O adiantamento de R$ 7,8 bilhões em recursos da Eletrobras (BVMF:) para quitar empréstimos no setor elétrico terá agora um efeito limitado nas contas de luz dos brasileiros. Segundo levantamento da Volt Robotics, consultoria nacional do setor elétrico, a redução tarifária será de 0,2% a no máximo 4,3%, dependendo da distribuidora.
Trata-se de uma redução nas tarifas de energia elétrica muito menor do que as anunciadas pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na quarta-feira (7 de agosto de 2024). O governo esperava proporcionar uma queda de 2,5% a 10% nas contas dos consumidores.
Com a titularização, o governo pagará 2 empréstimos actualmente pagos pelos consumidores de energia através de facturas de electricidade. Donato Filho, diretor geral da Volt Robotics, explica que o impacto varia de acordo com a distribuidora de energia porque cada uma contratou valores diferentes para cada empréstimo.
Será pago:
- o Conta Covidempréstimo emergencial feito em 2020 para ajudar distribuidoras de energia durante a pandemia, quando a inadimplência aumentou e o consumo reduziu;
- e o Conta de escassez de águacontratado em 2022 devido ao baixo nível dos reservatórios hidrelétricos, o que exigiu a contratação de energia mais cara.
“A Conta Covid foi baseada no impacto da Covid em cada distribuidor. Quanto o mercado reduziu, quanto a inadimplência e a sobrecontratação aumentaram. Esses efeitos foram muito diferentes de acordo com cada concessão”diz Donato da Silva Filho.
No caso da Conta Escassez Hídrica, o valor do empréstimo variou de acordo com o tipo de geração contratada. “Uma distribuidora que tivesse menos térmicas ou mais contratos com aquelas hidrelétricas de maior risco hidrológico, tinha um empréstimo maior do que as demais menos suscetíveis.”
A securitização foi autorizada pela MP (medida provisória) 1.212 de 2024, assinada por Lula e publicada em 10 de abril. Foi realizada por meio de oferta conjunta de 5 instituições: Banco do Brasil (BVMF:), Itaú BBA, Banco Bradesco (BVMF: ) BBI, BTG Pactual (BVMF:) e Banco Santander (BVMF:). A Eletrobras garantiu aos bancos os recursos que seriam repassados à CDE (Conta de Desenvolvimento Energético).
Donato afirma que a operação de securitização não resolve o problema das altas tarifas de energia elétrica no país. Para uma redução estrutural serão necessárias medidas mais complexas, como a redução de subsídios e a abertura do mercado, estimulando a competitividade do setor.
“Foi uma operação financeira com atraso. Não é uma medida estrutural de redução de tarifas, que para ser realizada precisa atacar problemas reais para ganhar eficiência e produtividade”diz.
O especialista afirma ainda que o impacto da redução da tarifa será ainda mais insignificante se comparado aos custos que a MP 1.212 trará aos consumidores, com o aumento dos subsídios às fontes de energia renováveis, como usinas eólicas e solares.
Entenda a operação de securitização
O adiantamento de parte do dinheiro que a Eletrobras deve à CDE junto ao mercado resultou em uma economia de R$ 500 milhões, segundo o governo. Isso porque os juros que serão pagos pela operação de adiantamento serão inferiores aos dos empréstimos que serão quitados.
Aqui estão as taxas de juros:
- empréstimos setoriais: 3% ao ano + taxa básica de juros, Selic;
- securitização: 2,2% ao ano + taxa Selic.
Na prática, o governo contraiu um empréstimo para pagar outro empréstimo. Ou seja, os juros serão pagos duas vezes, referentes às duas operações. Esse novo empréstimo via securitização, porém, não será pago por meio de contas de luz, mas sim com contribuições anuais da Eletrobras.
A amortização dos empréstimos do setor elétrico totalizará R$ 11,8 bilhões, sendo:
- R$ 7,8 bilhões provenientes de antecipação de recebíveis da Eletrobras;
- R$ 4 bilhões de saldo que já estava nas contas Covid e Escassez Hídrica, arrecadados dos consumidores nos últimos meses.
Pela lei 14.182 de 2021, que autorizou a privatização da Eletrobras, a empresa foi obrigada a fazer repasses para a CDE, conta setorial que reúne subsídios para o setor elétrico. Pelas regras, a empresa deve fazer pagamentos por 25 anos para reduzir as tarifas ao consumidor.
No total, os repasses da Eletrobras à CDE totalizarão R$ 32 bilhões ao final dos 25 anos. Já foi paga uma parcela inicial de R$ 5 bilhões em 2022, e depósitos anuais de aproximadamente R$ 1 bilhão. Ou seja, ainda há pelo menos R$ 26 bilhões a serem pagos.
Com a antecipação, a empresa ainda terá que aportar cerca de R$ 18 bilhões à CDE. O governo também pretende antecipar esse valor para reduzir as contas de luz, mas sem antecipá-los no mercado. A ideia seria que a empresa adiantasse os pagamentos.
A possibilidade deve ser negociada no acordo que governo e Eletrobras tentam fechar a pedido do STF (Supremo Tribunal Federal). A Justiça deu mais 45 dias para a conclusão da negociação, que tem como ponto principal o aumento do número de assentos do Sindicato no Conselho de Administração da empresa.
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