No passado, Santa Catarina já votou massivamente em Lula, do PT, virou PSDB e Aécio Neves e, nos últimos anos, aderiu fortemente à onda bolsonarista. Porém, mesmo com todas essas mudanças de rumo, uma situação permanece inalterada: a liderança tranquila do MDB no número de membros no Estado.
De acordo com uma pesquisa realizada pela TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e divulgado nesta sexta-feira (26), 182.652 pessoas residentes em Santa Catarina são filiadas ao MDB.
“O MDB é um partido com raízes profundas, não é qualquer onda ou vento que o derruba! É uma marca. Se fizermos uma campanha de adesão, em 30 dias vamos cadastrar 10 mil pessoas”, afirma o presidente estadual do partido, deputado federal Valdir Cobalchini.
Segundo o dirigente, vários fatores explicam essa liderança. A primeira é a proximidade com a população dos municípios.
“O MDB tem cara de gente própria. Suas lideranças nos municípios são muito ligadas à base, estão na estrada há muitos anos, se misturam com a população, e isso não acontece só em época de eleições. É uma ligação presencial, as pessoas acham fácil”, explica.
Cobalchini também credita esta fidelidade ao reconhecimento do que já foi feito pelos dirigentes do partido. “Há muitas escolas, há muitos quilómetros de estradas e serviços prestados à população.”
Por fim, o presidente do partido vê o “empoderamento” dos dirigentes municipais como uma forma de fortalecimento. “Realizamos eleições para direcções municipais. O MDB é democrático nos municípios. Isso dificulta muito, por exemplo, fazer uma intervenção e empodera a base dentro do partido”, afirma.
A situação, porém, não permite que o partido se acomode, segundo o presidente. “O MDB joga bem nas eleições municipais, mas o Executivo estadual tem que fazer a sua parte e manter a militância motivada”, finaliza.
“Trânsito” entre diferentes ideologias ajuda o MDB, diz cientista político
Assim como Cobalchini, o professor Tiago Borges, do departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina, identifica diversos fatores para explicar a manutenção dessa fidelidade ao MDB.
“Um deles é o calendário eleitoral. O calendário é diferente para as eleições presidenciais e municipais, o que reduz a necessidade de ligação com os líderes nacionais. O efeito da coordenação das candidaturas com as forças nacionais não é claro”, afirma.
O segundo fator elencado por Borges é que o MDB, tradicionalmente, transita entre diferentes forças. “O partido permite uma ‘flexibilidade ideológica’, o que significa que podem coexistir figuras de diferentes orientações ideológicas. Permite, por exemplo, que alguns prefeitos do MDB apoiem Jorginho Mello e outros não.”
Por fim, o professor – doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo – lembra a transição do partido nas décadas de 1990 e 2000, quando o partido se fortaleceu do ponto de vista municipal. “Eventualmente tem força nos Estados, mas é maior no nível municipal.”
Segundo Borges, o MDB também era mais forte nacionalmente, mas o próprio sistema político restringia as opções. “Já tivemos um momento de forte conflito entre PT e PSDB, que durou 20 anos. Agora é entre PT e PL. Acaba sobrando pouco espaço para outros.”
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