Rua Santa Luzia, 782, sala 1, Centro, Rio de Janeiro. Esse era o endereço do sobrado onde morava João Francisco dos Santos, conhecido como Madame Satã, ícone LGBTQIA+ da resistência, artista, transformador que marcou a noite da Lapa. Neste endereço, em 18 de fevereiro de 1942, quarta-feira de cinzas, Satanás foi preso após uma denúncia de uma vizinha chateada com seu comportamento. Embora a ordem fosse arbitrária, ela foi condenada a um ano de prisão.
Praça Sete de Setembro, Centro, Belo Horizonte. Em março de 1961, uma patrulha da Delegacia Especializada de Repressão à Vadiagem prendeu um grupo de 27 desordeiros, entre “malandros, vagabundos, maconheiros, ladrões e malucos”. As chamadas pessoas anormais incorporadas ao grupo foram três travestis: Heddy Lamar, Rosângela e Stefana.
Avenida Augusto Maynard, São José, Aracaju. Este endereço abriga a sede do Cotinguiba Esporte Clube, palco do Baile Atrizes, idealizado pelo cronista e comunicador social João de Barros, popularmente conhecido como Barrinhos, personalidade de grande relevância para a cultura sergipana. Esse baile ganhou destaque pelas fantasias extravagantes usadas por foliões homossexuais e também por travestis.
Os três endereços fazem parte, junto com dezenas de outros locais já mapeados no país, do Mapa Interativo do Patrimônio Cultural LGBTI+, uma iniciativa da Museu Bajubáque é um museu virtual da história da população lésbica, gay, bissexual, trans, intersexo, queer, assexuada e outras.
O Mapa busca dar visibilidade aos territórios de resistência e espaços de memória da população LGBTQIA+. “Através dessa visualização da localização geográfica, a gente clica no ponto, no pin, e aí a história se abre para gente descobrir. Temos muito orgulho desse trabalho”, afirma a historiadora Rita Colaço, ativista LGBTQIA+ e CEO do Museu Bajubá.
Como o nome sugere, o projeto consiste em um mapa onde estão marcados os locais. Ao clicar em qualquer um desses locais, você poderá conhecer a história daquele território e por que ele é importante para a população LGBTQIA+.
Segundo Colaço, foram mapeadas cerca de 70 localidades em estados e municípios brasileiros como Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Brasília e Belo Horizonte. O mapa também mostra espaços em Berlim e no México, devido a parcerias com pesquisadores dessas localidades.
Os lugares mapeados são classificados, entre outros, como endereços memoráveis, espaços de sociabilidade, protestos e marchas, memória organizacional, memória traumática e censura.
“Precisamos de nos apropriar do nosso passado, do nosso património, dos nossos registos, dos nossos vestígios, das nossas coleções, reverenciá-los, orgulhar-nos deles e lutar para que sejam salvaguardados, para que sejam restaurados, para que sejam preservados”, argumenta Colaço.
Qualquer pessoa pode fazer sugestões para incluir locais no Mapa. Basta clicar no símbolo + no topo do mapa, à direita, e compartilhar informações sobre locais que podem ser ponto de encontro, monumentos, estabelecimentos ou qualquer outro local que tenha marcado a história e a cultura LGBTQIA+. É necessário fornecer informações detalhadas e precisas, citando fontes.
O Mapa, que já pode ser consultado on-linena página Museu Bajubá será lançado oficialmente no dia 6 de julho, às 15h, em debate virtual sobre canal do Youtube da organização.
*Com informações da Agência Brasil
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