O dólar fechou em queda de 0,31% nesta terça-feira (16), a R$ 5,428, com investidores atentos à política monetária dos Estados Unidos e ao cenário fiscal do Brasil, diante dos novos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( PT) sobre o regime que rege as contas públicas.
A Bolsa de Valores brasileira, também pressionada por títulos vinculados a commodities, fechou em queda de 0,16%, aos 129.110 pontos.
O pregão desta terça-feira interrompeu a sequência de 11 altas do Ibovespa – feito que ocorreu apenas quatro vezes nos últimos 24 anos, segundo a consultoria Elos Ayta.
Em um dia de volatilidade, a Bolsa manteve-se negativa após as falas do presidente Lula à Record terem provocado mais uma vez ruídos de incerteza fiscal. A entrevista completa irá ao ar às 19h55 no canal da emissora.
Segundo trechos já publicados, o petista afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se tiver “coisas mais importantes para fazer”.
Por outro lado, disse que a meta de défice zero para este ano não foi rejeitada e comprometeu-se a fazer o que for necessário para cumprir o quadro fiscal.
Lula afirmou ainda que precisa ser convencido a cortar gastos em 2024. As restrições deverão ser formalizadas no dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.
O ministro Fernando Haddad (Finanças), porém, afirmou que as declarações estão descontextualizadas e que outros trechos da entrevista mostrarão o comprometimento do governo com o marco.
Segundo Haddad, é possível que haja bloqueios e contingências no Orçamento deste ano no relatório bimestral de receitas e despesas que será publicado na próxima segunda-feira (22).
“Depois de 2,5% [do teto de despesa do arcabouço]deve haver bloqueio de contrapartida e contingência no caso de receita [abaixo do esperado]. Ainda temos essa questão pendente de cumprimento da decisão do STF sobre indenização [da desoneração da folha de salários]”, ele disse.
O relatório da próxima semana é visto como um teste ao comprometimento da equipe econômica com a meta para as contas públicas e a busca pelo equilíbrio fiscal.
Na próxima segunda-feira, o governo terá que enviar ao Congresso o documento que aponta a necessidade de criação ou não de um bloco para cumprimento do teto de gastos do quadro fiscal e de uma contingência para evitar ultrapassagem da regra da meta.
“O mercado está um pouco preocupado com a política fiscal, questão que pressionou bastante os ativos domésticos em junho e que caiu de temperatura no início de julho, mas que agora está recolocando a incerteza no radar dos investidores”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP Research.
“O foco está na sustentabilidade do quadro fiscal e na prossecução da meta de resultados primários. A nível interno, as perspectivas relativas à política económica no futuro continuam a ser muito relevantes.”
No exterior, as atenções se voltam para a política monetária dos Estados Unidos, à medida que crescem as expectativas de corte da taxa de juros norte-americana nas próximas reuniões do Fed (Federal Reserve, banco central do país).
Jerome Powell, presidente da autoridade, disse que as leituras da inflação do país dos últimos três meses “aumentaram um pouco a confiança” de que o ritmo dos aumentos de preços está a regressar à meta de 2%.
“No segundo trimestre, na verdade, fizemos um pouco mais de progresso”, disse ele em evento no Clube Econômico de Washington. “Tivemos três leituras melhores e, se tirarmos a média, é uma posição muito boa.”
Os operadores começaram a avaliar a possibilidade de três cortes nas taxas de juro este ano, sendo o primeiro na reunião de Setembro, seguido de cortes adicionais em Novembro e Dezembro. Eles apostam em 68 pontos base de flexibilização em 2024, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
A taxa de juros norte-americana hoje está na faixa de 5,25% e 5,50% ao ano. Quanto maior o afrouxamento da política monetária, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos do Tesouro diminuem.
A moeda norte-americana ainda tem como pano de fundo as apostas em um novo mandato do ex-presidente Donald Trump, vítima de atentado durante comício no último sábado (13).
O movimento descendente desta sessão vai na contramão do quadro visto na véspera, quando um possível retorno do republicano à Casa Branca elevou o valor do dólar em relação à maioria das moedas globais.
O dólar subiu 0,28% frente ao real, cotado a R$ 5,445 na venda. A Bolsa ampliou a sequência de pregões positivos, com alta de 0,33%, aos 129.320 pontos.
“Vemos um aumento considerável nas perspectivas de vitória de Trump nas próximas eleições, com base tanto nos cenários anteriores da própria história americana, quanto no exemplo brasileiro, com a vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro [após o episódio da facada desferida por Adélio Bispo em 2018]“, avalia Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos e mestre em finanças pela MIT Sloan School of Management.
Segundo ele, a perspectiva de uma vitória republicana nas eleições tem um efeito de curto prazo na economia global, especialmente tendo em conta a memória do primeiro mandato de Trump.
“Os mercados bolsistas tiveram um desempenho muito bom na altura devido aos esforços agressivos de política fiscal. No curto prazo, deveremos ver as futuras taxas de juro dos EUA e as perspectivas de inflação a subirem, o que fortalece o dólar.”
As propostas de hoje de Trump visam mais uma vez a política fiscal e monetária dos Estados Unidos. O ex-presidente defende uma nova reforma tributária, com corte nos impostos pagos pelas empresas norte-americanas e uma alíquota mais elevada nas tarifas de importação impostas pelo país, o que tende a estimular o crescimento econômico e a inflação.
Trump ficou ferido depois que tiros foram disparados contra ele durante um comício em Butler, Pensilvânia. Segundo o ex-presidente, ele foi atingido por uma bala que perfurou a parte superior da orelha direita. A campanha do republicano diz que ele está bem e que o incidente está sendo investigado como tentativa de homicídio.
As probabilidades de vitória de Trump aumentaram no site de apostas PredictIt, usado como base para os mercados financeiros. Anteriormente nos 60% na sexta-feira, a possibilidade de o republicano regressar à Casa Branca subiu para 68% esta terça-feira, enquanto o atual presidente dos EUA, Joe Biden, manteve-se nos 28%.
No cenário corporativo, o Ibovespa foi pressionado pela queda das commodities no exterior. Vale e Petrobras, as duas empresas com maior peso no índice, operaram no negativo devido à desvalorização do minério de ferro e do barril de petróleo Brent.
A mineradora perdeu 1,05%, enquanto as ações preferenciais e ordinárias da petroleira desvalorizaram 0,26% e 0,51%, respectivamente.
Também na coluna negativa, o Grupo Pão de Açúcar teve forte queda de 7,94%. A empresa informou na véspera, após o fechamento dos mercados, que não tem conhecimento de uma possível venda das ações detidas pelo grupo Casino à rede chilena Censosud ou a outra empresa terceira.
O grupo Casino deixou de ser acionista controlador do GPA ao realizar oferta pública de ações (follow-on) em março deste ano, passando de 41% para 22,5%.
“Até o momento, além das informações já divulgadas pelo Casino, a empresa não tem conhecimento de qualquer informação relativa a uma possível venda ou ao processo e/ou momento da venda da participação remanescente detida pelo Casino nem à possibilidade de uma oferta a terceiros pela participação do Casino na empresa”, informou o GPA em comunicado.
A afirmação foi em resposta a um questionamento da CVM (Comissão de Valores Imobiliários) sobre uma notícia publicada pela coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, no dia 12 de julho.
Segundo o colunista, empresas estariam interessadas na participação do Casino, e o bilionário tcheco Daniel Kretinsky, atual controlador do grupo francês, “estaria inclinado” a aceitar o acordo com a Cencosud por 100 milhões de euros (R$ 588 milhões).
*Informações da Folhapress
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