Preocupado com sua segurança e a de sua família, o ex-funcionário municipal de Sidrolândia Tiago Basso da Silva teve que deixar a cidade após denunciar o suposto esquema de corrupção liderado pelo vereador licenciado Claudinho Serra (PSDB) na prefeitura de Sidrolândia, onde a sogra advogada, Vanda Camilo (PP), é gestora municipal e pré-candidata à reeleição.
Segundo o advogado Wellison Muchiutti, responsável pela defesa de Tiago Basso e que acompanhou toda a delação premiada aos procuradores do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o cliente deixou Sidrolândia em outubro do ano passado por medo de possíveis retaliações dos acusados.
“Não posso revelar para onde foi meu cliente para não dar pistas de seu paradeiro, só posso dizer que ele saiu da cidade. Não sei dizer se ele ainda está no Mato Grosso do Sul ou em outro estado brasileiro, mas só fez isso por questões de segurança, não residindo mais em Sidrolândia”, revelou o advogado do denunciante, acrescentando que Basso não pode se expor.
Na delação premiada que fez no ano passado, o ex-funcionário municipal de Sidrolândia apontou o envolvimento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) com o esquema de corrupção na prefeitura.
Em um de seus depoimentos aos procuradores Adriano Lobo Viana de Resende e Bianka Machado Arruda Mendes, do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), Basso disse que, ao ser preso com Ueverton da Silva Macedo, Frescura , e Roberto Valenzuela no Presídio de Trânsito de Campo Grande, em julho do ano passado, perceberam que o PCC estaria envolvido.
“Nós três estávamos com problemas [gíria para o local em que os presos recém-chegados ficam] na sexta, sábado, domingo e, na segunda, fomos transferidos para a mesma cela, a cela oito do presídio. Então, estávamos juntos na mesma cela e todo mundo na hora ficou surpreso lá, porque geralmente as pessoas não saem do corro por menos de 10 dias”, disse ele, citando que tinham presos no corro há mais de 14 dias e eles ficaram apenas três dias.
Na cela oito, o ex-servidor disse que falou muito sobre a Operação Trumper e Frescura disse para ele ficar calmo, que sairiam em no máximo 15 dias. “Mas, quando vi que não era isso mesmo, que a coisa era muito mais grave do que me contaram, perguntei a Frescura sobre a possibilidade de eu fazer, de nós fazermos, um acordo de delação premiada. Ele ficou chateado e naquele dia não quis mais falar comigo”, revelou.
Basso explicou que Frescura só falou com ele dois dias depois.
“No domingo, ele me ligou para conversar. Depois andamos pela quadra, só nós dois, conversando. Ele disse: ‘Ah, vou ser muito sincero com você, se você tomar a decisão de fazer um acordo judicial, pode ter certeza que antes da minha mãe chorar, a mãe que vai chorar primeiro será a sua’”. ele lembrou.
O ex-servidor pediu para falar com seu advogado e ele o aconselhou a tentar se afastar de Frescura, conversando o mínimo possível até sua saída.
“Porque dava para ver a ligação que ele tinha com os presos de lá, o contato que ele tinha com os presos, todo mundo o conhecia lá. Todos tinham um vínculo de amizade ou favor que lhe deviam ali. E o presídio onde ficamos era uma unidade faccional do PCC, o PCC comanda essa unidade lá. Então você percebeu que ele tinha muito contato com aquelas pessoas de lá e isso me deixou surpreso na hora. Falei para o meu advogado que não queria mais conversar, só queria ficar no meu canto”, disse.
Basso revelou ainda que, ao descobrirem que ele pensava em delação premiada, o seu advogado foi contactado por um advogado chamado Douglas Matos.
“Ele foi para a prisão e me disseram para falar com ele, e Frescura foi comigo. Ele não me ligou apenas para conversar, ele chamou Frescura junto. Então, nós dois entramos na sala para conversar”, lembrou.
Frescura teria sido muito direto com o advogado.
“’Só quero saber se você veio falar sobre acordos judiciais’. O advogado disse que não, nem pense em negociação de pena. Frescura disse que eu deveria ficar tranquilo, pois meu pagamento seria deles. Ele até disse que a minha família lá fora, enquanto eu estivesse preso, eles iriam cuidar”, finalizou.
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