A Rússia enviou reforços nesta quinta-feira (8) para tentar impedir uma grande incursão de tropas ucranianas iniciada há três dias na região fronteiriça de Kursk, um revés inesperado em um conflito que até agora estava centrado quase exclusivamente em território ucraniano.
As tropas de Kiev entraram na região de Kursk, no sudoeste da Rússia, na manhã de terça-feira, com cerca de mil soldados e vinte veículos blindados e tanques, segundo o Exército Russo.
O Ministério da Defesa russo declarou na quinta-feira que “a operação de destruição de unidades do Exército ucraniano continua” com ataques aéreos, foguetes e fogo de artilharia contra tropas que entraram em dois distritos fronteiriços e que enviou reforços para ajudar a “conter tentativas de invasão” ao país .
Tudo indica que esta é a maior incursão fronteiriça da Ucrânia desde que a Rússia lançou a sua ofensiva militar em Fevereiro de 2022.
Pressão
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que a Rússia deve “sentir” as consequências do ataque de Kiev, sem mencionar diretamente a incursão, que também não foi mencionada pelo seu governo.
O conselheiro presidencial ucraniano, Mikhail Podoliak, garantiu que a operação é uma consequência da “agressão” russa contra o seu país, sem reivindicar a ação.
“Grande parte da comunidade internacional considera agora a Rússia um alvo legítimo para operações de qualquer tipo e com qualquer arma”, acrescentou.
Os russos “vieram para a nossa terra. Que possam sentir agora o que sentem as nossas mães e crianças em dificuldades, o que é viver e perder os seus filhos”, disse à AFP Rita Simon, residente em Kiev.
Os aliados da Ucrânia ficaram surpresos com a incursão. Os Estados Unidos afirmaram que estão em contacto com Kiev para obter mais informações.
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) afirmou que “as forças ucranianas fizeram avanços confirmados de até 10 km na região russa de Kursk.”
“A magnitude e localização confirmadas dos avanços ucranianos na região de Kursk indicam que as forças ucranianas romperam pelo menos duas linhas defensivas e um reduto russo”, acrescentou o think tank com sede nos EUA.
Ponto estratégico para abastecimento de gás
O presidente russo, Vladimir Putin, classificou-a como uma “provocação em grande escala” por parte de Kiev, enquanto o seu exército prometeu esmagar a incursão.
Vários analistas afirmam que os soldados ucranianos chegaram a Sudzha, uma posição-chave a cerca de 10 quilómetros da fronteira, onde existe uma estação que fornece gás à Europa através da Ucrânia.
Este local distribui gás para a Eslováquia e a Hungria, cujo primeiro-ministro, Viktor Orban, tem boas relações com Putin.
A gigante energética russa Gazprom disse na quinta-feira que continua a fornecer gás para a estação Sudzha.
“Situação complexa”
As autoridades de Moscou disseram que a situação estava “estável e sob controle”. No entanto, bloggers militares russos próximos do Exército relataram progressos significativos e lamentaram a deterioração da situação.
“A situação é complexa e continua a piorar”, disse o blogueiro Yury Podolyaka no Telegram. Ele afirmou que Sudzha estava “cheia de soldados ucranianos”.
“O inimigo está a ganhar posição, o que indica que os combates serão de longo prazo”, notou o canal Dva Mayora, conhecido pela sua proximidade com o Exército de Moscovo.
O canal afirmou que Sudzha está “praticamente sob controle” das forças ucranianas e que as tropas russas estão localizadas apenas em uma rotatória no leste da cidade.
Informou também que os militares ucranianos avançam em direção à cidade de Korenevo, a mais de 25 km da fronteira, e que ao contrário de outras incursões em território russo por grupos paramilitares relacionados com Kiev, esta é uma operação do Exército Ucraniano.
A região de Kursk declarou na noite de quarta-feira estado de emergência, o que dá às autoridades o poder de restringir o movimento na tentativa de controlar a situação.
Quase 3.000 pessoas foram evacuadas e os ataques cibernéticos deixaram vários serviços “temporariamente” offline, segundo as autoridades desta região.
Afirmaram também que pelo menos cinco civis foram mortos e 31 ficaram feridos, incluindo várias crianças.
Na vizinha região russa de Belgorod, duas pessoas morreram e uma terceira ficou ferida em bombardeamentos ucranianos esta quinta-feira, disse o governador local.
Do lado ucraniano, as autoridades informaram no mesmo dia que os bombardeamentos russos deixaram pelo menos cinco civis mortos.
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