Instalada nos municípios de Chapada Guimarães e Nova Brasilândia, no Mato Grosso, a Usina Hidrelétrica Mimoso liberou um volume extra de água ao longo de três semanas a partir do final de junho e isso pode evitar que o Rio Paraguai atinja o nível mais baixo desde o início das medições , em 1900.
O aumento da vazão ocorreu entre 27 de junho e 18 de julho e, com isso, o nível do rio Cuiabá, principal afluente do rio Paraguai, subiu 70 centímetros durante um período de seca extrema.
No dia 27 de junho, o nível na régua de Cuiabá era de 90 centímetros. Dez dias depois, em 8 de julho, chegou a 1,57 no mesmo local. Depois disso começou a cair e nesta quinta-feira (25), está em 95 centímetros, ainda cinco centímetros acima do nível que estava antes do início da vazão extra na hidrelétrica a montante.
O reflexo desse fluxo aos poucos começa a ser percebido na régua do Ladário. Nos últimos 13 dias o nível no Ladário desceu apenas seis centímetros, o que representa menos de meio centímetro por dia. No dia 13 de julho eram 72 centímetros. Nesta quinta, com 66 centímetros.
Nos 13 dias anteriores o nível caiu 22 centímetros, representando uma média diária de 1,7 centímetros. Ou seja, se não fosse a água extra, o rio já estaria na casa dos 50 centímetros esta semana.
QUOCIENTE DE VAZÃO
Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram que no dia 26 de junho a vazão na hidrelétrica era de 80 metros cúbicos por segundo. Depois disso aumentou lentamente e em 6 de julho atingiu o máximo de 183 metros cúbicos por segundo.
Por mais 12 dias a vazão caiu e a partir de 19 de julho retomou a vazão normal de 81 metros cúbicos por segundo. Esse volume é fundamental para evitar uma queda ainda mais rápida do nível de todo o rio Paraguai. A vazão é quatro vezes maior do que a que entra no lago pela hidrelétrica de Manso. No dia 22 de julho, por exemplo, entraram 20 metros cúbicos e saíram 81.
Para efeito de comparação, a hidrelétrica de Itiquira, instalada em Sonora, na divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso, e que é outro importante rio que deságua na região do Pantanal, tem vazão atual de 42 metros cúbicos por segundo.
Porém, a vazão da hidrelétrica de Manso este ano é bem menor do que no período seco de 2021, ano em que o rio Paraguai atingiu seu segundo menor nível desde 1900 na régua do Ladário, que serve de referência para todo o Pantanal bacia.
Em 2021, o rio caiu para 60 centímetros abaixo de zero. Só foi pior em 1964, quando atingiu 61 centímetros abaixo de zero.
SEM GARANTIA
Mas esta água extra libertada ao longo de três semanas não significa que a situação no Ladário não seja pior do que em 2021. Nesse ano, por exemplo, durante todo o período de seca foram libertados na fábrica de Manso entre 120 e 130 metros cúbicos por segundo. Agora, o volume médio é 50% menor.
Em 2021, o nível do lago daquela barragem estava em apenas 28% no dia 23 de julho. Nesta terça-feira (23), estava em 49,7% da capacidade. Ou seja, caso o Operador Nacional do Sistema (ONS) determine, a vazão poderá ser aumentada para evitar a pior seca da história do Rio Paraguai.
Este cenário desolador, resultado de chuvas 40% abaixo da média desde outubro do ano passado, se agiganta quando se compara o nível do rio Paraguai no final de julho de 2021 (ano da segunda pior seca da história) com o nível atual.
Em 25 de julho de 2021 o nível era de 1,06 metros. Nesta quinta, usando a mesma régua, ficou 40 centímetros abaixo disso.
CONSEQUÊNCIAS DA SECA
Apesar do nível baixo, ainda há muita água no rio Paraguai. Porém, o transporte de minério está paralisado desde o final do mês passado. E, se a liberação extra de água tivesse ocorrido mais cedo, a atividade de transporte poderia ter sido estendida por mais tempo.
A queda extrema do nível também tende a afetar a captação de água para abastecimento dos cerca de 118 mil moradores de Ladário e Corumbá. Prevendo que o nível fique abaixo de zero, a Sanesul já anunciou uma série de investimentos para baixar a sua estrutura de captação de água do rio.
A estatal já alugou uma balsa e adquiriu um conjunto motobomba específico para colocar no nível mais baixo do rio. Além disso, a empresa mudou a forma como o sistema atual é automatizado para manter a vazão mesmo em níveis baixos dos rios.
A BARRAGEM
A barragem do Manso foi formada há 25 anos, numa área de 427 quilómetros quadrados, ou 42,7 mil hectares. Atualmente é controlada por Furnas, mas seu sistema de vazão segue a regulamentação do ONS.
A Usina Manso, construída em parceria com a iniciativa privada, está localizada no estado de Mato Grosso, às margens do Rio Manso, principal afluente do Rio Cuiabá. O consórcio PROMAN, formado pelas empresas Odebrecht, Servix e Pesa, participa como sócio com 30% do total dos investimentos.
A partir de fevereiro de 1999, FURNAS passou a ser responsável pelos outros 70% anteriormente administrados pela Eletronorte.
Com potência instalada de 210 megawatts, a usina foi projetada para atender ao conceito de uso múltiplo do reservatório e da água. Entre os benefícios do Empreendimento Múltiplo Manso, o destaque é a regularização dos ciclos de cheias e secas do Rio Cuiabá, ajudando a reduzir os danos socioeconômicos, segundo o site da empresa.
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