Manifesto vem após prazo do STF que prevê reestruturação da legislação de conservação do bioma em até 18 meses
A petição publicada na plataforma Mudança.org Já são mais de 1,3 milhão de pessoas a favor da elaboração de uma nova legislação federal para conservar e recuperar o bioma Pantanal, por meio da chamada “Lei do Pantanal”.
Em formato online, o manifesto foi elaborado pelo Instituto SOS Pantanal, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 6 de junho deste ano, que estabelece prazo de 18 meses para que o Congresso Nacional aprove lei específica para proteger o bioma, seguindo o exemplo da Lei de Mata Atlântica.
Movida pela Procuradoria-Geral da República (ADO 63), a ação estava em análise na Justiça desde 2023. O voto do ministro relator, André Mendonça, apontou negligência e omissão do Congresso Nacional na proteção do Pantanal e foi aprovado pelo 9 dos 11 ministros.
A ação da PGR também previa a adoção da Lei da Mata Atlântica no Pantanal até a entrada em vigor da nova legislação, mas o voto de André Mendonça não incluiu a medida.
No Senado, está em análise desde 2020 a proposta do senador Wellington Fagundes (PL-MT), que cria o Estatuto do Pantanal, também para regulamentar a conservação, restauração e exploração sustentável do bioma.
Em abril, durante audiência da Comissão de Meio Ambiente, Wellington Fagundes citou a ação movida pelo Ministério Público e pediu urgência na definição de normas que garantam a proteção do Pantanal:
”Essa legislação é tão imperativa que a Procuradoria-Geral da República chegou a acionar o Supremo Tribunal Federal, sugerindo que a legislação que hoje vale para a Mata Atlântica, dois biomas extremamente diferentes, com características próprias, seja adotada para o Pantanal. Isso se deveu ao fracasso do Congresso Nacional em aprovar uma legislação específica para o nosso Pantanal. Portanto, é importante avançarmos nessa direção.”
O voto de André Mendonça destaca que tanto Mato Grosso do Sul quanto Mato Grosso já promulgaram leis estaduais para proteger o Pantanal, mas segundo o ministro, isso não isenta a União de sua responsabilidade constitucional.
Para o senador Jayme Campos, da União de Mato Grosso, relator da proposta de Estatuto do Pantanal, a legislação que virá para proteger o bioma precisa levar em conta o homem pantaneiro, que habita a região há muitos anos e que, segundo ele , vem empobrecendo muito nos últimos tempos: (senador Jayme Campos)
“Não podemos realmente esquecer as pessoas que vivem lá. Da forma como pretendiam e querem fazer, o pantaneiro que conhece a real necessidade, não está inserido no contexto, o que está se transformando em um verdadeiro bolsão de miséria. Falo pelo meu estado de Mato Grosso.”
Pior cenário dos últimos 26 anos
Junho de 2024 registrou mais de 2,5 mil incêndios no Pantanal segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), um recorde – desde 1998, onde foram confirmados 500 registros. Nenhum dos surtos registados em Junho teve origem em fontes naturais.
Os incêndios no Pantanal começaram muito antes do esperado neste ano e atingiram níveis assustadores. Especialistas alertam para o cenário que se estabelece desde o ano passado, quando o défice de chuvas começou a prenunciar uma seca que poderá aumentar o período seco.
Profissionais que integram o Sala de Crise da Bacia do Alto Paraguai, coordenada pela Agência Nacional de Águas (ANA)alertou que a bacia do rio Paraguai, principal bacia que abastece o Pantanal e responsável pelo pulso de inundação do bioma, registra chuvas abaixo da média desde o período chuvoso.
Por este e outros motivos, a ANA declarou situação crítica de escassez de recursos hídricos na bacia no dia 14 de maio deste ano.
Em 2020, a região enfrentou uma crise sem precedentes com os incêndios florestais, com aumento de 215% em relação ao ano anterior, consumindo aproximadamente 4 milhões de hectares (cerca de 26% da área total do bioma em território brasileiro), área quatro vezes superior à a média observada entre 2001 e 2019.
Laboratório de Aplicações Ambientais por Satélites do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ) emitiu Nota Técnica avaliando a situação de incêndio no Pantanal verificando alguns fatos. A análise foi realizada no período de 1º de janeiro de 2024 a 23 de junho de 2024. Foram destacados os seguintes pontos:
Em andamento no Congresso
Atualmente, existem alguns projetos de lei (PLs) em tramitação no Congresso Nacional. Segundo Gabriel Adami, analista de políticas públicas do Instituto SOS Pantanal e responsável pela criação da petição, o projeto de lei PL 5482/2020 de Wellington Fagundes ainda precisa de ajustes.
“No entanto, do jeito que está, este projeto apresenta um retrocesso ao simplificar as medidas de conservação alcançadas pelas leis estaduais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, explica o analista.
Para Adami, o PL que apresenta a melhor alternativa é o PL 2334/2024de autoria da deputada Camila Jara (PT/MS).
“Construído com amplo apoio da sociedade civil, este projeto reúne os avanços já garantidos nas duas leis estaduais, além de prever recursos financeiros a serem destinados à defesa do bioma, algo crucial para garantir os processos ecológicos desta região , ele destaca.
O PL indica ainda que tais recursos devem ser destinados prioritariamente a ações de conservação, estímulo à bioeconomia, monitoramento, prevenção e combate a incêndios florestais, monitoramento de fauna e flora e recuperação de áreas degradadas”, comenta Adami.
Como há outros projetos em pauta na Câmara, a tendência é que sejam acrescentados em determinado momento, quando estiverem em determinada Comissão.
“Com a decisão do STF, esperamos que esse debate seja priorizado na agenda do Congresso, mas ainda não sabemos qual será o ritmo no segundo semestre por causa das eleições municipais. deverá retornar com muita força e estaremos articulados, e com o apoio da sociedade, para construir uma legislação positiva, com consenso mínimo entre os setores produtivo e ambiental”, finaliza.
Pantanal em chamas
Em 2020, um incêndio de proporções catastróficas consumiu quase 4 milhões de hectares do bioma nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, um lamentável registro de destruição que deixou cicatrizes profundas.
A própria petição na plataforma foi criada por Gabriel neste momento, solicitando que medidas fossem estabelecidas em resposta à crise, e agora direcionada para a criação de uma lei federal.
“As ameaças infelizmente continuaram após 2020, pois enfrentamos mais uma vez novos incêndios, culminando em mais um desastre anunciado em 2024, já considerada a pior seca da história do bioma”, comenta Monica Souza, diretora executiva da Change.org no Brasil .
Para ela, neste momento, com o Pantanal em chamas, é necessária a união entre os governos estaduais, o parlamento e o governo federal, com o apoio da sociedade civil, para aprovar uma lei que proteja verdadeiramente a biodiversidade e a população da região. Pantanal.
“Esperamos que a mobilização popular, demonstrada com a petição, ajude na tomada de decisão de uma lei forte e protetora para o bioma. A hora é agora!”, finaliza.
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