Ao longo de meses, PSOL e PSB trabalharam juntos para construir uma aliança para a eleição em Florianópolis em torno da candidatura do deputado estadual a prefeito Marquito (PSOL). Indicação de candidatos a vereador discutida, fotos nas redes sociais, conversas avançadas para garantir apoio do PSB.
Aí vem uma ordem da direção nacional do PSB e o jogo muda: o partido deve formar uma coligação com o PT e apoiar o candidato petista, Vanderlei “Lela” Farias. “As ordens do comando nacional não se discutem, são cumpridas”, afirma o presidente do diretório municipal do PSB, Homero Gomes, ele próprio um entusiasta apoiador de Marquito, mas que, em nome da unidade partidária, cumpriu a ordem superior .
Apoio do PSB dependia de reciprocidade
A história da mudança de planos do PSB envolve uma palavra: reciprocidade. Em Santa Catarina, as siglas fecharam parcerias em diversas cidades, incluindo Garopaba, Imbituba e Penha.
O apoio do PSB ao deputado Marquito, porém, estava condicionado à reciprocidade de apoio do PSOL em algumas capitais.
“Era o desejo de ambos os partidos devido à liderança do deputado Marquito, que tem legitimidade para liderar o processo, mas havia necessidade de uma demonstração inequívoca de reciprocidade por parte do PSOL, e precisava ser mais uma capital” , destaca Homero Gomes.
Nas conversas, foi discutido o apoio do PSOL em Recife (PE), onde o prefeito João Campos (PSB) aparece bem à frente nas pesquisas. Sem acordo, era hora de tentar formar uma aliança em torno da candidatura do deputado federal Duarte Junior (PSB) em São Luís (MA). Nada foi feito também, restou a última artimanha: o apoio ao candidato Luciano Ducci (PSB) a prefeito de Curitiba (PR).
“Pedimos por Curitiba, onde o pré-candidato do PSOL aparece com 0,1% nas pesquisas. Houve um sinal de que poderiam retirar a candidatura e apoiar-nos, o que me deixou esperançoso. Mas também não houve acordo e não houve alternativa ao PSB, o que lamentamos profundamente”, afirma Gomes.
Chance de recuperação é remota
A crónica política está cansada de mostrar que, tal como no futebol, o jogo “só acaba quando acaba”. Porém, a chance de uma reviravolta que coloque todos novamente no mesmo barco é praticamente nula, pelo menos no primeiro turno.
“Não vejo nenhuma chance de aliança. Não há elemento para acreditar nisso, a não ser que haja algo nacional”, garante Gomes.
Não é isso, porém, o que pensa o presidente do diretório estadual do PSB, Israel Rocha. Embora considere muito difícil, Rocha tem uma esperança remota de que tudo estará resolvido até sábado. “Ainda queremos o apoio do PSOL”, afirma.
PT aguarda “gesto” do PSOL
A posição é compartilhada com o presidente interino do PT estadual, Vitor Silveira, que disse ainda esperar “um gesto” do PSOL nestes dias que antecedem as convenções do partido, marcadas para o próximo sábado, às 9h – a do PSOL, na Câmara dos Deputados. Vereadores e o PT, no auditório do Cesusc, em Santo Antônio de Lisboa.
“Estamos conversando e até lá pode correr muita água”, avalia Silveira, para quem a aliança PT/PSB seguiu um “processo natural” que, entende, pode ter causado algum desconforto, mas foi um movimento necessário para criar condições enfrentar adversários, principalmente o PL, e que conta muito o fato do PT ser o partido do presidente da República.
O que foi oferecido ao PSOL é a vaga de vice-presidente na chapa de Lela. O nome, segundo o líder petista, viria de uma decisão interna dos Psolistas. “Seria um gesto para a cidade”, finaliza.
Legitimidade de ambos os lados
Apesar de lamentar a falta de acordo entre os dois partidos, Homero Gomes vê legitimidade nas candidaturas, a partir da representatividade das siglas hoje.
“A política se faz com liderança, não se faz em tubo de ensaio, nem à esquerda. O PSOL tem um deputado, três vereadores na Câmara de Florianópolis. O PT tem uma vereadora. Os partidos têm forte representação e legitimidade. Faz parte do jogo”, avalia.
Gomes invoca o momento político brasileiro para lamentar mais uma vez a situação que alterou o apoio do PSB. “Dado o momento que o país atravessa, é natural que (a esquerda) procure a unidade, mas infelizmente não foi possível. A base exige isso e não consegue entender esta situação.”
O sonho do presidente municipal do PSB era reeditar a frente ampla construída em 2020 em torno da candidatura de Elson Pereira (PSOL), tendo como vice o petista Lino Peres.
“É lamentável. Em 2020 assumi a presidência do PSB para construir essa frente ampla. Quem conseguiu construir isso se sente frustrado”, afirma Gomes, que aposta em um possível segundo turno para unir todos em torno de uma candidatura de esquerda na cidade.
Processo traumático, diz Marquito
O deputado Marquito também lamenta que o relacionamento não tenha terminado em casamento, com o apoio oficial do PSB à sua candidatura. “Este processo é traumático e lamentamos que todo este trabalho que construímos há mais de um ano não tenha tido qualquer influência na decisão que foi tomada”, afirma.
O candidato psolista destaca o caminho percorrido nas conversas e a parceria com o PSB. “Realizamos mais de 15 plenárias no nosso programa do movimento Floripa Mais Querida e construímos cada uma delas junto com valiosos companheiros do PSB.”
Retomada futura
O rompimento do relacionamento, porém, não significa, na visão do deputado, o fim da possibilidade de retomada do relacionamento, especificamente em um possível segundo turno.
“Essa relação é fruto de um trabalho muito artesanal. Garantimos apoio em importantes cidades do estado, trabalhamos com os vereadores do PSB. Fizemos todo o possível. Por isso sentimos essa desistência, mas seguimos firmes no nosso propósito de disputar a cidade, chegar ao segundo turno e vencer essa eleição”, diz Marquito, de olho no apoio do PSB, PT e PC do B na disputa final .
Da parte do PT, há também a convicção da possibilidade de um segundo turno que reúna os partidos de esquerda, mas, neste caso, em torno da candidatura do PT. “Pesquisas apontam possibilidade de Lela ir ao segundo turno”, diz o presidente interino do PT de Santa Catarina.
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