Com a classificação para a decisão do futebol feminino em Olimpíadas de ParisO Seleção Brasileira ele fará sua sexta partida oficial, mas na prática será a sétima. Isso porque, somando os acréscimos nos jogos da fase de grupos e mata-mata, o Brasil enfrentou 114 minutos de prorrogação – equivalente a uma partida inteira e quase uma prorrogação.
A razão para isto é uma aplicação mais rigorosa de uma recomendação do FIFAque começou com a Copa do Mundo no Catar.
SOMOS FINALISTAS DOS JOGOS OLÍMPICOS DE PARIS!
ESTOU TÃO ORGULHOSO! É PARA OURO! VAMOS JUNTOS! pic.twitter.com/5koUMgJxye
— Seleção Feminina de Futebol (@SelecaoFeminina) 6 de agosto de 2024
A tese da FIFA, repassada aos árbitros, é combater o desperdício de tempo no futebol, como substituições, atendimento médico, comemorações de gols e verificações do VAR, com acréscimos. Qualquer coisa que interfira no andamento da partida – e isso inclui também a “cera” dos jogadores para passar o tempo – deverá ser acrescentada pelo árbitro ao final do jogo.
Somando o futebol masculino e feminino nas Olimpíadas, a prorrogação ultrapassa os 800 minutos. No Qatar, que iniciou esta tendência, foram acrescentados 676 minutos ao final do tempo regulamentar – uma média de 10,5 minutos a mais por partida.
No início da Copa do Mundo, Pierluigi Collina, ex-árbitro da entidade, afirmou que a mudança fez com que o jogo tivesse, em média, 59 minutos de bola em campo. Na goleada da Inglaterra por 6 a 2 sobre o Irã – comandada pelo árbitro brasileiro Wilton Pereira Sampaio – foram acrescentados 27 minutos de acréscimo aos 90 inicialmente previstos.
O que era exceção tornou-se regra em Paris. Contra a Espanha, na semifinal, houve 30 minutos de prorrogação. Nas quartas de final, contra a França, foram 25. O Brasil enfrentará os Estados Unidos na decisão do torneio feminino no sábado. Com o tempo de acréscimos elevado, o time terá disputado quase o mesmo tempo do rival, que precisou de duas prorrogações para avançar à final. Até o momento, foram 12 dias de competições.
Árbitros entrevistados pelo Estadão são contrárias às diretrizes da FIFA. Carlos Eugênio Simon, ex-árbitro da FIFA, que apitou três Copas do Mundo, e comentarista da ESPN, entende que o esporte já possui mecanismos nas regras que inibem o anti-jogo – esses acréscimos extraordinários não são necessários.
“O árbitro controla o tempo de jogo. É preciso manter o bom senso para isso. Mas há orientação da FIFA em relação a isso. Acho que essas adições são ruins justamente porque existem mecanismos para evitar o anti-jogo”, afirma.
Antijogo, neste caso, refere-se a jogadores caindo, simulando faltas duras, demorando para colocar a bola de volta em campo, entre outras situações. São estes os casos que a FIFA tenta prevenir adicionando tempo ao final do jogo. Na vitória por 4 a 2 sobre a Espanha, o Brasil recebeu críticas dos rivais.
HOJE A FRANÇA SERÁ UMA DANÇA…
A FESTA FINALISTA! Aquela recepção do jeito que a gente ama! pic.twitter.com/aBylNLQAMr
— Seleção Feminina de Futebol (@SelecaoFeminina) 7 de agosto de 2024
“Sofremos quatro gols de um time que, para mim, não joga futebol, mas no final o que conta são os gols. Acho que foram erros nossos, não jogamos o nosso futebol. , mas já foi difícil”, disse Jenni Hermoso, jogadora da seleção espanhola, em entrevista à rádio Cope.
Wilson Seneme, chefe do comitê de arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol, esteve presente na última Copa do Mundo. “Vimos acréscimos de seis, sete, oito, até dez minutos, tanto na Série A do Campeonato Brasileiro quanto em jogos da Série D, por exemplo. Isso é muito importante porque é uma instrução universal”, afirmou, quando Estadão em 2023.
“A regra não estabelece que haja cronômetro parando o jogo como se fosse futebol de salão, nem na cabine do VAR”, aponta Manoel Serapião Filho, ex-árbitro da FIFA e autor do projeto VAR, adotado pela FIFA no último década, ao relatório.
“A regra estabelece que ao final de cada período sejam somadas perdas de tempo anormais, e não os tempos naturais, para substituições de bola, para cobranças de meta, para cobranças laterais. As Olimpíadas são um exemplo de como as coisas estão erradas”.
Por outro lado, Arnaldo Cezar Coelho, ex-árbitro e ex-comentarista da TV Globo, diz entender os acréscimos nas Olimpíadas.
“O Brasil abusou da ‘cera’, principalmente do goleiro. Não marquei o tempo, mas não há justificativa para fazer um comício, sem explicação. A regra é clara. Se fosse o Brasil perdendo, estaríamos reclamando do anti -jogo”, disse ele ao Estadão. Para ele, o atendimento médico em campo permite que os atletas utilizem esses meios para “queimar” o tempo da partida.
Não há confirmação da FIFA se os árbitros estão contando o tempo perdido nos Jogos Olímpicos. Para Arnaldo, porém, isso acontece. “Eles podem estar comunicando com o delegado e ele, lá fora, segurando o cronômetro quando há paralisação em campo”, diz. “Antes de criticar os acréscimos, tenha um cronômetro na mão. As regras mudaram e as instruções mudaram.”
Confira as adições aos jogos do Brasil nas Olimpíadas:
Brasil 1 x 0 Nigéria: 10 minutos (1º tempo) e 9 minutos (2º tempo) – 19 minutos no total
Brasil 1 x 2 Japão: 5 minutos (1º tempo) e 11 (2º tempo) – 16 minutos no total
Brasil 0 x 2 Espanha: 10 minutos (1º tempo) e 20 minutos (2º tempo) – 30 minutos no total
Brasil 1 x 0 França: 6 minutos (1º tempo) e 19 minutos (2º tempo) – 25 minutos no total
Brasil 4 x 2 Espanha: 6 minutos (1º tempo) e 18 minutos (2º tempo) – 24 minutos no total
Total: 114 minutos
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