Em gravação de mais de uma hora de reunião entre o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL), o então presidente Jair Bolsonaro discutiu as investigações sobre a suposta prática de rachadinha do senador Flávio Bolsonaro ( PL-RJ), sugeriu procurar o chefe da Receita Federal e disse que o coronel que o informou deveria ser substituído pelo serviço secreto russo.
O então presidente também revelou, na conversa, um suposto pedido de Wilson Witzel, que foi governador do Rio de Janeiro, para “encerrar” as investigações e manifestou sua “desconfiança” em “alguém gravar alguma coisa”.
Veja abaixo quais são os cinco principais pontos presentes no material, que foi divulgado após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O áudio era confidencial e faz parte da investigação da Polícia Federal sobre a existência de uma “Abin paralela”.
1- Chefe de Receita
Em um dos momentos da conversa, o ex-presidente Jair Bolsonaro sugere conversar com o então secretário da Receita, José Tostes, e o então chefe do Serpro (empresa de processamento de dados do governo estadual).
A conversa menciona Canuto, que provavelmente é Gustavo Canuto, ex-ministro de Bolsonaro e que foi transferido para a Dataprev, também estatal de processamento de dados.
O ex-presidente Bolsonaro negou qualquer irregularidade. “É o caso de conversar com o chefe da Receita Federal”, disse Bolsonaro.
Durante o diálogo, Bolsonaro questiona os advogados: “Quem se importa com a gente resolvendo essa questão?” Juliana Bierrenbach diz acreditar que o melhor caminho é o Serpro. Bolsonaro responde: “Vou falar com Canuto”.
2- Caso das ‘rachadinhas’
A reunião contida no áudio foi realizada em agosto de 2020 e gira em torno das investigações envolvendo o senador Flávio Bolsonaro em um caso que ficou conhecido como “rachadinhas”.
As investigações envolvem um suposto esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando o atual senador era deputado estadual.
Em 2020, o Ministério Público do Rio denunciou à Justiça o senador, seu ex-assessor Fabrício Queiroz e outros 15 investigados por crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita – mas a denúncia foi arquivada em 2022 pelo Tribunal de Justiça de Rio de Janeiro.
3- Serviço secreto russo
No áudio de reunião realizada no Palácio do Planalto em agosto de 2020, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) diz ao então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que “quem passa a informação” para ele é um Coronel do Exército e que deveria ter “trocado pelo serviço secreto russo”.
“Quem me passou a informação foi um coronel do Exército. Ele deveria ter transferido para o serviço secreto russo”, afirma o então presidente.
O diálogo foi mantido com Heleno diante do que parecem ser os advogados entrando na sala onde foram recebidos e onde ocorreu a reunião.
4- Pedido de Witzel
No áudio, Bolsonaro afirma que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel prometeu “resolver” a investigação sobre a “rachadinha” do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em troca de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) . O ex-governador nega.
“Ano passado, no meio do ano, me encontrei com o Witzel (…) Ele falou: ‘Eu vou resolver o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo’”, disse Bolsonaro durante conversa realizada em agosto 2020 às O então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, também esteve presente.
Uma das advogadas de Flávio Bolsonaro, Juliana Bierrenbach, perguntou quem havia dito isso, ao que o ex-presidente respondeu: “Witzel, certo”.
5- Suspeita de ser gravado
Bolsonaro fala sobre suas suspeitas de ter sido “gravado” durante reunião no Palácio do Planalto. O então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, também comentou sua preocupação com um possível “vazamento”.
“E deixe bem claro, a gente nunca sabe se alguém está gravando alguma coisa. Que não estamos buscando favor de ninguém”, disse Bolsonaro durante a reunião, segundo transcrição da PF. “Tente avisar ele que ele tem que manter isso bem fechado. Consiga com pessoas que ele confia. Se vazar (inaudível)”, diz Heleno.
Ao final da reunião, Alexandre Ramagem pergunta onde estavam os celulares dos advogados: “Cadê os celulares de vocês? [inaudível] seu celular”, diz ele, segundo o áudio da PF.
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