A equipe terá a participação de outros representantes de estados brasileiros que enfrentam disputas fundiárias e demarcação
Após o lançamento do Programa de Irrigação do MS, nesta terça-feira (23), o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), afirmou que o conflitos entre produtores rurais e povos indígenas em diversas comunidades do Estado estão à mercê de atrasos nas decisões do Senado Federal, do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal).
A afirmação foi feita no salão da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do MS). Na ocasião, a Riedel anunciou ter recebido uma carta do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e do ministro do STF, Gilmar Mendes, para representar um grupo de trabalho com a missão de articular propostas na tentativa de solucionar o problema. problema.
“Está cobrando das autoridades que seja cumprida essa definição do governo federal em relação à aquisição dessas áreas. Todo esse ambiente de tomada de decisão do STF, do Senado Federal, do Congresso Nacional, a imobilidade de tomar isso atitude muitas vezes gera essa insegurança”, avalia.
Segundo o governador, é preciso permitir que sejam garantidos os direitos antagônicos dos povos indígenas.
“Direitos, colocados ilegitimamente, dificultam o progresso e isso causa insegurança para quem legitimamente tem sua área inscrita, cadastrada e é posta em xeque diante dos estudos de homologação, nos termos da legislação brasileira. Supremo você tem que dar essa resposta. A insegurança é quando essa resposta não existe, e hoje não existe, e isso dá origem a esse tipo de coisa”, define.
Em relação ao grupo de trabalho, também participarão do grupo representantes de estados como Santa Catarina e Paraná, que histórica e tradicionalmente convivem com conflitos fundiários.
“Santa Catarina está participando disso, o Paraná está participando e temos que buscar a união com todos. Uma solução envolvendo várias mãos, produtores, indígenas, Estado, União, Ministério Público Federal, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional , para que a gente acabe com esse tipo de situação, que é extremamente ruim para todos os envolvidos”, explica.
Conciliação no Prazo
Há duas semanas, o ministro Gilmar Mendes, do STF, marcou para o dia 5 de agosto o início dos trabalhos da comissão de conciliação que tratará das ações que envolvem o prazo de demarcação de terras indígenas.
O pedido de suspensão da deliberação do Congresso que validou o prazo foi negado pelo ministro e as propostas deverão ser discutidas previamente em audiências de conciliação.
As reuniões estão programadas para continuar até 18 de dezembro deste ano. Mendes também fixou o número de representantes que o Congresso e as entidades que atuam na proteção dos povos indígenas terão na comissão. A Articulação dos Povos Indígenas (Apib) terá seis representantes.
A Câmara dos Deputados e o Senado terão três membros cada. O governo federal terá quatro representantes, que deverão ser indicados pela Advocacia-Geral da União (AGU), pelos ministérios da Justiça e Segurança Pública e dos Povos Indígenas, além da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Cenário de Guerra
Desde o último domingo (14), quando começou o conflito entre os povos indígenas Guarani e Kaiowá da comunidade Panambi Lagoa Rica, localizada no município de Douradina (MS), e produtores rurais do entorno, o Ministério Público Federal (MPF) vem acompanhando e monitorar, através de diligência, a situação na região.
O conflito ocorreu numa área privada, na fronteira com duas áreas já ocupadas, chamadas Gwa’aroka e Guyra Kambiy. Conforme relatado pelos indígenas ao MPF, durante o final de semana houve uma tentativa de ocupação de parte da área reivindicada como território tradicional pelos Guarani e Kaiowá.
Com isso, os proprietários teriam se unido e formado um comboio com diversos caminhões para realizar a reintegração de posse, transportando fogos de artifício e armas com munições letais e não letais. Dois indígenas ficaram feridos, conforme apurou o MPF.
Nesta segunda-feira (22), o MPF propôs a realização de uma reunião entre as partes envolvidas no conflito e as instituições responsáveis pelo trabalho com os povos tradicionais e comunidades indígenas. A reunião aconteceu na sede do MPF, em Dourados, durante toda a tarde, com o objetivo de mediar uma solução para acabar com o conflito armado e a violência.
Representantes do
- Ministério Público Federal;
- Ministério dos Povos Indígenas;
- Procuradoria Geral da União;
- Defensoria Pública da União;
- Fundação Nacional do Índio;
- bancadas parlamentares federal e estadual de Mato Grosso do Sul (com a presença da senadora da República Tereza Cristina, dos deputados federais Rodolfo Nogueira e Marcos Polon e dos deputados estaduais Gleice Jane, Coronel Davi e Renato Câmara);
- Governo do Estado (Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos e Secretaria de Estado de Segurança Pública);
- ordenamento jurídico indígena, por meio do Aty Guasu;
- Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani;
- entidades locais representativas dos produtores rurais.
Durante a reunião, chegou-se a uma solução provisória, na qual a comunidade indígena, formada por cerca de 100 famílias, permaneceria na área de ocupação, porém, dentro de um perímetro delimitado a 150 hectares, e que pertence a um produtor rural que esteve presente na reunião.
Essa proprietária rural afirmou que não haveria interação com os indígenas, mas reivindicaria judicialmente a posse da terra. Esta solução provisória visa, prioritariamente, que a comunidade abandone a propriedade onde surgiu o conflito no domingo, e que resultou em feridos aos indígenas.
Além da apresentação desta proposta, ficou acordado entre os presentes que não haverá movimentação ou conflito nem por parte dos produtores rurais nem por parte dos Kaiowá e Guarani, até que haja uma solução consensual entre as partes. Uma nova reunião foi marcada para o dia 29 de julho, também na sede do MPF, em horário a definir.
Conflito
Lideranças indígenas afirmam que, há quase 20 anos, quando foi feita a primeira tentativa de ocupação da comunidade, houve o compromisso do poder público de que a aldeia receberia casas de alvenaria e infraestrutura básica, como água encanada e rede elétrica. , o que nunca aconteceu, sob a justificativa de que a área não está homologada.
Um estudo da FUNAI de 2011 reconheceu como terras indígenas pouco mais de 12 mil hectares do entorno de Panambi Lagoa Rica, porém, o processo de demarcação está embargado devido a um pedido de nulidade dos estudos por parte de produtores rurais, e que foi reconhecido em primeira instância. Contra essa decisão foi interposto recurso de apelação que aguarda julgamento no Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3).
Com informações da consultoria e da Agência Brasil
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