Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – A aversão a ativos mais arriscados nos mercados globais trouxe volatilidade à renda fixa no Brasil, mas as taxas DI permaneceram baixas durante a tarde nos contratos a partir de janeiro de 2026, refletindo a queda nos rendimentos mais longos dos títulos do Tesouro no exterior em meio a temores de recessão no os Estados Unidos.
A taxa contratual para janeiro de 2025, porém, fechou um pouco mais alta, em meio à percepção de que o patamar elevado frente ao real aumenta as chances de o Banco Central elevar a taxa básica Selic no curtíssimo prazo.
No final da tarde desta segunda-feira, a taxa DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,58%, ante 10,564% do reajuste anterior.
A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 11,22%, ante 11,278% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,42%, ante 11,49%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 11,79%, ante 12,824%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 11,8%, ante 12,828%.
No início do dia, a liquidação nos mercados globais colocou os índices de ações em queda acentuada e o dólar em alta constante em relação às moedas emergentes, como o real.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro também diminuíram, com os investidores a verem possibilidades ainda maiores de a Reserva Federal reduzir a sua taxa de juro em 50 pontos base em Setembro – e não os 25 pontos base que previa há uma semana.
Nesse cenário, a taxa DI de janeiro de 2027 – uma das mais líquidas – atingiu a mínima de 11,31% às 10h14, queda de 18 pontos-base.
Entre os factores citados para o movimento de liquidação estavam os receios de uma recessão nos EUA, após dados fracos sobre o emprego na sexta-feira; a continuação da liquidação de operações de carry-trade depois de o Banco do Japão ter aumentado as taxas de juro na semana passada; receia que haja uma escalada do conflito que envolve Israel no Médio Oriente; e a decepção com os balanços das empresas nos EUA, com a Berkshire Hathaway (NYSE:) do empresário Warren Buffett reduzindo metade de sua participação na Apple (NASDAQ:).
As taxas do DI mostraram recuperação pela manhã e até flutuaram em território positivo, depois que o Institute for Supply Management (ISM) informou que seu índice de gerentes de compras (PMI) para o setor não-manufatureiro dos EUA aumentou para 51,4 no mês passado, de 48,8 em junho. o nível mais baixo desde maio de 2020. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI de serviços subiria para 51,0 em julho.
Durante a tarde, porém, as taxas voltaram a cair entre os contratos a partir de janeiro de 2026.
“Os (yields dos) Treasuries caem e derrubam um pouco os juros aqui”, comentou à tarde o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior. “A probabilidade de uma recessão nos EUA aumentou consideravelmente. E se a recessão vier, o ajustamento dos activos ainda nem começou”, acrescentou.
O contrato de janeiro de 2025, porém, divergiu do restante da curva, encerrando o dia com a taxa um pouco mais alta. Segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, o fato do dólar estar em patamares elevados em relação ao real fez com que o mercado visse maiores chances de a Selic, hoje em 10,50% ao ano, ter que subir nos próximos anos. meses.
Embora o dólar tenha perdido força durante o dia, ele foi cotado a 5,8655 reais no mercado à vista no início da sessão.
“(Hoje) o mercado aumenta a chance de taxas de juros (Selic) mais altas, seja na próxima (reunião do Copom) ou nas subsequentes”, destacou Serrano.
Para o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado, a curva brasileira ficou alinhada nesta segunda-feira com o pânico externo.
“O fato é que o movimento de enfraquecimento do real impacta a inflação. E não é apenas o pico pontual do dólar. Temos um longo período de dólar alto”, disse.
Com o movimento desta segunda-feira, próximo do fechamento, a curva brasileira previu 57% de chance de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano em setembro. A probabilidade de um aumento de 25 pontos base era de 43%. Na sexta-feira os percentuais eram de 72% e 28%.
No exterior, os rendimentos dos títulos do Tesouro mais longos continuaram caindo no final da tarde, enquanto os curtos ficaram próximos da estabilidade. Às 16h49, a referência global para decisões de investimento caía 3 pontos base, para 3,762%. O rendimento do Tesouro de dois anos – que reflete as apostas na direção das taxas de juros de curto prazo – ficou estável, em 3,875%.
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