O debate sobre a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que garante direitos aos trabalhadores, como férias, 13º salário e jornada máxima de trabalho de oito horas diárias desde a Era Vargas, atingiu um novo — e inusitado — patamar na questão social. mídia, especialmente no TikTok.
Com a tendência (tendência que incentiva os usuários das redes sociais a publicarem conteúdos semelhantes) “CLT Premium”, os usuários mostram sua rotina de trabalho dentro do regime CLT, mas com benefícios que vão muito além da realidade da maioria dos trabalhadores brasileiros.
Vale-refeição e alimentação superior a dois salários mínimos, home office, academia e espaço de lazer no escritório são algumas das vantagens que os privilegiados do que passou a ser chamado de “CLT Premium” exibem em seus perfis do TikTok, embora não sejam benefícios . obrigatória pela legislação trabalhista brasileira.
É uma espécie de ostentação de benefícios corporativos.
Ainda mais porque o Brasil é um país em que pouco mais de um terço da população ocupada trabalha informalmente, sem carteira assinada.
Mas o emprego formal está em ascensão. Segundo o IBGE, existem cerca de 38 milhões de trabalhadores registrados no Brasil, o maior índice da série, ante cerca de 13,4 milhões sem carteira assinada.
A tendência é seguida por jovens que postam vídeos em formato carrossel, mostrando sua rotina e o aproveitamento dos benefícios adquiridos.
Em geral, são titulares CLT da geração Z, grupo nascido entre 1995 e 2010. Nas publicações é possível ver milhares de comentários sobre o tema e opiniões diversas sobre a prática e os conjuntos de benefícios.
“Não imaginei tantos comentários”
João Vitor Paz, 22 anos, é gerente de contas em uma instituição financeira e sempre soube que queria um emprego estável.
Quando conseguiu uma vaga, demorou para descobrir que poderia ser um “CLT Premium”.
Ao saber da tendência que estava se tornando viral no TikTok, ele decidiu publicar um conteúdo apresentando também seu conjunto de benefícios. E também se tornou viral.
— Queria prestar concurso público, pois não via um caminho ideal para mim no CLT, mas com o tempo descobri a opção do banco e me interessei. Na época, eu trabalhava em uma empresa que ficava em frente a uma pequena instituição financeira. Gostei das roupas e atitude dos funcionários, resolvi descobrir como poderia trabalhar lá. Passei por um processo seletivo e consegui. Depois de um semestre nesse local, descobri uma vaga em uma instituição maior e me inscrevi no processo seletivo. Arrumei um emprego e estou lá até hoje. — explicou João Vitor Paz.
Seu vídeo já foi assistido por mais de 3 milhões de pessoas e recebeu milhares de mensagens.
A maioria são pessoas interessadas em ganhar um salário acima do atual e nos diversos benefícios oferecidos pelo cara.
“Para conseguir um CLT como esse, de qual curso eu preciso?”, escreve um seguidor. “Você poderia falar mais sobre sua carreira e como você obtém os benefícios?” perguntou outro seguidor. O jovem profissional diz que ficou surpreso com tanto interesse em seu vídeo:
— Não imaginava que receberia tantos comentários, bons, ruins… mas também com muitas dúvidas sobre a CLT e o mundo dos bancos. Então, para ajudar a desmistificar algumas coisas nessas áreas, comecei a fazer vídeos respondendo a alguns comentários. Além disso, sei que meus benefícios existem por conta do meu sindicato, mas acredito que a tendência pode ajudar a criar debates para uma melhor qualidade dessa relação entre empregador e empregado.
Ele continua:
— Acho que as pessoas ficam chocadas com o “Prêmio CLT” porque no Brasil temos a ideia de que os titulares de CLT não têm bons salários ou benefícios. Mas isso não é uma verdade única, então fiz meu vídeo para mostrar que existem possibilidades bacanas no CLT.
Debate aberto
A tendência se popularizou tanto que também abriu espaço para questionamentos sobre a qualidade do trabalho e da carreira dos profissionais CLT, bem como sobre a desigualdade no mercado de trabalho.
“Também sou “CLT Premium”, mas minha saúde mental fica prejudicada com as cobranças. Vale a pena?” perguntou um usuário do TikTok. “O problema é cumprir o cronograma da empresa. Sou mais empreendedor”, comentou outro usuário, refletindo um pensamento cada vez mais comum entre os jovens, mas não é o de João Vitor.
— Nunca pensei em abrir um negócio ou trabalhar por conta própria, sempre pensei que pessoas de sucesso eram competitivas. Hoje ainda não penso em abrir um negócio, mas já sei que concurso não é obrigatório para ter sucesso e sei que não é fácil. Venho de uma família de baixa renda, não é simples, mas é possível ter boa qualidade de vida no CLT — afirma o jovem profissional e TikToker.
Voltar ao portfólio assinado
O debate chamou a atenção da internet, mas não dos especialistas do mercado de trabalho, que já acompanham de perto o interesse dos trabalhadores mais jovens em retornar ao “emprego formal”, explica Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH):
— Os jovens estão voltando ao “emprego formal”, já observamos isso nos últimos anos, mas essa tendência ajuda a mostrar esse movimento. Antes da pandemia, a geração Z estava focada no empreendedorismo, trabalhando em projetos ou preenchendo vagas em startups, mas a pandemia trouxe dificuldades que fizeram com que muitas pessoas perdessem renda. Assim, os jovens começaram a olhar novamente para empresas “mais convencionais”.
Ser um profissional qualificado e um talento muito mimado pela empresa que quer mantê-lo em seu quadro também não é novidade no mundo corporativo.
O que hoje se chama “CLT Premium” é um tipo de bom emprego que existe há décadas nas empresas, mas que agora foi descoberto por jovens profissionais.
— O “prêmio CLT” não é novidade, talvez a novidade sejam os cargos que estão recebendo tais benefícios. Acontece que as empresas já ofereciam pacotes de benefícios mais robustos para cargos de alto escalão dentro de suas hierarquias, mas nos últimos anos temos visto uma popularização dos bônus oferecidos — explica Sardinha.
Ele continua:
— No passado, havia uma relação de altos salários acompanhados de altos benefícios. Porém, com o passar do tempo, as empresas passaram a investir mais na popularização de benefícios, investindo mais no aumento de bônus do que em salários. Dessa forma, muitas vezes você sai dos grupos satisfeito e sem necessidade de aumento salarial.
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