Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) – O Ministério da Fazenda prepara um programa para oferecer vantagem adicional aos contribuintes que já renegociaram dívidas com o Fisco e estão dispostos a antecipar o pagamento das parcelas do imposto, segundo documento visto pela Reuters e reportagem de duas fontes do departamento, trazendo para o curto prazo receitas que entrariam nos cofres do governo de forma diluída ao longo dos anos.
Batizado de Fazenda Desenrola Parcelamentos, o programa envolve passivos de responsabilidade da Receita Federal e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e pode gerar impulso às contas públicas num momento em que a busca por dinheiro do governo é questionada.
O lançamento da iniciativa estava previsto para junho deste ano, segundo fontes, mas deverá esperar até depois das eleições autárquicas, provavelmente em 2025.
A medida abrange uma série de parcelamentos aprovados pelo Congresso Nacional desde 2000 para beneficiar os devedores, como o chamado Refis (Programa de Recuperação Fiscal), que previa descontos em débitos tributários e condições especiais de pagamento, muitas vezes com prazo de anos para pagamento. . .
O desenho feito pela secretaria beneficiará os contribuintes com parcelamentos fiscais cujo valor dos juros supere em mais de 50% o valor total da dívida, permitindo a liquidação antecipada do saldo remanescente.
Em troca do pagamento, que pode ser feito à vista ou em poucas parcelas, seria concedida redução de 100% no valor dos juros. O plano prevê que o benefício será válido para pessoas físicas e jurídicas.
Análise interna da Receita Federal indicou que a perda de arrecadação causada pelo desconto de juros seria de 690 milhões de reais, valor que deve ser compensado por medida auxiliar de arrecadação, ainda não definida. Mesmo assim, o valor dos adiantamentos tende a superar o custo da medida – quando questionado, o Ministério da Fazenda não detalhou o saldo das parcelas a receber.
GANHO DE IMPOSTO, REDUÇÃO DE CUSTOS
Segundo fonte do Tesouro, que falou sob condição de anonimato porque as discussões não são públicas, a medida “representa, sem dúvida, uma antecipação de receitas com impacto primário”.
“Mas o principal interesse é regularizar essas contas passadas, diminuir a litigância em relação a essas parcelas e reduzir o custo operacional de manutenção e controle”, acrescentou.
A área técnica do Tesouro chegou a incluir na Medida Provisória o programa que buscava compensar a desoneração tributária de setores da economia, mas acabou abandonando o texto antes de ser enviado formalmente ao Congresso, sob a avaliação de que seria necessário aguardar o momento político apropriado, segundo relatos.
Em meio à desaceleração das atividades no Congresso devido às campanhas para as eleições municipais deste ano, esta autoridade afirmou que é mais provável que o programa seja proposto pelo governo em 2025, aumentando o Orçamento do próximo ano.
Até ao momento, a equipa económica afirma que será possível atingir a meta de défice primário zero em 2024, que será considerada cumprida se as contas estiverem dentro da margem de tolerância de 0,25 pontos percentuais do PIB. Para tanto, foi anunciado um congelamento de 15 bilhões de reais em verbas ministeriais, o que deverá levar o resultado do ano a um déficit de 28,8 bilhões de reais, no limite inferior de tolerância.
Para o próximo ano, a meta também é de déficit zero, depois de flexibilizada pelo governo, mas o resultado ainda é considerado desafiador em meio ao crescimento significativo das despesas com Previdência e benefícios sociais. Para atingir o objetivo, a equipe econômica prometeu cortar gestos obrigatórios, revisando cadastros de programas e buscando fraudes.
Mesmo com restrições de gastos, porém, o mercado ainda não acredita que as metas serão alcançadas, projetando que o governo fechará 2024 e 2025 com déficits de 0,70% do PIB, segundo o mais recente boletim Focus do Banco Central.
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