A Câmara dos Deputados, o Senado e 11 partidos (PT, PL, União Brasil, PP, PSD, PSB, Republicanos, PSDB, PDT, MDB e Solidariedade) interpuseram recurso nesta quinta-feira, 15, pedindo a suspensão da liminar apresentada no dia anteontem pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que interrompe a execução de todas as alterações obrigatórias. O PSB, um dos partidos que pediu a derrubada da decisão, era o partido ao qual Dino era filiado antes de deixar a política partidária para ingressar na Corte.
“As decisões monocráticas, proferidas fora de qualquer contexto de urgência que justificasse uma análise isolada e não colegiada, transcenderam em muito o debate em torno da suposta falta de transparência das chamadas ‘emendas do Pix’, e também atingiram uma extensão exorbitante sobre as chamadas ‘Alterações da Comissão’ – RP8?, que já haviam sido questionadas em ação anterior, de relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, que estaria, portanto, preparado para fazê-lo (ADPF 1.094), e as Alterações Obrigatórias Individuais, que já havia sido fiscalizado pela ministra Rosa Weber, sem qualquer indício de qualquer tipo de falta de transparência e rastreabilidade”, diz a nota assinada pelas Casas Legislativas e oito partidos.
Divisão
O PT estava dividido sobre se deveria apoiar o apelo do Congresso. A parte decidiu aceitar o documento, mas depois de já ter sido arquivado. Segundo apurou o Estadão, a presidente nacional do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), não quis assinar a peça devido a “diferentes posições dentro do partido”. Quem representa o partido no documento são o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), e o líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG).
Segundo nota distribuída pela Presidência da Câmara, “em uma única decisão monocrática”, o STF desmantelou quatro emendas constitucionais em vigor há quase 10 anos, aprovadas em três legislaturas.
Saída
O relatório apurou que o Congresso também estuda uma medida para disciplinar melhor a utilização das emendas, dando especial prioridade às que exigem pagamento obrigatório e que garantem o cumprimento das normas constitucionais mínimas da Saúde e da Educação. A proposta dos líderes é construir uma solução que inclua Parlamento e governo e que atenda às demandas do Judiciário.
Conforme antecipou o Estadão/Broadcast, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicou que conversaria com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para discutir a decisão de Dino.
Em reunião na noite de quarta-feira, 14, Lira e lideranças partidárias falaram em recorrer à Justiça para tentar derrubar a determinação do magistrado, mas buscavam o apoio de Pacheco.
Decisão
Esta quarta-feira, Dino suspendeu todas as alterações parlamentares ao Orçamento da União até que o Legislativo crie regras para a execução destes recursos que cumpram requisitos de transparência, rastreabilidade e eficiência.
Deputados e senadores chegaram a prever para anteontem a votação de alterações nas chamadas emendas do Pix para dar mais transparência nas transferências. A análise ocorreria na Comissão Mista de Orçamento (CMO), mas o item foi retirado da pauta para inclusão da medida provisória do Judiciário, que acabou rejeitada.
O Congresso foi pego de surpresa. A nova decisão de Dino afeta todas as emendas individuais e também as emendas da bancada estadual. O ministro já havia pedido mais transparência nas alterações das comissões, que não são vinculativas.
A ideia é delimitar o objeto das alterações do Pix, ou seja, explicar para que finalidade o dinheiro está sendo utilizado (para qual obra específica ou política pública). Hoje, não está claro como as prefeituras estão utilizando os recursos, embora seja possível identificar o nome do deputado que enviou a emenda.
As emendas parlamentares são recursos do Orçamento da União que podem ser direcionados pelos deputados e senadores aos seus redutos eleitorais. Hoje, são três modalidades: emendas individuais, a que cada deputado e senador tem direito, emendas de bancada estadual e emendas de comissão. Os dois primeiros são obrigatórios, ou seja, o pagamento é obrigatório, embora o governo controle o ritmo de liberação.
Princípios
Especialistas em Direito Financeiro e em Direito Constitucional consultados pelo Estadão avaliam que, embora a atual sistemática de implementação de emendas esteja prevista nos regimentos internos das Casas Legislativas, ela vai contra a Constituição. Segundo os advogados, foram violados princípios constitucionais como publicidade, moralidade e eficiência.
“A transparência não foi estabelecida como princípio constitucional, mas está intrinsecamente ligada aos princípios constitucionais. Além disso, está inscrita na própria noção de Estado Democrático de Direito”, afirmou o advogado Carlos Eduardo Braga.
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