“Fiquei 145 dias internado no total. Fisicamente foi muito complicado, coloquei três próteses, tive que raspar meu osso, tive uma infecção hospitalar. Eu não consegui me levantar.
Houve um dia em que tomei a embalagem inteira do medicamento, de preferência apenas dois. Tomei tudo de uma vez porque não aliviou a dor nem me fez relaxar, o que teoricamente deveria acontecer.
Não satisfeito, ainda encontrei uma caixa de novalgina e coloquei tudo dentro. No dia seguinte, eu simplesmente não acordava, não conseguia me mexer. Eu poderia ter tido uma overdose.
Tenho que ter consciência de que o homem que eu era antes da pandemia não está mais aqui. Uma série de coisas que eu fazia antes não posso mais fazer, mas a gente se adapta.
Esqueça o passado e siga em frente. Você aprende a conviver com a dor, seja pela prótese de perna, pela fisioterapia, ou mesmo pela dor que é consequência da Covid e da idade.
Tive muitos gases, hoje malho um pouco e não tenho mais as mesmas forças. Até para sair, jantar com minha esposa, depois de duas horas preciso voltar para casa.
Não é mais possível passar o dia inteiro fora de casa, visitar um amigo, correr ao shopping ou fazer outras coisas juntos. Fico bastante cansado por causa de tudo que passei.
O aspecto psicológico geralmente também nos afeta. Vejo um psicólogo pelo menos uma vez por semana. Mas de vez em quando eu me perco um pouco. Sinto dor, então o pânico ou a insegurança se instalam.
Fiz um check-up essa semana e algo parecia estranho ali, tive que esperar alguns dias pela ressonância, mas até esse dia chegar passei o final de semana tomando remédio. Como eu estava muito perto da morte, qualquer coisa que pudesse ser problema ou perigo causava desespero. Mas, graças a Deus, não foi nada.
Estou trabalhando muito na minha ansiedade também. Às vezes estou quieto, assistindo televisão, por exemplo, e explode uma ansiedade absurda. Já tenho prática quando isso acontece. Se sinto que estou começando a sentir agonia, saio, tento meditar ou começo a fazer flexões, agachamentos, caminhadas, para produzir endorfinas.
Se já tomei uma proporção muito grande, tomo duas gotas de Rivotril e fico seguro, mas procuro meditar ou praticar algum esporte. Quantas flexões eu puder aguentar, até meu braço tremer ou até chegar à exaustão. Eu simplesmente não deixo crescer.
Um dia após o outro. Hoje pode ser ruim, mas amanhã será diferente. Eu me dou duas horas para ficar triste, depois vou me esforçar para melhorar e seguir em frente com minha vida. Não tenho mais aquelas crises graves que costumava ter.
Quando saí do hospital, estava na cama e de repente não conseguia falar, minha perna tremia, meu coração começou a bater e não consegui pedir ajuda. Foi nesse nível. Nessa época, eu tomava quase 30 medicamentos por dia. Minha psicologia era uma merda. Hoje posso dizer que sou normal. Porque nesse mundo louco quem não tem ansiedade não é normal.
Criei rotinas que funcionam para mim. Procuro dormir cedo, acordar cedo, treinar, planejar meu dia, minhas metas diárias e não pensar no passado.
Não posso mais lutar jiu-jitsu, não sei se vou conseguir surfar de novo, não posso mais correr como antes. O que posso fazer? Eu sei nadar, então vamos nadar. Posso andar de bicicleta, fazer musculação e assim por diante. No geral, sou muito grato por tudo.
O que me levou a alcançar esses bons resultados físicos e psicológicos foi a gratidão e o aprimoramento da minha espiritualidade. Sempre acreditei em Deus, sempre fui religioso, mas converso com Ele muito mais do que antes. Cinco a dez vezes por dia. Agradeço por acordar, agradeço pelo dia, espero que o dia seguinte seja bom, espero pelos meus filhos que a entrevista seja boa. Desde pequenas até grandes coisas. Falo com Ele, como se fosse entre um velho amigo. Isso me ajudou muito. Apesar de termos família, temos amigos, mas quando você está com problemas, no hospital, você fica sozinho. Pode haver um milhão de pessoas ao seu redor, mas o que está na sua cabeça e o que está no seu coração, só você sabe.
