Decreto publicado nesta segunda-feira (1º) em Diário Oficial da Argentina converte a agência pública de notícias Télam em agência estatal de publicidade e propaganda. A publicação é assinada pelo presidente argentino Javier Milei.
Segundo o texto, a nova agência estatal de publicidade será responsável “pelo desenvolvimento, produção, comercialização e distribuição de material publicitário nacional e/ou internacional, tanto na Argentina como no exterior”.
A publicação formaliza o fechamento da Télam, anunciado pelo governo argentino em março. Na época, Milei argumentou que a agência pública de notícias estava sendo usada “como meio de propaganda kirchnerista”, ao se referir ao principal movimento de oposição da Argentina, associado aos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner.
Em fevereiro, Milei interveio em todos os meios de comunicação públicos da Argentina, substituindo diretores por gestores nomeados diretamente pelo governo. A medida foi interpretada como um primeiro passo para a privatização ou extinção dos meios de comunicação públicos argentinos, pois esta era uma das promessas de campanha do presidente ultraliberal.
No último sábado (29), o porta-voz da Presidência argentina, Manuel Adorni, já havia postado em seu perfil na rede social X: “O Télam como o conhecíamos deixou de existir. Fim”.
O texto acompanhava o print de um trecho do decreto que seria publicado no início da semana. Quem tenta acessar a agência pública de notícias encontra a mensagem “página em reconstrução”.
Reações
O Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBA) e a Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (Fatpren), através de suas redes sociais, expressaram apoio ao Télam e à mídia pública. “Continuamos nossa luta”, disse um publicar retuitado por ambas as entidades no X.
Em seu perfil privado, a secretária-geral da Fatpren, Carla Gaudensi, escreveu: “A Télam não fecha. Defenderemos não só os trabalhadores da agência, mas também todo o povo argentino, todas as empresas estatais, os bens públicos e a soberania do nosso país”.
“A agência de notícias Télam possui um profissionalismo de qualidade, demonstrado por cada meio de comunicação privado ao utilizar seus serviços. Portanto, o seu encerramento não é apenas ilegal, mas também ilegítimo e um ataque a todo o sistema mediático, ao federalismo e ao pluralismo”, acrescentou.
Estrutura e história
Criada há 78 anos com o propósito de difundir informação, a Télam contava com mais de 700 funcionários e era a única agência de notícias com correspondentes em todas as províncias argentinas. Produzia cerca de 500 artigos e 200 fotografias por dia e mantinha um departamento de vídeo e rádio, além de perfis nas redes sociais.
Como agência pública de notícias, foi um dos parceiros da Agência Brasil no continente.
Ao longo das quase oito décadas da sua existência, a Télam enfrentou outras ameaças. Tentativas de encerramento, demissões ou reduções também ocorreram durante as presidências de Carlos Menem (1989-1999), Fernando de la Rúa (1999-2001) e Mauricio Macri (2015-2019).
A agência foi criada como uma empresa mista, formada por capital privado e estatal, com o objetivo de quebrar o duopólio existente em termos de informação entre as duas agências americanas que monopolizavam o mercado, a United Press International (UPI) e a Associated Press (AP). . .
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