“Mais Pesado é o Céu”, sétimo longa-metragem do cineasta cearense Petrus Cariry, chega nesta quinta-feira (8) aos cinemas do Brasil. Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios interpretam dois caronas “sem eira nem beira”, lutando pela sobrevivência enquanto navegam pelas estradas, sob o sol escaldante do Sertão do Ceará.
O filme apresenta Teresa (Ana Luiza) e Antônio (Matheus), duas pessoas perdidas no mundo, que se conhecem por uma coincidência do destino. Ambos moravam anteriormente em Jaguaribara, cidade que foi inundada para dar lugar a um reservatório de água.
À beira da barragem onde estão submersas as suas memórias de infância, Teresa encontra um bebé abandonado. Ela imediatamente se torna mãe da criança, que nem nome tem, e passa a contar com a ajuda de Antônio para mantê-la viva, iniciando uma jornada pela estrada.
“Se eu fosse identificar um gênero para este filme, diria que é o realismo poético. Esse homem e essa mulher, que são brasileiros em geral, encontram um bebê que é a própria semente do futuro. Sua presença faz com que eles tenham que seguir em frente. É um filme sobre o que seria possível reconstruir ou uma pergunta sobre o que ainda queremos”, comenta Nachtergaele, em entrevista ao Folha Pernambucana.
Petrus desenhou o primeiro rascunho de “Heavier is the Sky” após seu terceiro longa-metragem, “Clarisse or Something About Us Two” (2015), que conclui sua Trilogia da Morte. A ideia inicial era produzir “um filme mais solar” dentro da cinematografia do diretor, mas a dramaticidade da vida real impôs outro caminho.
“Quando comecei a escrever o argumento, o Brasil estava passando pelo impeachment de Dilma [Rousseff]. A história ficou mais densa à medida que a situação do país se complicava. De certa forma, o filme reflete isso. Essa dupla em busca de um lugar que só existe na memória é uma alegoria do próprio Brasil naquele momento: um país em ruínas”, lembra Petrus, que completou o roteiro durante a pandemia de Covid-19.
As filmagens aconteceram em 2021, nos municípios de Quixadá e Nova Jaguaribara no Ceará. Além da Barragem do Castanhão, com sua beleza visual marcante, outro cenário de destaque no filme é a própria rodovia.
“Simbolicamente, esses personagens nunca estão na estrada, mas sempre à margem dela. São pessoas marginalizadas, frágeis e sujeitas a todo tipo de violência e situações degradantes”, aponta o diretor.
O elenco ainda conta com nomes como Danny Barbosa, Buda Lira e Marcos Duarte. Sílvia Buarque interpreta Fátima, que acolhe os protagonistas na sua peregrinação. A atriz já havia trabalhado com Rosemberg Cariry, pai de Petrus, em duas ocasiões.
“Quando os Carirys me dizem ‘vamos fazer um filme’, eu já estou lá. Foi bárbaro, mais uma vez”, diz a atriz, que aponta Fátima como uma das personagens mais difíceis de sua carreira.
“Na primeira leitura, Fátima estava muito distante de mim. Ela é uma mulher que saiu do Sudeste, mas tem um passado um tanto obscuro. Eu a entendi melhor no set com Petrus e acho que consegui criar algo mais doce, o que foi positivo para um filme tão seco”, afirma.
“Mais Pesado é o Céu” estreia no circuito de cinema apoiado por mais de 20 prémios conquistados em festivais nacionais e internacionais. “Vale a pena ir ao cinema e não esperar o streaming, porque Petrus é um diretor de cinema. Este filme é um banho de poesia para inundar todo o corpo, com som e imagem, muito contidos e belas interpretações. É o resultado da resistência do nosso cinema”, argumenta Nachtergaele.
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