Não pensamos na morte. Temos planos, coisas que queremos fazer, metas para o resto da semana, mas não achamos que tudo possa acabar nos próximos 15 minutos. Quando você passa por uma experiência traumática como a que eu tive, qualquer coisa pequena é boa, é legal e eu agradeço.
Fiquei 40 dias sem beber água, pedi pelo amor de Deus para beber gotas d’água. Uma das enfermeiras mergulhou um pedaço de algodão na água e espremeu de 3 a 5 gotas de água. Só valorizamos essas coisas que chamamos de pequenas quando precisamos delas. Eles não são pequenos, são gigantescos.
Os grandes são pequenos: carreira, ganhar dinheiro. Isso é ótimo, não sejamos hipócritas, mas apenas poder andar, conversar, respirar, tomar banho sozinho, namorar sua esposa. Eu estava de fralda e uma enfermeira veio limpar minha bunda. Foram tempos muito difíceis. Você acaba ganhando uma nova perspectiva de vida.
Outra coisa que me ajudou muito nesse período foi a meditação. Como não consigo mais fazer Yoga devido às próteses, não tenho mais grande flexibilidade para realizar os exercícios, medito pelo menos 5 vezes por semana. Mesmo que sejam 10 minutos. Tento parar tudo no meu dia, esvaziar minha mente de quaisquer pensamentos e tentar me conectar comigo mesmo.
Hoje reservo 30 minutos do meu dia para as redes sociais. Gosto, comento, vejo as coisas, mas depois desse tempo não vejo e não faço mais nada. Por exemplo, se preciso postar alguma coisa, não entra nesses 30 minutos porque é algo profissional, de trabalho.
Então eu posto e vou embora, não vejo os comentários, nada. Nos meus 30 minutos procuro algo que gosto. Porque ainda tem isso, não sabemos o que vamos ver nas redes sociais, pode ser algo que te traz felicidade, pode ser algo que te traz raiva.
Algo que estou usando e que me proporcionou uma melhora absurda no sono, na ansiedade e no estilo de vida foi a cannabis. Eu estava usando dois remédios preto e branco e cortei, deixo um ao lado da cama para dormir, quando estou com muita dificuldade eu recorro, mas é uma vida diferente.
Comecei a ler sobre canabidiol há dez anos. Quando morei na Califórnia já se falava em maconha medicinal, aí comecei a ver e ler sobre canabidiol. Fiquei muito reticente, tomei a primeira vez por dor, antes mesmo de descobrir que precisava de uma prótese.
Achei que isso poderia me deixar chapado, mas não é nada disso. Quando você vai dormir, você se sente relaxado e leve. A marca preta significa que você acorda um pouco ferido no dia seguinte, com a cabeça pesada, mas com o canabidiol você não sente nada no dia seguinte.
É como beber chá de camomila, só que mais forte. Para mim, foi uma grande descoberta. Hoje existem mais de 1.800 produtos derivados da cannabis. Eu sabia do seu uso para doenças graves, como Alzheimer e Parkinson, mas não como melhoria na qualidade de vida.
Hoje em dia, se eu durmo mal, acordo me sentindo um lixo, não consigo fazer nada. E isso me ajuda muito, tanto no foco, na ansiedade e no meu caso, no sono. Tomo meio miligrama por noite. Demora cerca de duas horas para fazer efeito. Tomo depois do jantar, assisto um pouco de televisão, começo a desligar as telas, diminuir as luzes, por volta das 21h está tudo desligado. Aí pego um livro e começo a ler, consigo até umas 22h, depois disso meus olhos já ficam pesados, quase fechando. É um sono muito agradável.
Por incrível que pareça, a doença foi um dos meus melhores presentes na vida. Senti muita dor, entrei em pânico, quase morri três vezes, muita gente ao meu lado sofreu, mas eu passaria por tudo de novo para ter aprendido o que aprendi.
Reaprendi a viver, é isso que falta a todos. Antes eu perdia nas redes sociais um tempo que poderia ter passado com meus filhos, brincando, lendo, jogando, assistindo séries.
Chega um momento que a gente passa a valorizar as pequenas coisas, que são as maiores e mais importantes. Temos que aprender a não nos levar tão a sério, a vida precisa ser mais leve. A maneira como você reage aos problemas faz a diferença, eles existirão, estão aí e todos nós os teremos. Dê valor ao que realmente tem valor.”
*em depoimento a Eduardo F. Filho
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