Na última década, a participação dos trabalhadores entre 18 e 24 anos nos sindicatos caiu 73%, segundo o IBGE. Nesse período, as redes sociais centralizaram as demandas trabalhistas dos jovens. Hoje, eles se organizam em plataformas digitais para alterar legislações e regulamentações.
O Life Beyond Work (VAT), movimento que defende o fim da escala 6 x 1 (seis dias sim e um dia livre), reúne jovens em início de vida profissional. Em nove meses, acumulou 125 mil seguidores no Instagram, 16 mil no TikTok, 1.934 no Telegram e centenas no WhatsApp. Também obteve mais de 1,1 milhão de assinaturas em uma petição online para alterar o horário de trabalho.
O movimento surgiu em 2023 a partir de um vídeo divulgado pelo então atendente de farmácia e influenciador Rick Azevedo, 30 anos, hoje líder do grupo. Ele convocou os trabalhadores a “colocar o pé na porta” contra o 6 x 1: “Viralizou muito rápido”, diz, e hoje faz “bicos”.
No dia 5 de junho, o Congresso aprovou pedido de audiência pública, ainda sem data definida, para discutir as propostas do IVA, atendendo a pedido da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). No dia 1º de maio, o parlamentar também apresentou uma proposta de emenda à Constituição para reduzir a jornada semanal de trabalho sem impacto no salário.
“Espero que as redes sociais permitam que esse debate chegue ainda mais longe, alcance as pessoas e forme uma multidão de lideranças”, afirma Hilton. “Isso ajuda os jovens a sair das redes sociais e a se organizarem em grupos na política, nas bases, nos sindicatos, no local de trabalho”.
A pandemia impulsionou a busca pelo equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, principalmente entre os jovens, afirma Tatiana Iwai, professora de comportamento organizacional do Insper. A viralização de conteúdos facilita o crescimento desse sentimento nas redes, acrescenta.
“Uma carreira não significa mais trabalhar o tempo todo e primeiro”, diz Iwai.
A advogada trabalhista Janaina Bastos, 43 anos, com 1,4 milhão de seguidores no TikTok, diz ver nos jovens uma curiosidade ativa sobre seus direitos: “Essa geração está muito mais conectada.
A participação dos trabalhadores brasileiros nos sindicatos caiu quase pela metade: de 16,1% em 2012 para 8,4% em 2023, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Entre 18 e 24 anos, a queda foi de 73%.
A secretária da juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Cristiana Paiva Gomes, 32 anos, reconhece o desinteresse dos jovens. Para ela, isso se deve à estrutura dos sindicatos, que têm na liderança pessoas mais velhas.
“Os sindicatos deveriam passar por uma mudança na comunicação. Esse erro de diálogo com os jovens é muito grande. Eles não querem ouvir as mesmas coisas, querem posicionamentos sobre questões como cultura e meio ambiente”, afirma.
Gomes afirma que a taxa sindical afasta os jovens, muitos deles no limite financeiro. Ela vê as redes como aliadas, “mas o sindicato é essencial para a luta da classe trabalhadora”.
Para Ruy Braga, chefe do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, a baixa participação dos jovens no sindicato é histórica, e o desinteresse é mútuo. “O sindicalismo brasileiro não atrai os jovens porque os jovens trazem desafios. Isso estimula a desconfiança dentro dos sindicatos”.
Em evento realizado pelo Ministério Público do Trabalho no dia 28 de maio, Lucimara Malaquias, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, disse que um obstáculo à sindicalização dos jovens é a informalidade.
Segundo o Ministério do Trabalho, 45% dos jovens ocupados de 14 a 24 anos não têm carteira assinada.
Os jovens preferem o dinamismo das redes e os sindicatos não acompanham a comunicação moderna, afirma Rick Azevedo, do VAT. Ele afirma que o movimento buscou ajuda dos sindicatos no início, mas não foi receptivo.
“Os sindicatos ficaram fixados na política média e retrógrada”, diz Azevedo. “O IVA tem sucesso porque é um movimento aberto, que os jovens seguem instantaneamente”.
O Breque dos Apps também é fruto da mobilização nas redes. Surgiu em 2020, como resultado de demandas por melhores condições de trabalho para entregadores de aplicativos.
Conhecido como Bola de Fogo, Andreando Firmino de Oliveira, 43 anos, um dos líderes do movimento, é entregador em Goiânia (GO) desde os 23 anos. Mesmo sem o apoio dos sindicatos nos atos, ele afirma viu mudanças na área e diz que os jovens preferem um relacionamento direto com apps.
Um dos pedidos atendidos foi a implementação do código de confirmação de recebimento no sistema iFood. A empresa afirma que mantém uma política de escuta ativa com a categoria. Entre as pendências está a modificação do sistema de agendamento de trabalho de cada entregador.
“Você solicita autorização para os dias que vai trabalhar na semana seguinte, mas depende da aprovação da empresa pela empresa”, diz Bola. Segundo o iFood, a função de planejamento, disponível em algumas cidades, tem vagas prioritárias de agendamento, destinadas a quem fizer o cadastro antecipado. A empresa também considera a pontuação dos entregadores: os melhores têm mais chances de receber os pedidos.
*Informações da Folhapress
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