Como o COB se prepara para cuidar da saúde mental dos atletas na Olimpíada de Paris

Além da preparação física dos atletas, a dinâmica do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) nos Jogos Olímpicos Paris 2024 inclui trabalhos especiais, focado na saúde mental da delegação. Nesta Olimpíada, estarão dez profissionais especializados em psicologia do esporte.

O número é 250% superior ao registrado nos Jogos de Tóquio, quando as competições aconteceram em meio à pandemia de Covid-19. Além deles, pela primeira vez o Brasil terá um psiquiatra em sua equipe.

O aumento da equipe de saúde mental do COB ficará localizado em locais de treinamento e competição em Paris. Além disso, estarão disponíveis no Chateau de Saint-Ouen, local escolhido pelo comitê para servir como sede do Time Brasil na França. O espaço custou 400 mil euros (cerca de R$ 2,2 milhões), sendo 50% custeado pela prefeitura de Saint Ouen e 50% pelo COB.

“Toda a nossa preparação final é feita de forma bem alinhada para que possamos oferecer o melhor atendimento possível aos atletas que estarão em Paris e nas sub-sedes dos Jogos. o trabalho que temos feito ao longo de todo o ciclo olímpico”, explica Eduardo Cillo, coordenador de psicologia do esporte do COB.

Durante o ciclo olímpico, a missão do COB em Paris custou R$ 52 milhões. Nos Jogos de Tóquio, realizados em 2021, o COB contou com quatro psicólogos na delegação. O aumento também se deve à importância que a entidade vê nessa questão comportamental e ao impacto que ela causa nos atletas.

Na mesma edição, a ginasta Simone Biles desistiu de participar por motivos de saúde mental – ela tinha dificuldades e tinha medo de realizar os saltos. Na delegação brasileira, o nadador Bruno Fratus, que não estará em Paris devido a lesões, desistiu de participar dos Jogos Pan-Americanos de 2023 para priorizar sua saúde mental.

O Brasil terá a presença de outras quatro psicólogas do COB em Paris, além de Cillo – Aline Wolff, Carla Di Pierro, Carla Ide e Marisa Markunas. Os demais, que completam o time de dez, foram “emprestados” pelas confederações e suas identidades não foram reveladas à reportagem do Estadão.

Outra novidade é a presença de Helio Fádel, atual coordenador do Centro Vasco de Saúde Mental, que será o primeiro psiquiatra do Brasil a atuar em Jogos Olímpicos.

Importância dos cuidados de saúde mental

Segundo pesquisas e estudos realizados pela Unicamp e FondaMental, cerca de 30% dos atletas do mundo sofrem de alguma doença mental, desde depressão até casos mais graves.

“Precisamos preparar os atletas estreantes para lidar pela primeira vez com tudo isso e lembrar aos veteranos os desafios na Vila Olímpica, alertá-los sobre distrações e convivência com atletas de diferentes modalidades e países”, detalha Cillo.

Em comparação, o Brasil está em “pé de igualdade” com os demais comitês. Os Estados Unidos, por exemplo, contam com 14 profissionais especializados em saúde mental para atuar no Paris-2024.

Jessica Bartley, diretora sênior de serviços psicológicos do Comitê Olímpico e Paraolímpico dos EUA, disse que cerca de metade dos atletas do país nas duas últimas Olimpíadas foram sinalizados por pelo menos um dos seguintes: ansiedade, depressão, distúrbios do sono, distúrbios alimentares e uso de substâncias. ou abuso.

O Brasil terá 274 atletas na delegação enviada a Paris. E, pela primeira vez na história, as mulheres são maioria. Serão 55% do total, de 39 modalidades diferentes, que competirão na capital francesa a partir do dia 26 deste mês.

O número pode ser um pouco maior, considerando que o trio de atletismo – Hygor Gabriel, do revezamento 4x100m, Lívia Avancini, do arremesso de peso, e Max Batista, da marcha atlética – tenta reverter a situação e garantir vaga nos Jogos Olímpicos .

“A importância da preparação mental para atletas de alto rendimento reside na integração de um conjunto de ciências que visam garantir um estado mínimo de saúde mental e rendimento desportivo. Numa rotina intensa e exigente como a destes atletas, manter a cabeça no lugar é fundamental evitar o cansaço, a perda de motivação e manter o foco e a concentração, essenciais para o sucesso na competição”, destaca o coordenador de psicologia esportiva do COB.