O Parlamento venezuelano, controlado pelo chavismo, adiou o debate sobre a polémica lei “contra o fascismo”, termo usado para descrever a oposição e que os críticos veem como uma forma de incriminar os adversários do governo.
O texto faz parte de um pacote de leis solicitado pelo presidente Nicolás Maduro, que denuncia uma tentativa de golpe de Estado, em meio a questionamentos sobre sua reeleição para um terceiro mandato de seis anos, até 2031.
A maioria absoluta do chavismo – 256 dos 277 deputados da Assembleia Nacional (AN) – já aprovou um primeiro texto para regulamentar as ONG e também pretende legislar sobre as redes sociais, que Maduro diz serem utilizadas para gerar violência e lançar “campanhas de ódio”. “.
O presidente promove boicote ao WhatsApp e suspende a rede social X, do magnata Elon Musk, seu novo inimigo. A medida, que inicialmente durava 10 dias, continua em vigor, conforme apurou a AFP.
Lei “avançada”
O presidente da AN, o poderoso líder Jorge Rodríguez, suspendeu a sessão na noite desta segunda-feira (19). Não é raro que reuniões parlamentares sejam canceladas à última hora e sem explicação.
Em pauta estava a “Lei contra o fascismo, o neofascismo e expressões similares”, que inclui a proibição de festas e multas de até 100 mil dólares (R$ 545,4 mil) para empresas, organizações ou meios de comunicação que financiem atividades ou divulguem informações que ” incitar o fascismo”.
É uma norma “avançada”, disse Maduro na segunda-feira em uma reunião de seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). “É preciso o melhor das leis europeias em relação ao fenómeno do nazismo e do fascismo e adaptamo-lo à Venezuela”.
Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de favorecê-lo. A oposição liderada por María Corina Machado denuncia fraudes, reivindica a vitória do seu candidato, Edmundo González Urrutia, e afirma ter nas urnas provas do seu triunfo.
Os protestos que eclodiram após a divulgação do resultado oficial deixaram 25 mortos no país caribenho – dois deles soldados -, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, que as autoridades chamam de “terroristas”.
“Não permitiremos que o fascismo tome o poder na Venezuela”, prometeu Maduro, que afirma que Machado e González Urrutia estão por trás de uma tentativa de golpe de Estado e apela à sua prisão.
“Viver sem X”
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu às autoridades que parassem de aprovar “leis que prejudicam o espaço cívico e democrático”, como a lei das ONG, que exige que estas organizações se registem num registo local e apresentem uma “lista de doações recebidas com identificação completa dos doadores, indicando se são nacionais ou estrangeiros”.
Já aprovado na semana passada, o descumprimento pode resultar em multas de até 10 mil dólares (54,5 mil).
“Eles buscam ter um argumento jurídico para que a repressão, para que a censura passe como aplicação da lei e não como arbitrariedade”, disse à AFP o jornalista Melanio Escobar, da ONG Redes Ayuda.
Segundo Escobar, trata-se de uma “ferramenta” para “punir a liberdade de expressão” no país.
E na mira estão as redes sociais, cruciais para o acesso à informação na Venezuela, num clima de censura e autocensura nos meios de comunicação tradicionais e de bloqueio de portais de informação crítica.
A rede social X é, de facto, o principal canal de divulgação de mensagens da oposição.
Maduro também era um usuário frequente desta plataforma, mas publicou nela pela última vez em 8 de agosto, assim como empresas e órgãos estatais que migraram para os canais do Telegram.
“A Venezuela pode viver sem o
O último episódio de “Superbigote”, cartoon de propaganda que retrata Maduro na televisão estatal como um super-herói, mostra o presidente lutando contra Elon Musk, caracterizado como um demônio.
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