Os restos mortais de 11 camponeses foram encontrados em três valas comuns escavadas em uma montanha próxima às comunidades de Putis, cuja população foi vítima de um massacre perpetrado por militares há quatro décadas no Peru, informou o Ministério Público nesta quarta-feira (10).
“Estes ossos corresponderiam às vítimas do massacre ocorrido entre 1983 e 1985” na localidade de Putis, departamento de Ayacucho, no sudeste do Peru, afirmou o Ministério Público num comunicado, no qual indicou também que as roupas das vítimas estavam encontrados, entre os quais havia crianças.
O Exército Peruano instalou uma base militar na região para combater a guerrilha maoísta Sendero Luminoso e proteger a população civil dos ataques terroristas desse grupo.
“Neste contexto, os camponeses concentraram-se junto ao complexo militar; contudo, durante este período, os militares reuniram membros da comunidade e executaram-nos, acusando-os de serem colaboradores do referido grupo terrorista”, garantiu o MP.
As valas comuns estão localizadas nas encostas da parte alta dos condados de Yanaorcco, Llamanniyocc, Misumachay e Hichocruz. Putis era o centro de oito comunidades rurais onde viviam cerca de 2.000 pessoas até antes do massacre.
O massacre foi cometido em 13 de dezembro de 1984 e deixou pelo menos 123 vítimas, das quais 92 foram enterradas em 2009, depois de os seus restos mortais terem sido encontrados em valas comuns um ano antes.
Nenhum militar foi condenado no caso, mas em abril a promotora Gisella Astocóndor pediu 25 anos de prisão para um ex-capitão do Exército.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) destacou a descoberta, que ocorre no momento em que o Peru está prestes a promulgar uma lei para prescrever crimes contra a humanidade cometidos antes de 2002, ano em que o país aderiu ao Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional (TPI).
“A Comissão incentiva o Estado a continuar com as ações interinstitucionais para procurar e identificar as vítimas do massacre de Putis, e a restituição digna de seus restos mortais às suas famílias; bem como para processar os responsáveis”, indicou a CIDH na rede social.
Segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR, 2003), o conflito armado ocorrido no Peru entre 1980 e 2000 deixou mais de 69 mil pessoas mortas, a maioria delas camponeses pobres dos Andes.
A guerra contra a guerrilha e o terrorismo (1980-2000), como as autoridades classificam o conflito armado, deixou pouco mais de 21 mil pessoas desaparecidas.
O CVR responsabilizou o Sendero Luminoso como principal autor das violações dos direitos humanos, mas também acusou as forças de segurança que confrontaram esta organização de cometerem crimes contra a humanidade.
Existem cerca de 4.000 valas comuns no Peru, segundo o CVR. Muitos deles estão em Ayacucho, berço e principal bastião do Sendero Luminoso.
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