O governador de Goiás, Ronaldo Caiadocriticou esta quarta-feira o plano do governo Luiz Inácio Lula da Silva para segurança pública.
Caiado afirmou que medidas como a utilização de câmaras corporais pelos agentes policiais estão “desligadas da realidade” e que o governo deve investir em parcerias internacionais para combater o crime organizado.
— O que eu vi foi isso mesmo, sinto muito, mas hoje está desconectado da realidade quando se pensa em segurança pública. O governo federal tem a iniciativa de coibir crimes que são de competência do governo federal. Lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, comércio de armas, tudo isso. — afirmou Caiado no Palácio do Planalto.
— E para você preparar tudo isso, ao invés de querer interferir na política de Brasília para dizer o que cada estado tem que fazer, você deveria se preocupar em fazer acordos internacionais com os países que fazem fronteira conosco para que você possa realizar combates capazes de ter consequências reais para o tráfico de drogas e a criminalidade — afirmou o governador.
Recentemente, o ministro da Justiça e Segurança Pública enviou ao Palácio do Planalto um texto chamado “PEC da Segurança Pública”, uma aposta do governo para buscar liderança no combate ao crime e críticas frias em uma área dominada pela oposição.
A iniciativa altera a Constituição para aumentar a prerrogativa da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal no combate às milícias, à máfia do Jogo do Bicho e às facções criminosas.
Além disso, a redação inicial inclui na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) nos mesmos moldes do SUS (Sistema Único de Saúde). Na terça, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que terá dificuldades para aprovar a PEC.
Para ter validade, o texto precisará ter aprovação de pelo menos três quintos da Câmara e do Senado. O assunto é árido para o governo e confortável para a oposição, que lidera os debates sobre o endurecimento da criminalidade no processo legislativo.
Caiado afirmou que o governo federal poderia “procurar situações para ampliar a inteligência” em parceria com a segurança estadual, mas não deveria “dizer” aos estados o que fazer. Caiado citou a recente orientação sobre o uso de câmeras de segurança nos uniformes dos policiais e a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, estipulada em até 40g.
— Você poderia buscar situações de ampliação da inteligência, criar satélites capazes de identificar a transação entre a fronteira seca e a região amazônica. Você poderia ter drones de longo alcance, poderia ter uma política que realmente voltasse para a área de parceria com a segurança pública nos estados, com inteligência cada vez mais ampliada da PF e da PRF, que é o que fazemos em Goiás. Agora, a ação federal, não é dizer para você: olha, amanhã eu quero que você coloque o policial com a câmera. Isso cabe a cada governador, não é uma prerrogativa federal. Agora você tem que ter a câmera e a balança. Mais de 40g estão presos. Menos de 40g é autorizado. O que levará o Brasil a uma situação como essa? Essa é uma prerrogativa do Estado”, afirmou.
As ações foram criticadas por governadores. Com isso, Lula antecipou a estratégia do governo para implementar a PEC: colocar os seis ministros que já foram governadores na mesa de discussão para debater o texto e possíveis mudanças. Por enquanto, nenhum governador da base saiu em defesa da ideia, mas a oposição já reclamou.
Na prática, com a nova legislação, o governo federal teria à sua disposição uma Polícia Judiciária (a PF) e uma Polícia Operacional (a PRF) com o objetivo de enfrentar grupos criminosos que atuam em diferentes estados e países. Atualmente, a PF só pode atuar em casos relacionados à lavagem de dinheiro ou ao tráfico internacional de drogas, mas passaria a investigar crimes “cometidos por organizações criminosas e milícias privadas”. A PRF teria a função de patrulhar, além de rodovias federais, hidrovias e ferrovias.
O texto em fase de finalização daria novas condições para a PF investigar negócios imobiliários, redes de postos de gasolina e licitações municipais e estaduais que têm sido utilizadas por milícias e facções criminosas.
Uma medida que poderia ajudar a atrair governadores e parlamentares é a que evita o contingenciamento de gastos do Fundo Nacional de Segurança Pública, que está em R$ 2,7 bilhões. Isso está em lei, mas ganharia mais força e estabilidade com a previsão constitucional.
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