Ao participar da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta terça-feira (9) que o país está “muito aquém do que é feito nas redes de direita”. O tema do evento é Ciência para um Futuro Sustentável e Inclusivo: para um Novo Contrato Social com a Natureza.
“Estamos muito aquém. Sim, é uma guerra – e nem sei se a guerra é a melhor forma de combatê-la. Mas o que vejo é que estamos muito atrás, pela velocidade com que se espalha. E não só isso: você divulga informações falsas e criminosas de forma criminosa. Não é nada neutro. São coisas orquestradas”, avaliou Nísia.
No seu discurso, a ministra alertou para o que chamou de estratégia de “ouvir vários pontos de vista sobre o assunto”. “Nós mesmos muitas vezes damos espaço para legitimar discursos que não deveriam ter lugar – pelo menos não em nossos ambientes. Como tiveram na CPI da Covid. Como se tudo fosse igual”, disse ela, referindo-se aos debates sobre a pandemia de covid-19 no Congresso Nacional.
“Isso não significa colocar todos os conhecimentos, bobagens, loucuras e loucuras no mesmo nível. Não é possível. Não podemos aceitar isto. E muitas vezes, nós fazemos. Tem que haver validação e, para isso, a ciência tem processos históricos de validação”, acrescentou.
Nísia disse ainda que todas as dificuldades enfrentadas pelo país com a vacinação não devem ser atribuídas à desinformação. “Sim, podemos creditar em grande parte o negacionismo porque, como há um governo negacionista, não há campanha, não há esclarecimento, a questão da vacinação e outras questões ligadas ao cuidado são prioritárias”.
O ministro defendeu outras estratégias além do combate à desinformação, como facilitar o acesso às vacinas através de unidades de saúde com funcionamento em horário alargado, além de trabalhar no que a ciência define como “percepção de risco” como factor fundamental para ampliar a cobertura vacinal. “Com a eliminação da circulação do vírus da poliomielite, por exemplo, que voltou a ser uma ameaça, a percepção de risco [para a doença] ficou menor”, explicou.
Outra estratégia destacada por Nísia trata da vacinação nas escolas. “[A dose contra o] O HPV foi uma das vacinas mais atacadas. Uma vacina fundamental para prevenir o cancro do colo do útero e outros tipos de cancro, porque também devemos proteger os rapazes. [A vacinação nas escolas] Isso fez com que, pelo menos com a primeira dose, 80% das crianças e adolescentes fossem vacinados.”
“Tudo isso nos leva a pensar em estratégias diversificadas. Na saúde e nas outras políticas sociais, não devemos estar presos a uma estratégia”, concluiu Nísia.
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