Os consumidores de energia elétrica poderão ver mais um aumento em sua conta de luz caso sejam aprovados dois projetos de lei (PLs) em tramitação no Congresso Nacional. As propostas prevêem subsídios à microgeração distribuída para a população de baixa renda e incentivos à geração de energia eólica offshore. Os subsídios poderão representar um custo extra de R$ 16,934 bilhões nas contas de luz dos consumidores de Mato Grosso do Sul.
Segundo cálculo feito pelo Conselho de Consumidores da Área de Concessão da Energisa MS (Concen-MS), com a aprovação do Projeto de Lei nº 11.247/2018, marco legal dos parques eólicos offshore, o ônus será de R$ 13,3 bilhões até 2050 para EM.
Em relação aos custos de implantação do programa Renda Básica de Energia (Rebe), constante do PL nº 624/2023, o impacto para os consumidores do Estado é estimado em R$ 3,509 bilhões em 35 anos.
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) aponta que o PL Eólico Offshore resultaria em aumento de 11% nas tarifas em todo o país, e o da minigeração resultaria em aumento de 2,01% na conta de luz.
A presidente do Concen-MS, Rosimeire Costa, destaca que, caso os projetos sejam aprovados com as alterações que foram enviadas, haverá um impacto astronômico.
“É um subsídio na faixa de R$ 1,3 trilhão [no Brasil]um valor que é praticamente considerado impossível para o consumidor cobrir isso através da tarifa de energia elétrica”, pondera.
O PL nº 624/2023 visa promover a microgeração distribuída por meio de painéis solares, principalmente entre a população de menor poder aquisitivo. Além disso, propõe a criação do Rebe, que substituirá a atual tarifa social. A proposta tramita atualmente na Comissão de Assuntos Sociais do Senado e conta com parecer favorável do relator, senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
Após esta etapa, será analisado pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI). Por se tratar de um projeto com origem na Câmara, qualquer alteração feita no Senado exigirá que o texto seja devolvido para apreciação dos deputados.
“Tem uma classe, que é quem ganha de R$ 2 mil a R$ 4 mil por mês, que está pagando todo esse subsídio. Então temos que mitigar melhor isso, porque os recursos que pagam esses subsídios vêm diretamente do consumidor, estão na tarifa de energia elétrica”, explica Rosimeire.
O presidente da Concen-MS defende discussão mais ampla e ajustes no PL, para evitar novas cobranças na tarifa paga pelo consumidor.
“Chegaremos a 17,2 milhões de unidades consumidoras [UCs] com o programa. Hoje, somos 89 milhões de UCs. Um cálculo rápido e temos um superávit de 72 milhões de UCs. Precisamos de equilibrar interesses e lembrar que estes 72 milhões [de UCs] que apoiam o sistema, mas o benefício não chega até eles”.
O economista Eduardo Matos explica que esses benefícios favorecem os setores de energias renováveis: “Um incentivo para que cresçam no país. Porém, esta é uma forma forçada, que transfere a responsabilidade pela sustentação da infra-estrutura de distribuição de energia eléctrica para o consumidor, que pagará a conta que quem for incentivado não pagará”.
Saber: Atualmente, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a micro e minigeração solar distribuída já responde por 13,5% da geração de energia elétrica no país, mais que o dobro da dos grandes parques solares, com 6,2% do total, e próximo da geração eólica, com 13,7%. Elas ficam atrás apenas da energia hidrelétrica, com 48,1%.
SUBSÍDIOS
O diretor regulatório da Abradee, Ricardo Brandão, destaca que os PLs têm como objetivo atender interesses de segmentos específicos, ao garantir a expansão e extensão dos benefícios a diferentes setores por mais tempo.
Em entrevista ao jornal O Globo, Brandão afirma que: “O que falta é um olhar sistêmico para o setor elétrico, que considere as necessidades de confiabilidade e precificação adequada. É necessário um projeto de lei que faça uma revisão estrutural e redução de todos esses subsídios.”
O representante da Abradee considera preocupante a implementação de novos subsídios embutidos na tarifa de energia, uma vez que, segundo ele, já são de enorme volume.
“Só neste ano soma R$ 17 bilhões. Isso pressiona o bolso da população e empurra muitos clientes para o gato [tipo de ligação clandestina]”, relata Brandão.
Para o diretor da Abradee, uma das alternativas seria priorizar o planejamento, para que as iniciativas foquem na melhoria da eficiência.
“O volume de energia roubada no Brasil é tão alto que ultrapassa toda a geração de Belo Monte, a segunda maior hidrelétrica do Brasil”, acrescenta.
O PL Eólica Marítima, que tramita na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado, sob o relator de Weverton Rocha (PDT-MA), prevê um conjunto de contratações compulsórias de fontes, como termelétricas a gás e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). , além de manter a operação de usinas a carvão e a construção de usinas de hidrogênio e parques eólicos na Região Sul.
O texto também incorpora mudanças na contratação obrigatória de energia de termelétricas a gás natural, vinculada à privatização da Eletrobras, determina a compra de energia de reserva gerada a partir do carvão mineral e inclui todas as tartarugas (termo usado para esse tipo de movimento legislativo para anexar propostas ) que estaria presente na medida provisória.
Além disso, a iniciativa amplia o período de desconto nas tarifas de transmissão de fontes renováveis.
Para o diretor da Abradee, são contratos obrigatórios, pois o mercado vive um momento de excesso de oferta de energia. Como o projeto de lei da energia eólica offshore é original do Senado e já passou pela Câmara, a palavra final cabe aos senadores.
“A contratação compulsória impacta todos os consumidores. Além disso, com a postergação do prazo para entrada em operação das usinas de código aberto com subsídios, provoca um forte aumento na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), encargo sobre a tarifa, que é pago pelos consumidores”, acrescenta Brandão.
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