O tênis de mesa é um esporte totalmente dominado por competidores asiáticos, principalmente chineses, e nunca teve um medalhista olímpico vindo das Américas, história que pode ser mudada por um brasileiro.
Semifinalista das Olimpíadas de Paris 2024, Hugo Calderano pode ser o primeiro mesatenista do continente a subir ao pódio e se juntar a um pequeno grupo de não-asiáticos que conquistaram medalhas em Jogos Olímpicos.
Caso vença o duelo com o sueco Truls Moeregaardh, às 9h30 desta sexta-feira, irá à final e confirmará a conquista.
“É muito difícil. Estou lutando, não só eu, mas os atletas estão lutando contra treinadores, tradições, que é o que acontece na China e na Ásia em geral, e em alguns países da Europa. É um grande desafio para mim, mas no ao mesmo tempo, é disso que gosto no meu esporte, preciso ultrapassar os limites e quebrar essas barreiras para levar tanta alegria ao meu povo”, diz Calderano em entrevista ao Estadão.
Apenas quatro países fora da Ásia conseguiram chegar ao pódio olímpico do tênis de mesa. O único ouro é da Suécia, conquistado por Jan-Ove Waldner em Barcelona 1992 – os suecos também têm uma prata e um bronze. Alemanha (quatro pratas e cinco bronzes), França (uma prata e um bronze) e ex-Iugoslávia (uma prata e um bronze) completam a lista.
O domínio chinês é flagrante. São 60 medalhas para a China, sendo 32 de ouro, 20 de prata e oito de bronze. A nação que mais se aproxima é a Coreia do Sul, com três ouros, três pratas e 12 bronzes, num total de 18 medalhas. Em terceiro lugar no ranking está o Japão, com oito pódios – um ouro, uma prata e quatro bronzes.
No Brasil, o tênis de mesa teve nomes relevantes ao longo da história, mas nunca um atleta subiu tanto de nível quanto Calderano. O esporte é praticado no país desde 1903, trazido por turistas ingleses, mas o caminho para a profissionalização foi longo.
Os brasileiros começaram a participar de torneios mundiais no final da década de 1940 e tiveram alguns episódios marcantes, como a vitória de Ubiraci Rodrigues da Costa, conhecido como Biriba, aos 13 anos, sobre o então campeão mundial Rong Guotuan, no Pequim Copa do Mundo em 1961. .
O desenvolvimento da prática se acelerou na década de 1980, com as primeiras medalhas conquistadas nos Jogos Pan-Americanos, pouco antes de o esporte se tornar olímpico, ao ser incluído nas Olimpíadas de Seul, em 1988. Claudio Kano, que mais tarde morreria em um acidente de carro em no dia da partida para os Jogos de Atlanta, em 1996, e Carlos Kawai foram os representantes do Brasil na primeira disputa olímpica de tênis de mesa.
Durante a década de 1990 começou a surgir o talento de Hugo Oyama, que chegou às oitavas de final em Atlanta, na época o melhor resultado alcançado por um mesatenista brasileiro em Olimpíadas. Oyama ajudou na evolução do esporte e se tornou um personagem respeitado no esporte, dominante nas Américas com dez medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos entre competições por equipes, duplas e individuais. Ele chega a ser citado em um episódio da série americana The Office, do personagem Dwight, que diz ter “um pôster em tamanho real de Hugo Hoyama na parede”.
Um Hugo se conecta a outro na evolução do tênis de mesa brasileiro. Talento promissor desde as primeiras raquetes, Calderano chamou a atenção aos 15 anos, em 2011, quando derrotou Oyama pela primeira vez. Depois de se destacar em campeonatos de base, o carioca aprimorou seu jogo ao fazer carreira na Alemanha, país fora da Ásia com melhor desempenho no esporte, a partir de 2014. Um ano antes, o Brasil conquistou sua primeira vitória em uma etapa de o Circuito da Copa do Mundo para a América do Sul, com Cazuo Matsumoto
À medida que acumulava mais experiência no cenário alemão, Calderano ganhou mais relevância e quebrou barreiras que seus antecessores não quebraram, embora tenham aberto caminho para isso. Em 2018, alcançou o Top 10 do ranking mundial, maior conquista de um mesatenista das Américas no atual formato de classificação da Federação Internacional de Tênis de Mesa. Sua melhor posição no ranking foi o terceiro lugar, chegando em 2022.
Nas Olimpíadas, o carioca teve sua primeira experiência durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, onde chegou como cabeça-de-chave 4 e como o melhor não asiático do ranking. Acabou eliminado nas quartas de final, perdendo por 4 sets a 2 para o alemão Dimitrij Ovtcharov, que já havia sido medalhista de bronze em Londres 2012 e repetiu o feito no Japão.
Chegar às quartas de final já foi o melhor resultado olímpico do tênis de mesa brasileiro. Portanto, chegar à semifinal foi um feito inédito, e não apenas no que diz respeito ao Brasil. É a primeira vez que um atleta de fora da Ásia ou da Europa chega a esta fase da competição. “Fiquei emocionado depois da partida. É ótimo representar um continente inteiro. Ao mesmo tempo, quero muito mais”, disse Calderano.
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