O Mdic (Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior) quer anunciar até agosto uma nova versão do projeto de política industrial do governo, chamado NIB (Nova Indústria Brasil). Apresentado em janeiro, foi recebido com críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ceticismo do setor.
A nova versão, que já foi concluída e está sendo apresentada aos ministros envolvidos, terá objetivos mais claros e um sistema de monitoramento de eficiência, a ser desenvolvido pela ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), das 6 missões estabelecidas no projeto.
“O documento foi apresentado aos ministros que fazem parte do projeto. Vamos fazer uma reunião no comitê executivo para agendar o lançamento“, disse Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Mdic ao Poder360.
O texto também trará detalhes sobre ações em cadeias produtivas que o programa pretende aprimorar. “Há um trabalho para saber se existe um ecossistema formado e desenvolvido para as cadeias produtivas ligadas às missões. Com isso, pensamos em como a política industrial pode ter mais foco, colher mais resultados nesse ambiente”, disse.
Projeto em andamento
Segundo Uallace Moreira, uma série de ações do ministério já partem do NIB. Ele citou como exemplo o programa Mover – que favorece a produção de automóveis com menores emissões poluentes – e o aumento da tarifa de importação de aço para 25%.
A nova versão garantirá que estas iniciativas e outras que serão postas em prática sejam constantemente melhoradas para maximizar o seu impacto. A maior parte das medidas será de natureza regulamentar e melhorará o ambiente empresarial. Segundo Uallace, os próximos passos são melhorias.
A versão inicial do programa previa um financiamento de R$ 300 bilhões para o setor até 2026 – o dobro do orçamento anual da NASA. Não há espaço fiscal para aumentar muito o valor.
NOTA
O governo federal anunciou no dia 22 de janeiro a nova política industrial do país. Estavam previstos R$ 300 bilhões em financiamento para o setor até 2026. O vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apresentou o projeto. O lema é o retorno do Estado como principal motor do desenvolvimento nacional. Leia o documento completo (PDF – 20 MB).
Dos R$ 300 bilhões previstos, R$ 106 bilhões já haviam sido anunciados em julho de 2023, na 1ª reunião do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial). O plano tem ações previstas para a próxima década, até 2033.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) será o principal gestor dos recursos, sendo responsável por quase R$ 250 bilhões, junto com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).
Os financiamentos serão disponibilizados por meio de linhas de crédito e recursos captados no mercado de capitais, alinhados aos objetivos e prioridades do programa.
Segundo o BNDES, R$ 77,5 bilhões do valor anunciado agora já foram aprovados para iniciativas apresentadas ao banco em 2023, sendo 67 bilhões do banco estatal e R$ 10,5 bilhões da Finep.
Algumas das taxas de juros que serão aplicadas aos novos projetos também já foram aplicadas pelas duas entidades, que oferecem crédito à Taxa Referencial (TR) acrescida de 2% em recursos não reembolsáveis.
Segundo o governo, a nova política priorizará ações do poder público como forma de indução à produção nacional, com oferta de linhas de crédito especiais, recursos não reembolsáveis e ações regulatórias e de propriedade intelectual.
As compras públicas e as obras, incluídas na lista do Novo PAC, também serão priorizadas pelo Executivo federal para incentivar o desenvolvimento industrial do país.
Do total de R$ 300 bilhões, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, informou que a divisão será feita da seguinte forma:
- R$ 271 bilhões para financiamento;
- R$ 21 bilhões para créditos “não reembolsáveis”;
- R$ 8 bilhões investidos em participações.
A defesa do papel do poder público no desenvolvimento económico do país foi feita por membros do governo durante o evento. O presidente afirmou que, para o país se tornar competitivo, “tem que financiar algumas coisas que quer exportar”.
Lula já disse diversas vezes acreditar que esta é a fórmula que seu governo usará para atrair investimentos privados para o país. “Não podemos agir como sempre fizemos, achando que todos são obrigados a gostar do Brasil, que todos vão comprar do Brasil sem que a gente cumpra com as suas obrigações. O debate a nível do mercado internacional é muito competitivo, é uma guerra”, afirmou.
O programa define 6 áreas prioritárias, chamadas missões, para investimentos. O governo também estabeleceu metas a serem alcançadas em cada segmento até 2033. São elas:
- Cadeias agroindustriais: mecanizar 70% dos estabelecimentos da agricultura familiar – atualmente a participação é de 18%. Além disso, 95% das máquinas deverão ser produzidas pela indústria nacional;
- Saúde: aumentar a participação da produção nacional de 42% para 70% das necessidades do país em medicamentos, vacinas e equipamentos médicos;
- Bem-estar nas cidades: reduzir o tempo de viagem das pessoas de casa para o trabalho em 20%. Aumentar em 25 pontos percentuais a participação da produção brasileira na cadeia da indústria do transporte público sustentável;
- Transformação digital: digitalizar 90% das empresas industriais brasileiras – hoje são 23,5%. Triplicar a participação da produção nacional nos sectores das novas tecnologias;
- Descarbonização: aumentar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética dos transportes – atualmente os combustíveis verdes representam 21,4% desta matriz. Reduzir em 30% as emissões de carbono da indústria nacional;
- Defesa: alcançar autonomia na produção de 50% das tecnologias críticas. Será dada prioridade a acções destinadas ao desenvolvimento da energia nuclear, dos sistemas de comunicação, dos sistemas de propulsão e dos veículos autónomos e telecomandados.
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