Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) – O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) planeja aumentar os limites de exportação de energia gerada no Nordeste para o resto do país em setembro, o que pode contribuir para reduzir o volume de cortes na geração renovável, disse ele à Reuters diretor de operações da agência.
Em entrevista, Christiano Vieira avaliou que os cortes não são excessivos e negou que o ONS esteja sendo “conservador” no funcionamento do sistema elétrico e impondo mais restrições à geração renovável desde agosto do ano passado, quando um evento aparentemente simples envolvendo equipamentos em O Ceará culminou em um grande apagão no país.
Os limites de escoamento da energia gerada no Nordeste para outras regiões foram reduzidos em função dessa ocorrência e, um ano depois, ainda não foram totalmente restabelecidos.
O ONS prevê que esses limites poderão ser ampliados para 13 mil megawatts (MW), ante os atuais 11,6 mil MW, com a entrada em operação da linha de transmissão Jaguaruana II – Pacatuba em setembro.
“Com essa obra basicamente voltamos ao limite de vazão que tínhamos antes de agosto de 2023”, disse Vieira, destacando que as novas linhas permitem ao ONS recalcular suas “regiões de segurança” operacionais, abrindo espaço para aumentar o fluxo de energia na rede nacional eletricidade.
Os cortes de geração têm preocupado os investidores das fontes eólica e solar, que relatam um agravamento dessas ações sem compensação financeira pela energia “desperdiçada”.
Empresas como CPFL (BVMF:) e AES anunciaram nas últimas semanas que sofreram perdas no segundo trimestre devido a esses cortes. A avaliação é que esse descarte deve continuar e até piorar, pois a oferta de energia renovável cresce mais rápido que a rede de transmissão para transportá-la.
QUESTÃO REGULATÓRIA
Tecnicamente chamados de “curtailment” ou “constrained-off”, esses cortes são determinados pelo ONS, na operação em tempo real do sistema brasileiro, e podem ocorrer quando não há capacidade de fluxo de energia – por falta de linhas de transmissão, por exemplo – ou quando a produção excede a carga a ser servida.
Segundo Vieira, a maior parte das interrupções na produção das plantas ocorreu por restrições elétricas associadas à confiabilidade, ou seja, por questões de segurança. A ideia é evitar qualquer impacto no atendimento ao cliente caso ocorra alguma interrupção naquele ponto do sistema.
Ele destacou ainda que os cortes representam um volume relativamente baixo. Em julho, o ONS registrou cortes de 1.756 MW médios para fontes eólicas e 532 MW médios para fotovoltaicas. O percentual de corte em relação à carga foi de 3,08%, considerando a carga média de 74.133 MW no mês.
“Não entendemos que se trata de um valor excessivo… Mas potencialmente um ou outro agente pode sofrer cortes um pouco maiores e mais intensos, devido à sua posição na rede. controlado, esse agente pode ser chamado mais vezes.”
Para resolver essa situação específica de alguns agentes, a agência reguladora Aneel deverá discutir como alocar adequadamente os custos desses cortes, acrescentou o diretor.
“Uma coisa é o que o ONS precisa fazer em tempo real, olhamos para a confiabilidade elétrica. Outra coisa é: dado que aquele agente foi cortado, como será distribuído entre os agentes o efeito econômico desse corte? um, vai ser distribuído entre vários? É uma discussão regulatória.”
Vieira destacou que o ONS busca extrair o máximo valor da matriz elétrica brasileira, que é diversificada e não tem preferência por fontes. Ele explicou que as usinas eólicas e solares são priorizadas pela operadora, porque não são controláveis como as hidrelétricas e termelétricas.
“Existe algum nível de corte em todos os sistemas de energia do mundo com muita penetração de energias renováveis… A questão é ter um nível de corte baixo e eficiente que possa ser entendido pelos agentes, que eles possam prever e colocar em seus modelos “.
Ele afirmou que, mesmo com a ampliação da transmissão de energia, continuarão ocorrendo cortes por motivos energéticos, quando a geração ultrapassa a carga, algo que acontece nos finais de semana e no início da manhã, por exemplo.
Vieira disse ainda que os geradores precisam melhorar as informações prestadas ao ONS sobre seus equipamentos, pois o órgão constatou discrepâncias entre o que foi reportado e o seu real desempenho em campo.
“Não existe conservadorismo da nossa parte, não vamos cortar um valor menor por comodidade operacional, não existe isso. O que existe é: o operador precisa operar o sistema com segurança, e segurança é o que vemos em campo .”
“Estas condições de campo levam… a uma utilização fiável dos activos, e essa utilização pode eventualmente colocar limites em alguns meses, em algumas horas do dia, da semana”, concluiu.
(Por Letícia Fucuchima)
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