A Operação Follow The Money, investigação da Procuradoria-Geral da República do Ministério Público do Espírito Santo sobre um esquema de fraude para desviar dinheiro de heranças de mortos sem sucessores, suspeita que a organização criminosa supostamente integrada pelo juiz Bruno Fritoli Almeida, do Tribunal de Justiça Justiça estadual arrecadou pelo menos R$ 7,084 milhões.
O Estadão busca contato com a defesa de Bruno Fritoli. O espaço está aberto para manifestação.
O valor teria sido arrecadado pelo grupo após simular ‘acordos’ com oito mortos, por meio de documentos falsificados.
A Operação Follow The Money prendeu o juiz Bruno Fritoli Almeida no dia 1º por ‘provas veementes’ de sua ligação com a quadrilha. O tribunal também decretou a suspensão do porte de armas do magistrado em relação a um arsenal que ele mantém em seu nome.
Segundo o Ministério Público, a quadrilha ainda conseguiu liberar dinheiro das contas de outras duas vítimas, mas, nesses casos, o plano foi frustrado e os valores não chegaram ao caixa do grupo criminoso porque os herdeiros acabaram intervindo nas ações .
Em um caso, o grupo simulou a ‘venda’ de granito no valor de R$ 2,45 milhões para uma mulher falecida para sacar o valor de sua conta. Quando o valor foi liberado pela Justiça, o dono da empresa Veldir José Xavier – preso durante a investigação – ficou com R$ 58.558,42 (2,4% do total), transferindo o restante para Ricardo Nunes de Souza, suposto líder do gangue – também detida.
O juiz Bruno Fritoli Almeida entrou na mira da Procuradoria-Geral da República do Espírito Santo após emitir alvará no valor de R$ 1,7 milhão – parte desse dinheiro, segundo a investigação, foi usada para quitar parte de um rancho de 321 mil metros quadrados em interior do Espírito Santo.
O Ministério Público aponta uma organização criminosa que exibiu um “padrão de mecanismos fraudulentos” ao ajuizar ações judiciais no bairro Barra de São Francisco, no interior do Estado.
Os promotores encontraram evidências de uma “ação orquestrada entre os investigados para obter fins ilícitos”.
Segundo o Ministério Público, a quebra de sigilo por parte dos investigados mostra que, após o saque dos valores das contas dos mortos, os suspeitos fizeram diversas transferências para dificultar a localização do dinheiro.
O Ministério Público detalhou o passo a passo da organização criminosa. O primeiro ato consistiu na identificação de pessoas falecidas, sem herdeiros, que deixaram grandes quantias em suas contas ou mesmo em imóveis.
O segundo passo foi a falsificação de contratos de compra e venda, documentos de confissão de dívidas e até notas promissórias que indicavam que o falecido estava “em dívida” com o grupo criminoso.
Os documentos foram falsificados com cláusulas de confidencialidade e lavrados no foro da comarca de Barra de São Francisco, para direcionar o caso a um juízo específico.
Os promotores constataram que os documentos tinham ‘assinaturas duvidosas’ e as petições iniciais seguiam um modelo específico, narrando fatos semelhantes e com pedidos para que os processos tramitassem em sigilo.
As ações foram ajuizadas para que o Tribunal determinasse o cumprimento dos supostos acordos extrajudiciais, com o bloqueio de contas e bens e o consequente saque dos valores.
Durante a tramitação do processo, uma das etapas foi a ‘citação’ do falecido, mas, segundo o Ministério Público, antes mesmo de o cartório solicitar as declarações das partes, os advogados já apresentavam os acordos elaborados por meio fraude.
Os documentos foram assinados apenas por advogados, “embora os executados fossem pessoas falecidas, cujos poderes foram extintos”, refere a Procuradoria-Geral da República.
Quando o dinheiro foi bloqueado, não houve manifestação dos interessados – nem mesmo dos herdeiros. Os advogados exibiram então um suposto acordo extrajudicial entre as partes, que foi aprovado. Depois, os advogados voltaram à Justiça alegando descumprimento do pacto e pedindo a liberação dos valores restritos.
COM A PALAVRA DEFESA
A reportagem do Estadão busca contato com a defesa do juiz Bruno Fritoli Almeida. O espaço também está aberto para manifestações de outros mencionados na Operação Follow The Money
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