Muitas pessoas só conseguem ler nas férias. As obrigações familiares, o trabalho e a tentação do celular acabam afastando os livros durante a maior parte do ano.
Portanto, quando sobra um tempinho, fica difícil escolher um título para aproveitar. É melhor ler aquele autor clássico ou um livro leve para distrair as coisas? Mergulhar na fantasia ou aproveitar para aprender um pouco mais sobre temas atuais?
Para ajudar quem vai tirar alguns dias de folga em julho a decidir qual livro levar na mala, a Globo fez uma lista com sugestões de leitura para adultos, jovens e crianças. Ele tem algo para todos. Confira:
Para adultos
“O Ouvidor do Brasil”, de Ruy Castro (Companhia das Letras)
Não sabe se está preparado para encarar as quase 600 páginas de “Chega de saudade”, livro em que Ruy Castro reconstruiu a vida boêmia e cultural do Rio na era da Bossa Nova? Que tal começar com um livro mais curto (232 páginas), que aborda o mesmo tema e ainda tem o frescor da crônica? Em “O Ouvidor do Brasil”, o jornalista, biógrafo e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) reúne 99 crônicas sobre Tom Jobim, combinando informações e histórias de bastidores (algumas inéditas) para revelar o lado humano de o autor de “Garota de Ipanema”, que também foi um crítico contundente. Juntas, as crônicas formam uma espécie de perfil fragmentado de um dos maiores artistas brasileiros, que já cultivava uma consciência ecológica muito antes de a crise ambiental entrar em pauta.
“Amor segundo Buenos Aires”, de Fernando Scheller (HarperCollins)
Ninguém discorda que Buenos Aires é sempre um bom destino de férias. E quais livros podem ser guias turísticos valiosos. “Amor segundo Buenos Aires” conta a história de Hugo, que se mudou para a capital argentina por amor —mas a paixão acabou num domingo, em plena Feira de San Telmo. Mas ele não vai embora, fica em Buenos Aires e continua sua vida com a ajuda dos amigos Eduardo e Carolina e do próprio pai, que se muda para lá para ficar mais perto do filho. Cada capítulo é narrado do ponto de vista de diferentes personagens, em cenários como uma praça onde acontece uma aula de tango e charmosos cafés portenhos. O verdadeiro protagonista da história, porém, é o amor. A nova edição que acaba de chegar às livrarias contém cinco novos capítulos.
“Catedrais”, de Claudia Piñeiro (Primavera)
Férias combinam bem com romances policiais – até o filósofo Jean-Paul Sartre gostava de lê-los quando estava de folga do trabalho. “Catedrais”, da argentina Claudia Piñeiro é uma policial diferente —feminista. No centro do romance está a morte nunca solucionada de um adolescente, ocorrida três décadas antes, em um bairro tranquilo. Atingido por um câncer terminal, o pai da menina decide desvendar o mistério de uma vez por todas. O livro, que encantou o cineasta espanhol Pedro Almodóvar (“me deixou totalmente envolvido durante três dias”) também trata de um problema grave, o aborto clandestino. “Catedrais” foi publicado na Argentina em 2018, antes da legalização do aborto no país.
“A geração ansiosa”, de Jonathan Haidt (Companhia das Letras)
Não há dúvida de que a ansiedade é um dos males do nosso tempo – nem mesmo os jovens escapam dela. Desde o início da última década, os índices de depressão, ansiedade e transtornos mentais em crianças e adolescentes têm crescido de forma alarmante. Neste livro, o psicólogo social americano Jonathan Haidt investiga as causas desta epidemia e defende uma infância longe das telas. Segundo o autor, a “infância lúdica” foi substituída pela “infância baseada no celular”. A hiperconectividade alterou o desenvolvimento neurológico e social dos jovens e causou privação de sono, comportamentos antissociais, atenção fragmentada e dependência. Nem tudo está perdido, no entanto. Haidt mostra como pais, professores, escolas, empresas de tecnologia e governos podem reverter este cenário dramático. “A Geração Ansiosa” chega às livrarias na semana de 8 de julho.
“Diários”, de Franz Kafka (No entanto)
No dia 3 de julho completou-se um século desde a morte de Kafka, um dos maiores escritores do século XX, cuja obra permanece inegavelmente viva. Kafka é um daqueles autores que prometemos que ainda teremos tempo para ler. Por que não aproveitar as férias para levar esse projeto adiante? Se não quiser começar com títulos mais óbvios, como “A Metamorfose” ou “O Processo”, você pode experimentar os diários do escritor. Escritos entre 1909 e 1923, os verbetes dão acesso a outro Kafka, demasiado humano, que teve uma relação tempestuosa com a sua ascendência judaica, passeava por Praga, ia ao teatro, comentava a guerra e procurava por si mesmo. Não é nenhuma surpresa que trechos de seus escritos íntimos frequentemente se tornem virais nas redes sociais.
