As borboletas não cobiçam apenas o néctar das flores, mas também podem ajudar na polinização graças a uma carga de eletricidade estática que acumulam ao voar, segundo estudo publicado nesta quarta-feira (24, noite de terça-feira em Brasília).
Os lepidópteros, ou seja, borboletas diurnas e noturnas, fazem parte dos insetos polinizadores, aqueles que transportam o pólen de uma planta com flores para outra para reprodução.
Esse papel tem sido minimizado por alguns estudos que consideram esses graciosos voadores como “parasitas”, mais sedentos de néctar do que qualquer outra coisa, observa o biólogo Sam England, do Instituto Leibniz de Ciências Evolutivas e da Biodiversidade, na Alemanha.
Este especialista acaba de publicar um estudo na revista Interface da Sociedade Real Britânica, onde mede pela primeira vez a capacidade de polinização das borboletas graças à eletricidade que o inseto acumula ao voar.
Foi só na década de 1980 que os biólogos presumiram que as forças eletrostáticas também poderiam desempenhar um papel neste processo indispensável para a reprodução sexuada das plantas com flores.
Cargas positivas e negativas
“É algo que não foi explorado detalhadamente em termos ecológicos”, observa Sam England em declarações à AFP.
A ideia é que, ao voar, o corpo do inseto acumule uma carga elétrica positiva, produzida pelo atrito das asas com o ar.
Dado que “uma boa proporção do pólen das flores tem carga negativa”, explica o biólogo, as cargas opostas atraem-se, direcionando o pólen naturalmente para o abdómen do inseto polinizador.
Este pólen adquire então uma carga positiva durante o seu transporte para outra flor, onde seria naturalmente atraído pelo campo eléctrico negativo dessa flor.
“Demonstramos que as abelhas acumulam cargas elétricas consideráveis”, segundo ele, mas “ninguém havia quantificado isso no caso das borboletas”.
Para seu estudo, derivado de sua tese de doutorado na Universidade de Bristol, no Reino Unido, Sam England mediu a carga elétrica líquida de onze espécies de borboletas, nativas dos cinco continentes.
Para isso, ele usou um picoamperímetro, instrumento que mede minúsculas cargas elétricas, colocado na saída de um túnel onde cada borboleta voou por pelo menos 30 segundos.
O resultado, segundo o pesquisador, é que “a maioria dos lepidópteros acumula carga elétrica positiva”.
Ele então utilizou um programa de simulação numérica para modelar o campo elétrico estabelecido entre o inseto e a flor, bem como seu efeito no pólen.
O estudo conclui que, em média, a carga elétrica do inseto fornece força eletrostática suficiente para elevar cem grãos de pólen a uma altura de 6 milímetros em menos de um segundo, até o abdômen da borboleta.
Tudo isso resulta na polinização “sem contato” entre a flor e o inseto.
O estudo descobriu que a capacidade de suporte das borboletas variava significativamente entre as espécies. O pesquisador sugere que isso pode estar relacionado à pressão evolutiva.
“Por enquanto são especulações, mas há correlações com diversos fatores ecológicos”, segundo Sam England.
“Alguns animais poderiam se beneficiar por serem bons polinizadores” com alta carga elétrica, “pois isso significaria que haveria mais plantas para eles se alimentarem”.
Por outro lado, outros poderiam beneficiar do transporte de uma carga eléctrica mais baixa, uma vez que a acumulação de pólen poderia atrasá-los e torná-los mais vulneráveis a ataques de predadores.
“Também descobrimos recentemente que alguns animais conseguem detectar outros graças à carga eléctrica que transportam”, como as lagartas, que desta forma sentem a proximidade de uma vespa.
O objetivo então para alguns insetos seria ficar “eletricamente invisível ou camuflado”, imagina o pesquisador.
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