão Thiago Lopes foi alertado por uma ligação de um vizinho de que a barragem havia cedido.
Em poucos minutos, Thiago ouviu o barulho de galhos batendo e logo reuniu os sobrinhos e a mãe para sair de casa antes que a enchente chegasse.
“Não sobrou nada dentro da minha casa, o freezer e a geladeira estavam carregados. Queremos saber o que as autoridades vão fazer, porque esta foi uma tragédia anunciada e ninguém tomou medidas para fechar este condomínio. Como vou explicar para meu filho autista: ‘Olha, a casa da sua avó sumiu, a casa que você vinha brincar todos os dias sumiu’”, lamentou.
Além dos eletrodomésticos, Gabriele perdeu uma grande horta e uma fazenda de porcos. Thiago Lopes e a casa da mãe estavam com todos os imóveis carregados.
“Algo que levamos anos para construir desapareceu em questão de segundos. E quem garante que conseguiremos reconstruir? Meu avô me deu um quarto de princesa quando fiz 15 anos e ele se perdeu em segundos, enquanto o condomínio nem conseguiu avisar que a barragem havia cedido”, relatou Gabriele, visivelmente emocionado.
A moradora que notificou sua família foi alertada por um funcionário do Parque da Nasa que viu a barragem romper. Rogério Pedroso dos Santos, 48 anos, assim que recebeu a ligação, teve que avisar às pressas ao filho Igor Pedroso dos Santos, 14 anos, que estava sozinho em casa, para que ele encontrasse um lugar alto e corresse.
“O cara que trabalha na NASA me avisou, liguei para meu filho e falei ‘corre para cima do Amigão’, que é em direção à BR, e quando ele saiu de casa só ouviu a água chegando e quebrando tudo. [Só não aconteceu o pior] pelo próprio Deus”, disse Rogério, que morou na fazenda por 48 anos.
Em sua residência, a perda foi total. Ao entrar na casa, uma geladeira invertida, adquirida recentemente pela família, é a primeira coisa que se vê. Um caminhão usado na fazenda teve o motor novo, que custou R$ 30 mil, inundado.
Animais como gansos, galinhas e porcos, além de uma piscicultura da propriedade, foram levados pela lama.
“O estrago aqui foi grande, dentro de casa perdi a geladeira, a máquina de solda, a televisão ligada, tudo. A força da água derrubou a porta”, disse Rogério.
Sem a água do poço, que ficou suja, Rogério relatou que as autoridades não compareceram para prestar apoio. “Ninguém falou, ninguém respondeu [com as consequências]. Perdemos o poço, esta água não é potável.”
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