A lista de inadimplentes no Grosso do Sul contou com a adição de mais de 47 mil novos nomes em um período de 12 meses. O total de pessoas economicamente ativas no Estado (2,147 milhões) com algum tipo de restrição de nome chegou a 1,083 milhão em maio deste ano. Os dados são de Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil.
Segundo dados da seção Mato Grosso do Sul enviados ao Correio do Estado, na comparação com o mês 5 de 2023, o crescimento percentual foi de 4,54%, já que naquele período foram registradas 1,036 milhão de restrições no Cadastro de Pessoa Física (CPF) , em comparação com os 1,083 milhões identificados este ano.
O relatório mostra ainda que o valor médio das dívidas de cada inadimplente no Estado é de R$ 5.828, enquanto o ticket médio por dívida é de R$ 1.500. O valor total subiu para R$ 6,313 bilhões em 4.179 contas não pagas.
O mestre em economia, Eugênio Pavão, explica que a inadimplência é a incapacidade de saldar dívidas, levando em consideração as condições atuais dos agentes econômicos, sendo um dos fatores determinantes para a situação a existência de uma crise econômica no Brasil.
“Esse cenário mudou pré-pandemia, com queda dos juros, mas com processo inflacionário, desemprego, etc., levando parcelas da população a usar dinheiro, cartão de crédito, cheques especiais e até agiotas. O resultado foi uma situação de penúria.”
Detalhando a situação que contribuiu para o aumento da inadimplência, Pavão destaca que a pandemia foi um forte agravante. “Esta situação aprofundou-se, trazendo queda do PIB, redução da atividade económica e queda do rendimento. Isso piorou o que estava ruim”, ponderou.
O economista relata ainda que as famílias tiveram que fazer escolhas. “Escolher sobreviver, pagar dívidas, pagar aluguel, outras contas mensais deixadas em segundo plano. Tudo isso (situação microeconômica e macroeconômica) levou ao aumento da inadimplência, o que teve impacto na inflação, com redução da renda real”, afirma Pavão.
O mestre em economia Lucas Mikael reitera que desde este período as famílias têm enfrentado um aumento significativo das suas dívidas, atingindo níveis preocupantes, o que tem dificultado o pagamento. “Essa situação é complexa e requer um tempo considerável para ser completamente resolvida”, avalia.
Mikael destaca que mesmo com a retomada dos empregos formais, muitos consumidores enfrentam redução de renda e excesso de contas em aberto, o que tem tornado o processo de reequilíbrio financeiro um desafio constante.
Para o economista Eduardo Matos, o aumento gradual do índice está diretamente ligado à inflação, que, segundo o analista, vem crescendo desde 2023, quando não havia pressão inflacionária, mas onde os preços já estavam em patamar muito elevado.
“Ao mesmo tempo, o rendimento médio da população não acompanhou o aumento dos preços. Em outras palavras, você ganha o mesmo e o preço do que você consome subiu. Então, em momentos de necessidade, as pessoas acabam recorrendo ao uso do cartão de crédito sem controle”, afirma Mato.
DADOS
Entre os estados brasileiros, Mato Grosso do Sul aparece entre os maiores índices de inadimplência do país, ocupando o 6º lugar. No mês de abril, o Estado atingiu 50,20%, ou seja, mais da metade da população economicamente ativa está com “nome sujo”. Número que subiu para 50,44% em maio.
Nas três principais unidades federativas com maior taxa de negativas estão: Rio de Janeiro (54,16%), Distrito Federal (52,74%), Mato Grosso (52,51%). Segundo pesquisa da Serasa, 44,04% da população do país está inadimplente.
Quanto ao perfil dos inadimplentes, destacam-se na faixa etária os sul-mato-grossenses de 26 a 40 anos, representando 35,4% do total de inadimplentes. A faixa etária entre 41 e 60 anos representa 35,0%; maiores de 60 anos, 17,6% e até 25 anos, 12%.
A nível nacional, a ordem dos grupos etários repete-se, sendo a população entre os 41 e os 60 anos a mais responsável com 35,2%, seguida da população entre os 26 e os 40 anos (34,2%); maiores de 60 anos (18,9%) e até 25 anos 11,8%.
Ainda segundo informações do Mapa da Inadimplência, o inimigo número um das restrições continua sendo os cartões de crédito e as dívidas bancárias, onde 31,27% das dívidas do mês de maio, no MS, foram contraídas por esse meio.
Em segundo lugar estão as contas de serviços (17,60%), seguidas pelas contas financeiras (17,06%). O varejo aparece, no MS, com 13,03% e também contas básicas, como água, luz e gás.
Os homens representam a maior parcela dos inadimplentes no Estado, com 52,2%, enquanto as mulheres respondem por 47,8%.
Na análise, Pavão destaca ainda que no campo das finanças pessoais, a facilidade de utilização do “dinheiro emprestado”, com taxas de juros exorbitantes, são os principais lubrificantes da inadimplência, impulsionada pelos juros do cartão de crédito, cheque especial, entre outros artifícios que prejudicam o atual e tendências económicas futuras.
“A solução para esse problema é a educação financeira desde os primeiros anos de escolaridade. É a consciência de que o dinheiro fácil é a principal armadilha contra a perda de riqueza”, finaliza.
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