A Rússia está acompanhando as eleições na França “de muito perto”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na segunda-feira. A declaração ocorreu um dia depois de o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) ter vencido o primeiro turno das eleições antecipadas, com 33% dos votos.
“Tendências que surgiram anteriormente em vários países europeus, incluindo a França, estão a ser confirmadas”, observou o porta-voz russo, cujo país tem sido repetidamente acusado de tentar interferir na política interna francesa, acrescentando:
“Acho que vamos esperar pelo segundo turno, embora a preferência dos eleitores franceses seja bastante clara para nós”.
Pouco mais de 65,5% dos franceses foram às urnas no domingo (a maior participação registada desde 1981) para escolher a nova composição da Assembleia Nacional, dissolvida pelo Presidente Emmanuel Macron após a eleição para o Parlamento Europeu.
O RN obteve uma vitória retumbante, enquanto a coligação governamental centrista de Macron ficou em terceiro lugar, com mais de 20%, superada pela esquerdista Nova Frente Ampla, que obteve 28%.
A principal questão para os próximos dias, que antecedem o segundo turno no dia 7, é se o RN conquistará maioria absoluta no Parlamento (289 cadeiras), o que permitiria ao partido formar governo e tornar o partido presidente, o jovem Jordan Bardella, 28 anos, primeiro-ministro. A maioria das pesquisas publicadas pelos institutos de pesquisa franceses mostraram que o RN não alcançaria a maioria absoluta, mas o resultado está longe de ser definitivo.
Numa declaração escrita, Macron apelou a uma unidade “ampla” contra a extrema direita na segunda volta.
Tendências confirmadas
Autoridades russas disseram que os resultados das eleições francesas seriam avaliados juntamente com os desenvolvimentos políticos em outros países, incluindo as próximas eleições nos EUA e no Reino Unido, onde o Partido Trabalhista, de tendência esquerdista, deverá encerrar 14 anos de governo. conservador de direita.
— Na semana passada, vimos (o presidente Joe) Biden perder o debate (contra Donald Trump). E agora o partido de Macron perdeu, ficando em terceiro lugar nas eleições legislativas — disse Vyacheslav Volodin, presidente da Duma russa. — Os chefes de Estado no poder sofrem derrotas retumbantes.
A mesma análise foi partilhada pelo Vice-Presidente do Conselho da Federação Russa, Câmara Alta do Parlamento, Konstantin Kosachev. Para o parlamentar, a primeira volta “acabou por ser um óbvio voto de desconfiança” em Macron e no seu percurso político, afirmando que os números de domingo são, em grande parte, uma forma de protesto.
“A preferência por forças radicais à direita e à esquerda é, acima de tudo, uma dura ‘reprimenda’ a Macron por parte dos eleitores que quebraram um recorde de participação eleitoral de 40 anos, o que é também um indicador do envolvimento do povo francês na escolha do política do país”, escreveu Kosachev no seu canal Telegram, citado pela agência de notícias russa Tass.
Outras autoridades russas e analistas políticos mostraram-se cépticos quanto ao facto de os acontecimentos indicarem uma mudança iminente nas relações entre o Kremlin e o Ocidente.
“Não devemos esperar uma melhoria nas relações entre Paris e Moscovo após as eleições legislativas”, disse Vladimir Dzhabarov, vice-presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros, segundo a imprensa local.
Para a rádio russa BFM. bovt, o analista Georgy Bovt afirmou ainda não esperar uma mudança significativa na relação entre os países, argumentando que “os líderes do RN já disseram que o apoio francês à Ucrânia”, contra a qual Moscovo está em guerra desde fevereiro de 2022, “seria não seja questionado.”
No início do mês passado, Macron anunciou que não só venderia aviões de guerra Mirage 2000-5 a Kiev, mas também treinaria pilotos ucranianos em França. O presidente, em fevereiro, também disse que não descartava o envio de tropas ocidentais para a Ucrânia, numa declaração que resultou num alerta da Rússia e na preocupação dos líderes ocidentais e da NATO.
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