Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam como “graves” as revelações feitas pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira sobre uma ação de vigilância clandestina de membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro.
Os funcionários faziam parte de uma espécie de “Abin paralela”, que alimentava um grupo de ativistas digitais, gerando assim desinformação.
Segundo informações da PF, o ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações, foi um dos ministros alvo de vigilância, assim como Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte.
Privadamente, os magistrados classificaram a Globo como “merecedora de preocupação” e “reveladora” da ocorrência de uma mobilização dentro da agência de inteligência durante o governo passado contra integrantes da Corte.
Até à data, porém, os ministros entendem que os factos revelados demonstram que o grupo não atingiu os seus objectivos. Ou seja, ao organizarem uma mobilização para atingir membros do STF, os funcionários não encontraram nada.
Para um magistrado, o relatório da PF esclarece como foram conduzidas as ações da “Abin paralela” de “qualquer forma”.
As investigações da PF sugerem, por exemplo, a discussão pela “Abin paralela” de ações violentas contra Moraes, que incluíram tiros na cabeça do magistrado.
Em mensagens trocadas em agosto de 2021, integrantes da estrutura paralela discutiam um inquérito da PF, que investigava um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral, quando um dos investigados disse: “Isso está ficando fodido. Esse cara careca merece algo mais.”
Outro investigado responde: “7,62” (termo que se refere ao calibre da munição). Neste ponto, o interlocutor acrescenta: “tiro na cabeça”, que traduzido para português significa “tiro na cabeça”.
A ação contra Barroso teve como objetivo “desacreditar o processo eleitoral”. Segundo a PF, o magistrado, que também era titular do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi alvo da organização criminosa, que tentou criar “informações falsas” sobre ele.
A PF destaca o exemplo de um tuíte e declarações de um jornalista. Marcelo Araújo Bormevet mandou Giancarlo Gomes Rodrigues “atirar” e “sentar” num dos assessores de Barroso. Ambos estavam, na época, cedidos à Abin.
“As ações dirigidas ao Ministro do Supremo Tribunal Federal em razão do exercício de suas funções, além de atos de investigações constrangedoras, também constituem atos que prejudicam o livre exercício do Poder Judiciário. Os atos que visavam desacreditar o sistema eleitoral não se restringiram aos ataques dirigidos a ministros, mas também a familiares de membros da mais alta instância de justiça”, escreve a PF, no documento.
A Polícia Federal realizou nesta quinta-feira a 4ª fase da Operação Last Mile, com o objetivo de desmantelar uma organização criminosa focada no monitoramento ilegal de autoridades públicas e na produção de notícias falsas, utilizando sistemas da Abin.
Cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo STF, nas cidades de Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Os cinco foram presos. A utilização do programa espião FirstMile, que deu início à investigação, foi revelada pelo GLOBO.
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