Banco Master tenta convencer o IMPCG a investir até R$ 10 milhões, com juros de 10,45% ao ano. Depois, vai emprestar esse dinheiro para servidores cobrando 54% ao ano
Aproveitado de decreto publicado em 19 de abril para conceder empréstimos a funcionários municipais de Campo Grande, o banco Master (Credcesta) quer usar o dinheiro dos próprios funcionários, pagando juros de 0,87% ao mês, e emprestá-lo cobrando taxa de 4,50 %, o que é 417% acima do que seria pago aos servidores.
A informação consta de ata do comando do Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande (IMPCG), responsável pelo pagamento das pensões dos servidores públicos.
Em reunião realizada no dia 1º de abril, o comando do IMPCG tentou convencer a diretoria do Instituto e aplicar parte dos R$ 10 milhões em dinheiro no banco Master, que prometia remunerar o dinheiro dos funcionários municipais com juros de 10,45% ao ano. ano, e cobra 54% ao ano dos funcionários que estão com “laço no pescoço” e precisam pedir empréstimo.
A taxa oferecida pela Master ficou um pouco acima dos 9,64% e 9,54% oferecidos pelo Itaú e Bradesco, respectivamente. No entanto, o pedido não foi aprovado naquela data porque representantes dos sindicatos de professores e dentistas se opuseram.
Em suas argumentações, argumentaram que as aplicações devem ser feitas em bancos estaduais, como Banco do Brasil e Caixa. Eles até admitiram aplicar os recursos em bancos tradicionais, como Itaú e Bradesco, mas descartaram o Master.
Para eles, é muito arriscado investir grandes volumes em um banco virtual que ninguém sabe se sobreviverá por cinco anos, período em que a aplicação estava sendo discutida. Lembraram mesmo que a IMPCG já perdeu muito dinheiro devido à falência do Banco Rural, que faliu em 2013.
No final dessa reunião foi decidido que seriam convidados representantes dos três bancos privados para explicar as suas propostas. Porém, segundo o cirurgião-dentista David Chadid Warpechowski, representante do sindicato dos dentistas e que foi um dos adversários do pedido no Master, até o momento o conselho deliberativo do IMPCG não foi informado se o pedido foi definido ou não.
ILEGALIDADE
Para o advogado Márcio Almeira, que representa uma série de sindicatos de servidores, o decreto de abril que definiu novas regras para liberação de empréstimos tende a ser alvo de ações judiciais por parte dos servidores.
Isso porque o decreto permite que até 81,5% da renda dos servidores sejam comprometidas com empréstimos e descontos em previdência e planos de saúde. Esse percentual, segundo ele, pode ocorrer no caso de servidor aposentado que tem esposa e filho dependente do plano de saúde.
A legislação, porém, estipula que apenas 70% da renda do trabalhador pode ser comprometida por esses descontos, explica o advogado. E, o aumento dessa margem de descontos foi feito exatamente pelo decreto de 19 de abril, que beneficiou, segundo ele, apenas o banco Master, que passou a oferecer empréstimos por meio do Credcesta.
Devido às alterações feitas por esse decreto, milhares de funcionários que já estavam endividados perderam a margem de empréstimo do crédito consignado tradicional e estão sendo “bombardeados” pelas ofertas de crédito da Credcesta.
A diferença é que o crédito consignado tradicional pode ser obtido por até 1,2% ao mês, com teto de 1,7%. A Credcesta, segundo acordo firmado com a prefeitura da capital, pode cobrar até 4,5% ao mês.
Se um servidor fizer um empréstimo de R$ 25 mil, ao final de 120 meses terá que desembolsar cerca de R$ 150 mil para quitar a dívida, segundo propostas enviadas pelos agentes da financeira. Se você contratar o mesmo empréstimo por meio de um empréstimo consignado tradicional, será obrigado a pagar cerca de R$ 55 em dez anos.
“A mudança tornou os funcionários que já estão endividados como reféns desta instituição financeira. Isso é algo imoral e já estudamos a possibilidade de recorrer à Justiça para tentar reverter essa situação”, afirma o advogado Márcio Almeira.
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