A socióloga e primeira-dama Janja Lula da Silva avaliou na noite desta quarta-feira (24) que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza poderia ser um instrumento eficaz para a construção de uma sociedade mais igualitária. A iniciativa envolve um compromisso internacional de mobilizar apoio político, recursos financeiros e conhecimento técnico com um único objetivo: disseminar políticas públicas e tecnologias sociais comprovadamente eficazes para a insegurança alimentar em todo o mundo.
Janja falou sobre o tema durante atividades realizadas no Rio de Janeiro, organizadas pela presidência brasileira do G20. São reuniões e eventos que fazem parte de uma agenda que abrange toda a semana. A primeira-dama participou num painel intitulado “Políticas Públicas de Combate à Fome e à Pobreza: Empoderando Mulheres e Raparigas para o Desenvolvimento Sustentável”, que decorreu no Galpão da Cidadania, sede da organização não governamental Ação da Cidadania. Fundado pelo sociólogo Herbert de Souza ou simplesmente Betinho, é ator central na mobilização nacional contra a fome desde a década de 1990.
Anteriormente, Janja esteve presente no evento liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que foi lançada a força-tarefa da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Na ocasião, o líder brasileiro disse que o sucesso da iniciativa depende da vontade política dos governantes.
“A fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela surge, acima de tudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-lo. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos”, afirmou.
A expectativa é que a Aliança Global contribua para promover experiências bem-sucedidas envolvendo transferência de renda, alimentação escolar, cadastramento de famílias vulneráveis, apoio à primeira infância, apoio à agricultura familiar, assistência social, protagonismo feminino e inclusão socioeconômica e produtiva, entre outros assuntos. Lula vem realizando reuniões e reunindo apoios. O presidente do Banco Mundial, o indiano Ajay Banga, elogiou os conceitos da iniciativa. A proposta brasileira também envolve tributar os super-ricos para financiar medidas concretas.
“Será um arcabouço de conhecimento e novas tecnologias para que possamos congregar políticas públicas de sucesso em todo o mundo. E o Brasil, graças à visão política do presidente Lula voltada para o combate à desigualdade, formulou políticas públicas que são hoje políticas que já estão no estrutura do Estado brasileiro”, disse Janja.
Usando um vestido produzido por bordadeiras de Bangladesh, Janja afirmou que estava prestando uma homenagem, considerando que o país asiático foi o primeiro a aderir à Aliança Global proposta pelo Brasil. Ela disse que estará na linha de frente na articulação da iniciativa e que aproveitará a oportunidade de estar em Paris nos próximos dias para discutir o tema em reuniões com autoridades políticas francesas. A primeira-dama viaja à capital da França para representar o presidente Lula na abertura dos Jogos Olímpicos, que acontece nesta sexta-feira (26).
“O educador Paulo Freire cunhou um verbo que não sei como as pessoas vão traduzir para o inglês: esperança. E o lançamento da Aliança Global hoje nos faz sentir o verbo. um instrumento para uma sociedade mais justa e igualitária”, acrescentou.
A primeira-dama lembrou que o Brasil consagra o direito universal à alimentação escolar e destacou ainda o sucesso do programa Bolsa Família, lembrando que os maiores beneficiários são as mulheres chefes de família. “Eles estão mais dedicados a apoiar os filhos”, avaliou. Segundo ela, as mulheres e as meninas são as mais afetadas pela pobreza.
Janja também lamentou que em 2022, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Brasil tenha sido incluído novamente no Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ela, o país precisa refazer um caminho que já ficou para trás. Em todo o Brasil, 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome em 2023. A insegurança alimentar grave, que afetou 17,2 milhões de brasileiros em 2022, caiu para 2,5 milhões no ano passado. Os dados fazem parte do Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (Sofi 2024), divulgado nesta quarta-feira (24).
As 19 maiores economias do mundo, bem como a União Europeia e, mais recentemente, a União Africana, têm assento no G20. O grupo estabeleceu-se como um fórum global de diálogo e coordenação sobre questões económicas, sociais, de desenvolvimento e de cooperação internacional. Em dezembro do ano passado, o Brasil sucedeu à Índia como presidente. É a primeira vez que o país assume essa posição no formato atual do G20, instituído em 2008. No final do ano, o Rio de Janeiro sediará a Cúpula do G20, e a presidência do grupo será transferida para a África do Sul .
A construção da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza é uma das prioridades do mandato brasileiro. O lançamento do grupo de trabalho é um primeiro passo. O anúncio oficial da iniciativa acontecerá durante a Cúpula do G20, em novembro.
Painel
Além da primeira-dama, os demais participantes do painel intitulado “Políticas Públicas de Combate à Fome e à Pobreza: Empoderando Mulheres e Meninas para o Desenvolvimento Sustentável” endossaram a proposta brasileira.
“Se unirmos forças, penso que a comunidade internacional pode combater a pobreza. É uma questão de vontade política. E estou convencido de que precisamos de colocar as mulheres e as raparigas como foco principal”, afirmou o Comissário da União Europeia para as Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen.
Segundo ela, até 2025, 85% das ações da União Europeia terão alguma componente de género. Ela avaliou que “as mulheres são a cara das mudanças climáticas” e destacou a recentemente anunciada doação de 20 milhões de euros ao Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para a diretora do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PAM), Cindy McCain, promover programas de alimentação escolar gera impactos positivos para as comunidades e faz a diferença na vida das crianças. “A priorização da alimentação escolar na Aliança Global é muito importante.”
Por sua vez, Elisabetta Recine, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional da Presidência da República (Consea), destacou a capacidade que as organizações comunitárias têm em apresentar soluções. Para ela, o sucesso dos programas brasileiros também é resultado da escuta das comunidades. “Eles trouxeram para a discussão das políticas públicas não só o pedido e a demanda, mas também a experiência e a solução”.
Elisabetta também pediu mudanças na arquitetura de financiamento das ações de combate à pobreza no mundo. Segundo ela, as instituições financeiras, como o Banco Mundial, precisam ter sensibilidade para lidar com o tema. “Não é por acaso que os países que mais se dedicam à questão da dívida sejam também os países com maior desigualdade”.
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