Para pessoas jovens
“Dark Matter” de Blake Crouch (Intrínseco)
Em maio, a série “Dark Matter”, com Alice Braga, estreou no Apple TV+. Se você tem curiosidade para ver, mas prefere passar as férias lendo em vez de assistir séries compulsivamente, vale a pena dar uma chance ao livro que inspirou a produção. O romance do americano Blake Crouch faz uma pergunta difícil: “Você está feliz com a vida que tem?” Essas são as últimas palavras que Jason Dessen ouve antes de acordar em um laboratório, amarrado a uma maca. Depois, ele é levado até uma fábrica, onde é recebido por um estranho que o acolhe. O mundo não é mais o mesmo. Sua esposa não é mais sua esposa, ele não tem mais filhos e se vê transformado em um gênio da física quântica. É tudo um sonho? Como recuperar a vida antiga, aquela que ele não sabia se o fazia feliz? O romance, que já vendeu milhões de exemplares em todo o mundo, também introduz alguns conceitos científicos, como a famosa caixa do Gato de Schrödinger.
“Assistente de Vilão”, de Isabela Sampaio (Alt)
Descrita como uma mistura das séries “Once Upon a Time” e “The Office”, “Villain’s Assistant” fez sucesso no TikTok com uma trama inusitada. Um vilão famoso procura um assistente leal e confiável que possa cuidar das rotinas do escritório e ajudar sua equipe a criar o caos e o terror. Evie Sager aceita o trabalho. Ela sabe que realmente não se encaixa no papel, mas tem uma família para sustentar. Mas suas novas obrigações profissionais não são o único problema que ela enfrenta. Evie começa a gostar do chefe, que, sim, é temperamental e assustador, mas também é inegavelmente bonito. E mais: ela suspeita que alguém esteja tentando sabotá-la. “Assistente de Vilão” é representativo de um gênero que tem conquistado os leitores mais jovens, “romantasia”, que combina histórias de amor e os melhores ingredientes da literatura de fantasia.
“Verão com lenço vermelho”, de Elena Malíssova e Katerina Silvánova (Próximo)
“Red Scarf Summer” foi proibido na Rússia. A razão? Conta uma história de amor entre dois meninos na década de 1980, ainda durante a União Soviética. Anos depois da queda do Muro de Berlim e do colapso soviético, Iura relembra um acampamento de verão em que participou de um clube de teatro, inventou histórias para assustar os mais jovens, andou de barco e conheceu um certinho, inteligente e educado chamado Volodya. Naquele verão, ele experimentou seu primeiro amor. “Verão lenço vermelho” era popular no TikTok.
“Recalculando a rota”, por Aimee Oliveira (Plataforma21)
Vivian é uma garota mal-humorada da periferia do Rio. Cresceu em uma família de mulheres fortes, é estudiosa e gosta de samba. Seu sonho é abrir uma clínica de estética. Porém, se não bastassem os desafios diários, ela se depara com outro problema (que ela achava já ser coisa do passado): seu ex-namorado, Vinícius, sofre um acidente de moto e é acolhido pela família. enquanto se recupera. Após o rompimento, Vivian passou a odiar o ex. A proximidade deles obriga os dois a investigar se ainda têm sentimentos românticos um pelo outro. “Recalculando a rota” segue uma fórmula romântica de sucesso: “inimigo dos amantes”, aquela em que duas pessoas que aparentemente não se suportam descobrem que não é só o ódio que as une.
Para crianças
“Dona Ivone Lara e o sonho do samba e do encantamento”, de Jacques Fux (Companhia das Letrinhas)
Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a escrever um samba-enredo. Porém, a eterna sambista trabalhou a vida inteira na área da saúde e só conseguiu se dedicar exclusivamente à carreira artística após se aposentar. Ricamente ilustrada por Flávia Borges, esta biografia apresenta às crianças, de forma leve e divertida, a história do sambista forte, inteligente e determinado que rompeu barreiras e deixou uma marca inconfundível na cultura popular brasileira.
“O caminho para a casa de barro”, de Xadalu Tupã Jekupé e Rita Carelli (Baião)
Xadalu Tupã Jekupé é um artista indígena de Alegrete (RS). O livro mostra como ele viu o território de sua infância se transformar: a terra ficou apertada, os peixes desapareceram do rio e a caça desapareceu da floresta. Xadulu teve que sair e encontrar outro lugar para viver e sonhar. Acabou em Porto Alegre. Até hoje não para de andar por aí, mas sempre se sente em casa, pois seu corpo é sua aldeia. “O caminho para a casa de barro” é uma história emocionante que ajudará as crianças a refletirem sobre pertencimento, ancestralidade e o que significa ser indígena.
“O menino que conheceu o fim da noite”, de Míriam Leitão (Roquinho)
Quem lê as colunas de Míriam Leitão na Globo sabe que o meio ambiente e o cuidado com os povos indígenas estão entre as maiores preocupações da jornalista. Este compromisso também dá o tom para o seu mais recente livro infantil, “O menino que conhecia o fim da noite”. O livro começa numa “noite maior que as outras”, em que um menino anuncia aos pais que a escuridão já estava passando e um clarão vinha atrás. Os pais não entendem nada, mas são convencidos pelos filhos (o “menino maior” e o “meninão”) a sair noite adentro em busca de luz. No caminho, eles encontram uma nuvem que desabafa: ficou tão fina que não pode mais chover. “O menino que conheceu o fim da noite” reserva lugar de destaque aos indígenas, cuja sabedoria ajuda a família a superar a escuridão.
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