O Senado aprovou, por 70 votos a 2, o projeto de renegociação das dívidas dos Estados com a União, em vitória do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do relator da proposta, Davi Alcolumbre (União Brasil). -AP), que pretende regressar à presidência da Câmara a partir do próximo ano.
Os dois estiveram à frente das negociações que possibilitaram a aprovação do texto nesta semana, após acordos com governo, oposição e governadores de todas as regiões do país. O projeto agora segue para a Câmara dos Deputados.
O principal objetivo da proposta é permitir que os estados mais endividados do país renegociem as suas dívidas de forma sustentável.
Como contrapartida à redução do índice da dívida, o governo propôs que fossem feitos investimentos em áreas consideradas fundamentais, principalmente no ensino secundário técnico.
Os Estados também terão que transferir um percentual do que seria pago a título de juros da dívida para um fundo de equalização a ser dividido entre todos os Estados, inclusive os menos endividados.
Movimento
Alcolumbre passou os últimos dias em intensas negociações com governadores e com o Ministério da Fazenda e fez uma série de alterações em seu texto.
A última delas, diretamente no plenário, ao acatar emenda apresentada pelo senador Marcelo Castro (MDB-PI) que, na prática, permitirá uma maior contribuição ao fundo de equalização com base no valor amortizado pelos Estados com patrimônio estatal.
A emenda de Castro significa que os Estados que não fizerem nenhum pagamento em dinheiro deverão investir 2 pontos percentuais do índice da dívida em ações do próprio Estado e direcionar outros 2 pontos percentuais para o fundo de equalização que será distribuído entre todos os entes federativos.
Pelo texto anterior de Alcolumbre, esses Estados poderiam gastar 3 pontos percentuais com ações próprias e repassar apenas 1 ponto percentual para o fundo.
Mudar
Esta alteração foi feita para evitar que alguns Estados aproveitassem a possibilidade de utilizar quase a totalidade da redução do índice da dívida nos seus próprios investimentos. Estados menos endividados exigiram a mudança, já que os mais endividados, como São Paulo, por exemplo, poderiam reduzir a taxa de juros e manter o dinheiro em seu próprio território.
Outra mudança incluída na emenda de Marcelo Castro foi a mudança nos critérios de distribuição. À medida que o fundo de equalização foi aumentado, o senador propôs que nem todos da divisão seguissem as regras do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que privilegiaria os estados mais pobres. Em vez disso, o compartilhamento será feito:
– 20% com base no inverso da relação entre a Dívida Consolidada e a Receita Corrente Líquida, ambas obtidas do Relatório de Gestão Fiscal do final do ano anterior;
– 80% com regras do FPE.
Mudança no texto
Alcolumbre retirou da versão final do texto, a pedido do governo, dispositivo que alteraria o conceito de Receita Corrente Líquida (RCL) na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), apurou o Broadcast Politico.
Essa mudança pode significar redução dos gastos mínimos com saúde e emendas parlamentares, por exemplo, já que o RCL é utilizado para calcular quanto a União deve gastar nessas áreas. A mudança repercutiu negativamente, o que levou o Planalto a recuar.
O relator também estabeleceu uma “escada” para que os Estados que aderiram ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) mantenham os benefícios ao aderirem ao novo Programa de Pagamento da Dívida Estadual (Propag).
O objetivo, segundo Alcolumbre, é “não gerar nenhum ônus adicional aos estados membros” do Regime de Recuperação Fiscal, incluindo Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Cronograma de pagamento
Essa escada permitirá que os entes federativos paguem um percentual das parcelas em cinco anos. No primeiro ano após adesão à Propag, pagarão 20% do valor da parcela. Na segunda, 40%, na terceira, 60% e, por fim, na quarta, 80%.
A partir do quinto ano a parcela será paga integralmente. O Rio Grande do Sul obteve, no entanto, 36 meses de suspensão da dívida devido às enchentes que atingiram o Estado neste ano. Neste caso, o pagamento de 20% da parcela teria início a partir deste período.
Outro ajuste feito no texto envolvendo gastos constitucionalmente exigidos nas áreas de saúde e educação foi retirá-los do cálculo do limite de despesas dos Estados que aderirem ao Propag.
A razão é que este teto estabelecido pelo programa de renegociação da dívida do Estado cresce com base na percentagem de variação da receita primária, enquanto os mínimos de saúde e educação crescem com base na completude.
Texto aprovado
A versão final do relatório permitiu que os Estados endividados utilizassem transferências do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, criado com a reforma tributária, para reduzir as dívidas dos entes federados, mudança que causou surpresa entre os membros da equipe econômica.
Essa possibilidade não constava no texto inicial da proposta, apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
A demanda foi apresentada pelo Rio de Janeiro, mas outros Estados, nos bastidores, contestam essa possibilidade. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), aliado do governador Cláudio Castro, apresentou emenda nesse sentido.
Como mostrou o Broadcast, há uma percepção no Ministério das Finanças de que este dispositivo é inconstitucional por não cumprir os fins constitucionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional. Além disso, a avaliação é que a operacionalização seria difícil porque não há definição de coeficientes.
Alcolumbre também atendeu a uma reivindicação de Santa Catarina, apresentada pelo senador Esperidião Amin (PP-SC), para que uma dívida já reconhecida da União com o Estado possa ser usada para reduzir a dívida que a Santa Catarinense tem com a União.
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