As empresas estatais chinesas aumentaram o seu apetite por projetos de infraestrutura no Brasil. Nos últimos meses, vários novos empreendimentos foram anunciados e a carteira de investimentos em concessões e empreendimentos no setor energético já ultrapassa R$ 280 bilhões, segundo levantamento da Poder360.
Brasil e China comemoraram nesta quinta-feira (15.08.2024) 50 anos de relações diplomáticas, retomadas em 1974. Desde então, o interesse do país asiático em investir no Brasil cresceu e deu um salto nos últimos 10 anos, com a estatal chinesa empresas de propriedade abocanhando diversas concessões federais e estaduais de energia e infraestrutura.
A lista de projetos inclui negócios nas áreas de geração e distribuição de energia elétrica, além de obras de infraestrutura rodoviária, como ferrovias e rodovias. Há também investimentos chineses na exploração (pesquisa) de petróleo e gás natural.
A State Grid, gigante energética da China, detém a maioria dos investimentos. O conglomerado controla a CPFL (BVMF:) (Companhia Paulista de Força e Luz), que detém concessões para distribuição de energia elétrica, linhas de transmissão e diversos ativos de geração.
O grupo também controla a RGE (Rio Grande Energia), distribuidora no Rio Grande do Sul. Até 2028, os chineses planejam investir R$ 28,4 bilhões na CPFL para melhorar as redes de distribuição de suas concessões em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
No segmento de transmissão, a State Grid ganhou o maior lote no leilão realizado em dezembro pelo governo em 2023. Vai construir uma linha de ultra-alta tensão, ligando o Maranhão a Goiás, para transportar energia gerada por fontes eólica e solar no Nordeste . O investimento projetado é de R$ 18,1 bilhões.
O projeto foi concedido à State Grid por 30 anos. Inclui a construção de 1.513 km de linhas de transmissão de corrente contínua e manutenção de outros 1.468 km nos Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás. Tem um prazo de conclusão de 72 meses.
Além do megaprojeto, a State Grid possui 24 concessionárias de transmissão no país, incluindo subsidiárias integrais e joint venturesque totalizam mais de 16 mil quilômetros de linhas.
Além dos investimentos na CPFL e na nova linha de ultra-alta tensão, a State Grid projeta mais R$ 150 bilhões em investimentos no país nos próximos anos, somando aportes em linhas de transmissão existentes e em novos projetos de geração, com foco em fontes renováveis. No total, o grupo pretende investir R$ 200 bilhões no país.
Mais projetos de energia
Outras estatais chinesas do setor estão ampliando os investimentos no Brasil. A Energy China anunciou em 2023 a intenção de investir US$ 10 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões na época) em projetos de energia renovável e geração de hidrogênio verde no país.
Em 2024, a CTG (Companhia Três Gorgantas), que opera a superhidrelétrica chinesa Tres Gorges, comemora 10 anos no Brasil. A estatal comprou diversas hidrelétricas brasileiras em 2010 e atualmente detém a concessão de 17 usinas.
Para os próximos anos, a CTG projeta R$ 3 bilhões para aumentar a eficiência de suas hidrelétricas de Ilha Solteira (SP) e Jupiá (SP/MS). A empresa também tem planos para novas usinas eólicas e solares no Brasil, com investimento estimado de R$ 6,4 bilhões.
A SPIC, outra estatal chinesa de energia, anunciou em junho deste ano um investimento de R$ 780 milhões para a construção de um complexo eólico de 105,4 MW (megawatts) de capacidade instalada, na região de Touros, no Rio Grande do Sul. Norte.
No setor petrolífero, em 2023 a Cnooc conquistou a concessão de 3 blocos exploratórios em parceria com a Petrobras (BVMF:) e a Shell (NYSE:) na bacia de Pelotas, no sul do Brasil. A estimativa é que o consórcio invista cerca de R$ 100 milhões na pesquisa de reservas de petróleo e gás na região.
Concessões estaduais
Este ano, os chineses conquistaram uma importante concessão de infraestrutura do Estado de São Paulo: a construção do Trem Intercidades São Paulo-Campinas. O projeto foi adjudicado pela CRRC (China Railway Construction Company) em parceria com o grupo brasileiro Comporte em leilão realizado em fevereiro.
O projeto ferroviário terá investimento total de R$ 14,6 bilhões. Inclui o trem de passageiros de média velocidade de São Paulo a Campinas, um trem intermetropolitano de Jundiaí a Campinas e a concessão da linha 7-Rubi do sistema ferroviário metropolitano da Grande São Paulo.
Controlada pelo governo chinês, CRRC é listada pela revista Forbes como uma das 500 maiores empresas do mundo. A estatal faturou US$ 32,3 bilhões no ano passado e aumentou sua participação na América do Sul. No Brasil, a empresa chinesa já forneceu trens para o Metrô do Rio e é fabricante dos trens da linha 15-Prata do Metrô de São Paulo.
Em parceria com outra empresa chinesa, a CCCC (China Communications Construction Company), a CRRC detém mais uma concessão estatal: a construção e operação da ponte Salvador-Itaparica, na Bahia. O projeto ligará a região metropolitana de Salvador à Ilha de Itaparica.
O megaprojeto de infraestrutura está orçado atualmente em R$ 9 bilhões, sendo 80% provenientes do consórcio chinês e 20% do governo baiano. A 1ª etapa da obra começou em janeiro deste ano.
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