Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – Depois de ultrapassar a barreira dos 5,70 reais durante o dia, a taxa à vista desacelerou seus ganhos na tarde desta terça-feira em meio a rumores nas mesas de operações de que o Banco Central estaria consultando tesourarias de bancos sobre uma possível intervenção no mercado de câmbio.
Mesmo assim, a moeda norte-americana à vista encerrou a sessão com alta de 0,22%, cotada a 5,6665 reais na venda. Este é o maior valor de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando encerrou em 5,6723 reais. Em 2024, a moeda já terá valorização de 16,8%.
Às 17h18, na B3 (BVMF:) o contrato de primeiro vencimento subia 0,10%, a 5,6805 reais na venda.
Pela manhã, antes mesmo da abertura do mercado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista à Rádio Sociedade, de Salvador, que faria “alguma coisa” em relação à recente alta do dólar frente ao real, evitando detalhar o que medida será tomada “porque senão estarei alertando meus adversários”.
Lula afirmou que atualmente há um ataque especulativo ao real, acrescentando que retornará a Brasília na quarta-feira e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar. Ele também voltou a criticar o BC, dizendo que a autarquia não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.
O discurso de Lula começou a pesar nos negócios ao longo da manhã e a cotação do dólar ganhou força. Profissionais de mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerou temores – em especial, a possibilidade de utilização do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para conter a alta da moeda norte-americana.
“A cláusula do IOF tem efeito contrário, aumentando a fuga de capitais. Cada vez que o governo pensa em usar o imposto, o que acontece é a saída de capitais para outros países, para paraísos fiscais”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou no final da manhã que não há possibilidade de o governo alterar o IOF. Segundo ele, a melhor forma de conter a desvalorização do real é melhorar a comunicação sobre o quadro fiscal e a autonomia do BC.
Apesar da negação de Haddad sobre o IOF, o dólar ganhou força e renovou altas durante a tarde, com profissionais citando a ativação de ordens de stop loss em alguns pontos, o que aumentou o impulso de alta. No pico do dia, às 14h52, o dólar à vista chegou a 5,7025.
“O BC intervém no câmbio, não o Ministério da Fazenda”, comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora, no início da tarde. “O que o presidente Lula pode fazer sobre o câmbio é tranquilizar o mercado, dizendo que vai cortar gastos. Quando o mercado acredita que o problema é de credibilidade, ações como a mudança do IOF são momentâneas”, acrescentou.
Na reta final dos negócios, o dólar perdeu força e até cedeu frente ao real, com profissionais do mercado citando rumores de que o BC estaria consultando tesourarias de bancos para avaliar uma possível operação cambial.
Consultas desse tipo são comuns em momentos de maior estresse, como o atual, para que o BC possa medir o apetite do mercado por dólares à vista ou contratos de swap. A instituição tem repetido que só intervirá no câmbio, promovendo leilões de novas moedas, caso perceba disfuncionalidades.
Às 17h15, o índice – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis moedas – caía 0,15%, para 105,680.
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