Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quinta-feira, 11, projeta que a população mundial atingirá seu pico neste século e chegará a 10,3 bilhões de pessoas em sessenta anos.
Depois disso, deverá reduzir para 10,2 mil milhões em 2100.
O Brasil, por sua vez, deverá atingir seu pico populacional em 2042, atingindo 219,28 milhões de habitantes.
Apesar do aumento global, o documento Perspectivas da População Mundial 2024 da ONU prevê um crescimento populacional no planeta 6% menor do que o estimado pela organização há dez anos, o que representa 700 milhões de pessoas a menos.
A perspectiva de um planeta mais populoso tornou-se uma preocupação adicional dado o agravamento do colapso climático, que esgota os recursos naturais e pode tornar os eventos extremos – como tempestades e ondas de calor – mais intensos e frequentes.
“O cenário demográfico evoluiu muito nos últimos anos”, disse Li Junhua, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Económicos e Sociais, num comunicado.
“Em alguns países, a taxa de natalidade é agora ainda mais baixa do que o previsto anteriormente, e também estamos a assistir a declínios ligeiramente mais rápidos em algumas regiões de elevada fertilidade”, explica.
O boom populacional brasileiro em até três décadas é semelhante ao período projetado para outros 47 países, numa lista que inclui Irã e Turquia.
O Censo 2022 do IBGE já havia mostrado que a população brasileira vem desacelerando seu ritmo de crescimento. A taxa média entre 2010 e 2022 foi de 0,52%, pela primeira vez abaixo de 1% ao ano.
Foi o menor crescimento populacional registrado em toda a série histórica, iniciada em 1872.
No ano passado, estudo do IBGE baseado em dados censitários revelou que o percentual de pessoas com 65 anos ou mais no país chegava a 10,9% da população – recorde de 57,4% em relação a 2010, quando os idosos representavam 7,4% do total. .
Segundo projeções da ONU divulgadas agora, os idosos representarão 1/3 da população brasileira até o final deste século. Nas próximas três décadas, a estimativa é que a taxa chegue a 18%.
“Há um desafio em relação à questão do envelhecimento populacional, e o Brasil agora tem essa janela de oportunidade, com pessoas em idade produtiva em maior proporção do que dependentes. Mas no futuro essa pirâmide vai mudar”, considera a demógrafa Helena Cruz Castanheira, do o Centro Latino-Americano e do Caribe de Demografia (CELADE), vinculado à Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
“É preciso ver a sustentabilidade desse sistema e todos os desafios que essa nova estrutura etária coloca. E é importante mencionar que nos países da região, e também no Brasil, a transição demográfica foi muito mais acelerada do que na Europa. O envelhecimento da população é muito mais rápido e isso cria desafios para a adaptação da sociedade”, acrescenta Helena.
A mudança no perfil da população pressionará a procura por serviços de saúde e assistência social, além de aumentar os gastos com seguridade social.
Por outro lado, o fim do chamado bónus demográfico (quando há um pico na proporção de jovens em idade economicamente produtiva) deverá ter impacto no PIB do país, o que poderá ter impacto no rendimento.
Um em cada quatro vive em países cuja população já atingiu o pico
O relatório da ONU mostra que 63 países no mundo já atingiram o pico populacional, incluindo alguns dos mais ricos e populosos, como a China, a Alemanha, o Japão e a Rússia. Assim, a estimativa é que haja uma redução nas próximas décadas, chegando a uma taxa de 14% nos próximos trinta anos.
Entre os fatores apresentados pelas Nações Unidas estão os níveis mais baixos de fertilidade, especialmente na China.
“Os países estão passando por uma transição demográfica. Tínhamos altos níveis de fecundidade e mortalidade na década de 1950 na América Latina, começando a diminuir na década de 1960. Projetamos que diminuiria, por exemplo, no Brasil e no mundo, de forma semelhante. muito semelhante ao que aconteceu nos países europeus que já tinham passado por esta transição, mas a velocidade foi muito mais rápida”, explica Helena Cruz Castanheira, do CELADE.
A organização afirma que, em todo o mundo, as mulheres têm, em média, um filho a menos do que em 1990.
Em mais de metade dos países, o número médio de nados-vivos por mulher é inferior a 2,1, nível considerado necessário para que uma população mantenha um tamanho constante a longo prazo, sem considerar os factores migratórios.
E quase um quinto de todos os países tem uma fertilidade considerada “ultrabaixa”, de menos de 1,4 nascimentos por mulher durante a vida. Entre essas nações estão China, Itália, Coreia do Sul e Espanha.
“O pico (populacional) mais precoce e mais baixo é um sinal de esperança. Isto pode significar uma redução nas pressões ambientais decorrentes dos impactos humanos devido ao menor consumo agregado”, afirma o subsecretário da ONU, Li Junhua. “No entanto, um crescimento populacional mais lento não eliminará a necessidade de reduzir o impacto médio atribuível às atividades de cada pessoa”.
Por outro lado, o relatório da ONU alerta que os países com populações jovens e com uma fertilidade em declínio têm um tempo limitado para beneficiar economicamente da população em idade activa – aquela entre os 20 e os 64 anos. O cenário está previsto em cerca de 100 países, incluindo o Brasil.
Segundo as Nações Unidas, os governos destes países precisarão reforçar os investimentos em educação, saúde e infraestrutura, além de implementar reformas para criar empregos e tornar a gestão pública mais eficiente.
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